Copa do Brasil
1 de junho de 2010Por ser realizado em um um país verde por natureza, o Mundial de Futebol do Brasil em 2014 tem tudo para ser uma nova Copa Verde, seguindo à da Alemanha em 2006, pioneira nesse sentido. No entanto, problemas de financiamento, a falta de especialização no setor de tecnologia ambiental e atrasos no cronograma de organização podem se tornar obstáculos a essa meta.
No terceiro e último dia do Encontro Econômico Brasil-Alemanha em Munique, nesta terça-feira (01/06), um dos painéis dedicou-se especificamente aos estádios, ou seja, às concepções de segurança, sustentabilidade, rentabilidade e financiamento oferecidas por empresas alemãs.
Segundo Ralf Amann, do escritório de arquitetura GMP do Brasil, o país da Copa de 2014 poderá ter o primeiro estádio de consumo energético zero no continente, caso o governo federal decida instalar células fotovoltaicas no Estádio Nacional de Brasília. Uma decisão difícil, já que esse sistema exige um alto investimento e o Brasil dispõe de outras fontes de energia.
Além disso, a Alemanha tem soluções de tecnologia que não são produzidas no Brasil. Quanto a isso, Amann recomenda aos empresários alemães investir em dois filões: tribunas temporárias, coberturas móveis práticas e eficientes para gramados. Além disso, ele também sugere investimentos nas hospitality villages da Fifa.
O GMP é responsável pelos projetos dos estádios de Colônia e de Frankfurt, entre outros na Alemanha, além de ter concebido três dos estádios do Mundial na África do Sul: Nelson Mandela Bay, Greenpoint Cidade do Cabo e o Moses Mabhida de Durban. No Brasil, o escritório assinou os estádios de Brasília, Belo Horizonte e o do Morumbi, em São Paulo.
Respeito ao meio ambiente
Os projetos desenvolvidos pelo escritório de Amann no Brasil seguem a "meta verde", que é sugerida pela Fifa e respeita uma série de aspectos ecológicos. Entre outras coisas, a ideia é incentivar os torcedores a usar transporte coletivo, produzir a menor quantidade possível de lixo e economizar água e energia.
Nesse sentido, alguns estádios brasileiros já preveem, por exemplo, o armazenamento de água de chuva para abastecer os sanitários e irrigar os gramados, além de usarem bioetanol para iluminação e ar condicionado.
Helmut Gauges, do grupo de investimento KfW, divulgou a proposta Copa Solar 2014, que prevê um maior aproveitamento da energia solar no país.
Preocupação com a segurança
"Patrocínio não é só colocar logotipo na fachada", explica Josef Kumar Gross, do Grupo Allianz. O estádio Allianz Arena, de Munique, onde ocorreu este painel do encontro teuto-brasileiro, foi construído seguindo vários desses padrões. Apesar do frio e da garoa, os espectadores assistiram ao painel das arquibancadas, enrolados em cobertores. "Temos soluções para muitas coisas, menos para o frio em Munique", salientou.
O estádio do Bayern de Munique e do 1860 München, inaugurado em maio de 2005, tem 66 mil assentos e o maior estacionamento coberto da Europa, com 11 mil vagas. Foi o Centro de Tecnologia da Allianz que desenvolveu os padrões de prevenção de acidentes e segurança contra incêndio, agora também oferecidos ao Brasil.
O mesmo se aplica a soluções de comunicação e de aproveitamento dos estádios para diferentes tipos de evento. Gert van Iperen, CEO da Bosch Sistemas de Segurança, explicou que o esquema de segurança nos estádios, aeroportos e metrôs do Brasil seguirá as determinações da Fifa.
O sistema de segurança de sua empresa, instalado em oito estádios na Copa da África do Sul, inclui câmaras de vigilância e monitores nos estádios, além de sistemas inteligentes de identificação de pessoas. Ele também explicou que a tecnologia que possibilita à polícia o acesso a essas informações é fornecida apenas por empresas europeias.
Não apenas estádios
"Sustentabilidade é a palavra-chave hoje", disse Sérgio Földes Guimarães, diretor internacional do BNDES. Ele apresentou ao setor econômico alemão dois programas do BNDES, Pro Copa Turismo e Pro Copa Estádios, cuja meta é atrair investidores para a construção de estádios e hotéis para os megaeventos de 2014 e 2016 no Brasil. A ideia é incentivar o que ele denominou "edifícios verdes" inteligentes, com eficiência energética.
Um dos obstáculos para isso, a seu ver, são as restrições ao financiamento de equipamentos importados. "Seria bom se houvesse maior interesse pela instalação de fábricas de células fotovoltaicas no Brasil", acrescentou.
Amann desmente os boatos de que o Brasil estaria atrasado no cumprimento do cronograma da Copa. Ele lembra que os estádios devem ser concluídos em dezembro de 2012. "É certo que a Fifa exija o cumprimento de prazos, mas se virmos a África do Sul, tudo ficou pronto a tempo. Estou confiante de que no Brasil também dará certo".
João Borba Filho, da construtora Odebrecht, também contesta a crítica e explica que os projetos da maioria dos estádios estão praticamente concluídos. "O fato é que a Copa não é um evento global como a Olimpíada; por isso, precisa do financiamento de estados e municípios". Ele lembrou que esse processo é demorado. Primeiro, é preciso submeter os projetos à aprovação da Fifa e só depois é que vem o cáulculo financeiro, que permite às construtoras iniciar o projeto.
Borba Filho também salienta o aproveitamento dos estádios após a realização da Copa, como é o caso do que está sendo construído em Recife, que segue um exemplo holandês. "Em Amsterdã, foi construída uma arena fora da cidade, que trouxe uma infraestrutura a ser inserida no processo de urbanização. Também queremos isso no Brasil", disse ele. A construtora Odebrecht também é responsável pelo estádio de Salvador.
Autora: Roselaine Wandscheer
Revisão: Simone Lopes