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Adieu Béjart...

Augsuto Valente22 de novembro de 2007

Morte do coreógrafo octogenário francês em Lausanne encerra um capítulo da dança moderna. Admiradores de Béjart louvam a arte de revolucionar o balé sem destruir suas bases clássicas.

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Béjart ao completar 80 anos de idadeFoto: AP

O coreógrafo francês Maurice Béjart faleceu nesta quinta-feira (22/11) no hospital universitário de Lausanne, Suíça, aos 80 anos de idade. Com as mais de cem peças que criou, ele revolucionou o balé clássico e conta entre os mais importantes coreógrafos de todo o mundo.

Apesar de estar há anos confinado à cadeira de rodas, devido a uma severa doença nos quadris, ele trabalhou até o fim com seu Béjart Ballet Lausanne.

A estréia de sua última criação – A volta ao mundo em 80 minutos – estava prevista para 1º de janeiro de 2008, dia de seu 81º aniversário, em Paris. Entretanto complicações cardíacas e renais o forçaram a ser hospitalizado.

Trocando o tutu pelo jeans

Uma triunfal versão da Sagração da Primavera (música de Igor Stravinsky), em 1959, deslanchou a carreira internacional do coreógrafo, então com 32 anos de idade. Béjart iniciava aí uma rebelião contra o tédio do balé clássico, visando renovar a dança européia.

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Coreografia de Maurice BéjartFoto: DW-TV

A revolução béjartiana passa também pelos figurinos. Em vez de esvoaçantes tutus de gaze, ele coloca seus dançarinos em cena de jeans e calças de malha. Já em 1960 cria em Bruxelas a companhia Ballet du XXe Siècle. Sua meta é a criação de um "teatro total", onde texto, música, dança e encenação confluíssem num gesamtkunstwerk.

A passagem da companhia de Bruxelas para o Béjart Ballet de Lausanne, em 1987, se dá praticamente sem solução de continuidade. Cinco anos mais tarde, o coreógrafo decide reduzir o porte da companhia a cerca de 30 bailarinos, "para reencontrar a essência do intérprete".

Marcante foi também sua atividade como pedagogo. Em 1970 fundou em Bruxelas a Escola Mudra, em 1977 a Mudra Afrique em Dacar (sete anos mais tarde ele se converteria ao islamismo). Por fim, criada em 1992, a escola-ateliê Rudra de Lausanne é até hoje uma das mais conceituadas instituições de dança do mundo ocidental.

Admiração dos colegas

A morte de Maurice Béjart despertou consternação no mundo da dança. John Neumeier, desde 1973 diretor artístico do Balé de Hamburgo, declarou: "Ele era um grande amigo meu, com o qual me identificava muito. Pessoalmente, sentirei sua falta para sempre".

Segundo o norte-americano, Béjart foi essencial para a redefinição do balé, conquistando-lhe um novo público "por orientar [o balé] numa direção revolucionária, sem destruir as raízes clássicas".

Segundo o coreógrafo Heinz Spoerli, sediado em Basiléia, com Béjart a Suíça não perdeu apenas uma personalidade marcante, como também um embaixador. Seu maior mérito foi enriquecer o balé clássico com elementos inovadores. Entre suas criações mais significativas, Spoerli citou o Bolero (sobre música de Maurice Ravel), Symphonie pour un homme seul e Le voyage.

Para o diretor do Staatballett Berlin, Vladimir Malakhov, foi-se "um dos maiores coreógrafos do mundo". "Ele criou seu próprio estilo em relação à obra de arte total, a música, o sentimento e a expressão", acrescentou, prometendo que sua companhia "cuidará com esmero" das obras béjartianas que mantém em repertório.

Revolução sem destruição?

Os experimentos do coreógrafo francês, contudo, não foram sempre celebrados. Seu emprego de obras musicais contemporâneas – como as de Pierre Boulez, Iannis Xenakis ou Karlheinz Stockhausen – causou veementes protestos, em especial entre os baletômanos parisienses.

Já outros o acusavam de uma abordagem conservadora demais, de sacudir apenas superficialmente o proverbial "tédio do balé clássico". Também para o venerado Maurice Béjart, o ato de equilíbrio entre o revolucionar e o não-destruir teve um preço, nem que haja sido na forma de vaias e assobios.