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Fadada ao fracasso?

13 de janeiro de 2012

A Liga Árabe se propôs a forçar o regime sírio a acabar com a repressão. Mas seus observadores enfrentam críticas, após um membro do grupo ter deixado a missão, dizendo que Assad comete crimes de guerra contra seu povo.

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Observadores da missão da Liga Árabe na Síria
Observadores da missão da Liga Árabe na SíriaFoto: picture-alliance/dpa

Numa de suas raras aparições públicas, o presidente sírio, Bashar al-Assad, juntou-se a milhares de apoiadores na última quarta-feira (11/01), quando falou a manifestantes pró-regime na capital, Damasco, que a "conspiração" contra o seu país iria fracassar.

Ele não fez nenhuma referência às alegações sobre crimes de guerra contra o povo sírio, feitas pelo observador argelino da Liga Árabe, Anwar Malek. O observador afirmou que estaria deixando seu cargo devido àquilo que viu e que a missão estaria se desmantelando.

"A missão foi uma farsa e os observadores foram enganados", disse Malek à emissora árabe Al Jazeera, em entrevista na última terça-feira. "Isso foi orquestrado pelo governo, que encenou a maior parte do que vimos, para evitar que a Liga Árabe tomasse medidas contra o regime".

Forma de ganhar tempo

Em sua opinião, os observadores da Liga Árabe deveriam monitorar a retirada das tropas do governo das cidades sírias e a libertação dos presos políticos. E, ainda mais importante, eles deveriam ajudar a cessar a violência entre o regime sírio e a oposição.

Até agora, os observadores não tiveram sucesso. Desde que eles chegaram à Síria, no final de dezembro, o regime continua reprimindo seus opositores. De acordo com estimativas das Nações Unidas, mais de 5 mil pessoas foram mortas desde que os protestos em massa começaram, em março de 2011.

Para Anja Zorob, professora do Centro de Política do Oriente Médio e África do Norte na Universidade Livre de Berlim, a falta de êxito dos observadores em conter a violência tem uma razão. "A liderança síria nunca levou a sério esta missão", disse Zorob, que vem acompanhando muito de perto a situação na Síria. "Assad vê esta missão como uma forma de ganhar tempo", explicou.

Fadada ao fracasso?

Essa é apenas uma das razões pela qual representantes do movimento de protesto na Síria declararam que a missão de observadores fracassou. O derramamento de sangue na Síria continua – e os observadores da Liga Árabe não podem fazer nada quanto a isso.

Vestindo jaquetas laranjas, observadores visitam feridos em Daraa
Vestindo jaquetas laranjas, observadores visitam feridos em DaraaFoto: picture-alliance/dpa

A oposição criticou que o relatório interino da Liga Árabe, apresentado no último domingo (08/01), é muito vago. Ela acusa os observadores de serem apenas um subterfúgio do regime Assad e de encobrirem a realidade.

"Os países da Liga Árabe estão certamente desacreditados entre os opositores", disse Ulrich Tilgner, correspondente da televisão suíça e especialista em Oriente Médio. Pois os Estados da Liga Árabe não agem de forma coesa. Contrariamente às ricas nações petrolíferas do Golfo Pérsico, que se opõem a Assad, países como o Sudão estão à procura de um acordo com o regime sírio.

"Os países do Golfo financiam em grande parte a oposição e lhe dão apoio na mídia", disse Tilgner. "Por outro lado, nem o Sudão nem os militares no Egito desejam uma rápida saída de Assad  – porque isso poderia ser um sinal do desenvolvimento da situação em seus próprios países", acrescentou o especialista.

Chefe da missão

A oposição também está descontente com o chefe da missão de observadores, o general sudanês Mohammed Ahmed al-Dabi, que no final de dezembro elogiou o regime Assad. A sua nomeação já havia sido duramente criticada, pois ele é considerado uma pessoa de confiança do presidente sudanês, Omar al-Bashir. O Tribunal Penal Internacional emitiu ordem de prisão contra Bashir, acusado de crimes de guerra e de genocídio na região sudanesa de Darfur.

General sudanês al-Dabi agrada sírios
General sudanês al-Dabi agrada síriosFoto: picture-alliance/dpa

Como chefe da missão árabe, Al-Dabi foi desde o início um candidato que agradava a todos: anteriormente, a Síria já havia rejeitado diversos representantes de outros países. Aparentemente, o regime em Damasco não pretendia aceitar ninguém com laços estreitos com países como a Arábia Saudita e Catar, que incentivaram sanções contra a Síria.

Improvável conclusão

O presidente Assad tira proveito das diferenças dentro da Liga Árabe de duas formas. Por um lado, ele parece não temer uma continuação da missão sob a chefia de Al-Dabi. Pelo outro, justamente países como o Sudão lhe dão a oportunidade de criticar a Liga Árabe. Em seu primeiro discurso público desde junho, Assad questionou no início desta semana como países, portadores eles próprios de imensos problemas, podem dar lições à Síria sobre democracia.

Faltando uma semana para que a missão apresente seu relatório, parece que a Liga Árabe não será capaz de finalizar seus objetivos. Para Zorob, isso não significa, necessariamente, que a missão tenha sido um fracasso.

"Talvez um 'fracasso' da missão e a constatação de que o governo sírio não cumpriu as condições estipuladas seja ainda a melhor alternativa", disse Zorob. As consequências desse cenário são, todavia, completamente desconhecidas.

Autora: Anne Allmeling (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer