Mulheres vivem mais do que homens, mas com saúde pior
5 de junho de 2024Mulheres tendem a sofrer com mais frequência de dor lombar, depressão e dores de cabeça. Homens, por outro lado, têm vidas mais curtas porque se envolvem em acidentes de trânsito com mais frequência e têm taxas mais altas de doenças cardiovasculares e, nos últimos anos, de covid-19 – ambas causas potenciais de morte prematura.
Essa é a conclusão de uma análise publicada na revista científica The Lancet Public Health. Os pesquisadores analisaram as diferenças entre os sexos na incidência das 20 principais causas de doença e morte, em todas as idades e regiões do mundo.
"Ao longo de suas vidas, as mulheres passarão mais tempo com a saúde debilitada, enquanto os homens sofrem de doenças que os matarão mais cedo", disse à DW Luisa Sorio Flor, uma das autoras do estudo.
A maioria das diferenças entre os sexos aparece na adolescência. Essa não é apenas a época em que as diferenças biológicas emergem, mas também um momento em que as normas de gênero começam a ter um impacto na vida, escreveram os pesquisadores.
"Não se trata apenas do corpo biológico em que você nasce. É a experiência de gênero do ambiente em que se vive que contribui para essas diferenças", disse à DW Sarah Hawkes, professora de saúde pública global na University College London e que não participou do estudo.
Para os fins deste artigo, usaremos as seguintes definições de sexo e gênero:
Sexo refere-se a atributos biológicos, como níveis de hormônio e anatomia sexual.
Gênero descreve papéis socialmente construídos, mas também pode representar uma distribuição desigual de poder em uma sociedade.
"Sabemos que há um preconceito nos sistemas de saúde, que diagnosticam mais facilmente as mulheres com transtornos mentais", pontua Sorio Flor, que também é professora assistente do Institute for Health Metrics and Evaluation, nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, é menos provável que os homens obtenham ajuda para problemas de saúde mental devido a percepções de normas masculinas que funcionam contra a busca ou obtenção de ajuda.
Mulheres com dor são levadas menos a sério
Os altos níveis de distúrbios musculoesqueléticos, como dor lombar, entre as mulheres são mais difíceis de explicar. Fatores biológicos, como o aumento da sensibilidade à dor devido à flutuação dos hormônios, diferenças no formato do esqueleto e o estresse físico da gravidez e do parto, podem ter um papel importante.
No entanto, estudos mostram que as mulheres com dor também são frequentemente ignoradas no consultório médico e mal tratadas quando procuram ajuda.
Um estudo recente mostrou que os profissionais de saúde de ambos os sexos eram menos propensos a oferecer apoio para a dor lombar quando a paciente era do sexo feminino. Outro sobre o motivo pelo qual as mulheres têm dor lombar constatou que elas geralmente estão em uma condição pior do que os homens quando iniciam um programa de reabilitação. Os autores sugeriram que poderia haver uma tripla carga em jogo: o trabalho, a manutenção da casa e os deveres de cuidado podem estar impedindo as mulheres de acessar a ajuda adequada.
Sem melhoria no atendimento às mulheres
Ao comparar os dados de 1990 a 2021, a equipe de Sorio Flor encontrou um padrão interessante: "Em várias condições, observamos taxas decrescentes ao longo do tempo, mas a diferença entre homens e mulheres permaneceu estável".
As condições que afetam desproporcionalmente as mulheres, como dor lombar ou transtornos depressivos, apresentaram uma redução muito menor ou quase nenhuma redução desde 1990 em comparação com as condições que afetam mais homens.
"Acho que tem havido uma tendência nos sistemas de saúde globais de equiparar a saúde da mulher à sua capacidade reprodutiva. Portanto, a saúde da mulher tem se concentrado no que seu útero está fazendo", disse Hawkes.
Como fechar a lacuna entre homens e mulheres
Um primeiro passo para fechar essa lacuna entre homens e mulheres é coletar dados melhores, disseram os pesquisadores. Porque a coleta consistente de dados de saúde categorizados por sexo e gênero ainda não é uma prática padrão.
A pandemia da covid-19 serve como um bom exemplo. Se tivéssemos dados mais específicos sobre sexo e gênero, as intervenções de saúde poderiam ter sido mais bem direcionadas, disse Hawkes.
"Nossos resultados são bastante claros", disse Sorio Flor. "As necessidades de saúde de homens e mulheres são simplesmente diferentes."
Os pesquisadores querem que os governos gastem mais dinheiro com saúde, especialmente com as condições que afetam mais as mulheres do que os homens. Segundo eles, questões como saúde mental continuam a ser subfinanciadas.