Violência e morte de manifestante agravam tensão na Turquia
3 de junho de 2013A polícia turca reprimiu com gás lacrimogêneo e canhões de água nesta segunda-feira (03/06) os protestos contra o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan em Istambul, que chegaram a seu quarto dia seguido agravados pela morte de um manifestante e pelos mais de 1.400 feridos. A instabilidade já se reflete na economia, e a Bolsa de Valores de Istambul fechou com queda superior a 10%, a maior em um único dia na última década.
Os protestos surgiram de forma espontânea na última sexta-feira (31/05), após violenta repressão policial contra manifestantes que tentavam evitar o fechamento do parque Gezi, onde o governo tem a intenção de reconstruir um quartel militar histórico da época otomana que funcionaria como centro comercial.
A violência policial acabou desencadeando protestos generalizados por todo o país contra o que os manifestantes veem como um autoritarismo do governo e, em especial, de Erdogan. A Praça Taksim e o parque Gezi estão ocupados por manifestantes desde sábado. Eles acusam o primeiro-ministro de impor medidas autoritárias – como a lei seca – e pedem sua renúncia.
Erdogan minimizou os protestos contra seu governo, de base islamista e que enfrenta agora o maior desafio desde seu início, em 2002. Ele se recusou a falar em uma possível "Primavera Turca", termo que faz alusão à Primavera Árabe.
O primeiro-ministro deixou o país para dar prosseguimento a sua agenda, ao realizar uma visita oficial ao Marrocos, afirmando manter-se "firme" contra os protestos. Em declaração no aeroporto de Istambul antes da viagem, Erdogan minimizou os protestos afirmando que teriam sido organizados por "elementos extremistas", e ressaltou que os serviços de inteligência do país investigam a influência de forças estrangeiras.
Presidente pede calma
O presidente Abdullah Gül adotou uma postura mais cautelosa e fez um apelo à população para que mantenha a calma. "A democracia não significa apenas eleições", afirmou Gül, acrescentando que opiniões divergentes podem ser expressadas, mas deve haver respeito mútuo: "Vivemos em uma sociedade aberta."
A Associação de Médicos da Turquia denunciou a morte de um jovem de 20 anos, Mehmet Ayvalitas, quando um automóvel atingiu a multidão, ignorando os avisos dos manifestantes.
Grupos de direitos humanos denunciaram que os choques com a polícia deixaram mais de 2.300 feridos nos quatro dias de protestos. Apenas em Istambul, o número de feridos já ultrapassa os 1.400. Na capital Ancara e na cidade de Izmir, o total gira em torno de 800.
Já as estimativas do governo no domingo falavam em 58 civis e 115 membros das forças de segurança feridos, com manifestações registradas em 67 cidades. Mais de 1.700 prisões teriam sido efetuadas pelo país.
Em Washington, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que os EUA acompanham de perto os distúrbios na Turquia. Erdogan visitou recentemente a Casa Branca. "Estamos preocupados com uso excessivo da força policial", afirmou. Kerry, que pediu ainda moderação à polícia e clamou os dois lados a evitarem atos que possam provocar violência.