Memória Memória
11 de junho de 2007O filósofo norte-americano Richard Rorty, falecido na última sexta-feira na Califórnia, foi relembrado pela imprensa alemã como o mais poético entre os pensadores contemporâneos.
"Esta grandiosa criatividade se deve ao espírito romântico do poeta, que já não mais se escondia por trás do filósofo científico", escreveu Jürgen Habermas na edição desta segunda-feira (11/06) do Süddeutsche Zeitung. "Esta criatividade se deve à incomparável habilidade retórica e à prosa impecável de um escritor que sempre voltava a chocar seus leitores com estratégias incomuns de representação, inesperados conceitos de oposição e novos vocabulários. A arte ensaística de Rorty se movia entre Friedrich Schlegel e o surrealismo", comparou o filósofo alemão.
Filosofia do acaso
O mérito de Rorty enfatizado pela opinião pública alemã foi sobretudo a coragem de desafiar os paradigmas de uma filosofia essencialista e apostar no significado da contingência, propondo tratar todas as abstrações e generalizações como produto do tempo e do acaso.
Rejeitando a missão filosófica da busca da verdade, Rorty preferia o diálogo aberto entre ciência, arte, filosofia e religião, enveredando pela indeterminação do discurso literário. Após assumir a cadeira de Filosofia na Universidade de Princeton (1961-1982), ele optou por ser professor de Ciências Humanas e Estudos Culturais na Universidade de Virginia (1982-1998) e depois professor emérito de Literatura Comparada na Universidade de Stanford (1998-2005).
Desconfiar de universalismos
"Acho que, em geral, histórias tristes sobre o sofrimento concreto costumam ser uma forma melhor de mudar o comportamento das pessoas do que a citação de regras universais", declarou Rorty numa entrevista à imprensa. Apesar de ser criticado por muitos como endossador da sociedade norte-americana, ele denunciou a invasão do Iraque pelos EUA, exigindo que a Europa passasse a assumir o papel de "polícia" do mundo.
Richard Rorty morreu de câncer na sexta-feira (08/06), em Palo Alto (Califórnia). Sua obras mais influentes são Philosophy and the Mirror of Nature (Filosofia e o Espelho da Natureza, 1979) e Contingency, Irony, and Solidarity (Contingência, Ironia e Solidariedade, 1989).
(sm)