Morte de civis em Gaza gera onda de repúdio internacional
1 de março de 2024Mais de uma centena de pessoas teriam morrido nesta quinta-feira (29/02) na Cidade de Gaza, enquanto uma multidão avançava sobre um comboio de ajuda humanitária, informaram autoridades locais ligadas ao grupo terrorista Hamas. O incidente foi condenado por países da região e pela ONU.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza , ligado ao Hamas, afirmou que 112 pessoas morreram e ao menos 280 ficaram feridas.
Há relatos diferentes sobre o ocorrido, incluindo alguns que afirmam que soldados israelenses teriam atirado contra a multidão. Israel negou inicialmente essa versão e disse que muitas das vítimas morreram pisoteadas em meio ao caos.
Mais tarde, militares israelenses admitiram que seus soldados abriram fogo quando se sentiram ameaçados, mas afirmam que eles teriam atirado para o alto, e não na direção dos palestinos.
Os israelenses disseram que, ao chegar na Cidade de Gaza, o comboio de 30 caminhões se deparou com uma enorme multidão que tentou de maneira desorganizada se apossar da carga dos veículos. Segundo afirmaram, algumas pessoas morreram atropeladas quando os motoristas tentaram sair do local.
A Cidade de Gaza, no norte do enclave, foi um dos primeiros alvos dos ataques de Israel ao enclave deflagrados em reação aos atentados terroristas do Hamas em seu território, em 7 de outubro do ano passado.
Estima-se que mais de um milhão de palestinos foram forçados a se deslocar para o sul do território até uma região próxima da fronteira com o Egito, após um ultimato israelense que antecedeu a ofensiva terrestre. Contudo, centenas de milhares de pessoas ainda permanecem na cidade devastada e isolada.
Organizações humanitárias relatam que ultimamente se tornou quase impossível entregar mantimentos à maior parte da Faixa de Gaza em razão das dificuldades de coordenação junto aos militares israelenses, em meio às hostilidades e à desordem. A ONU estima que 2,3 milhões de palestinos enfrentam a fome, sendo que 80% deles deixaram seus locais de residência.
Cessar-fogo sob ameaça
O incidente gerou uma onda de condenações por parte dos países árabes, de Estados-membros da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.
O presidente americano, Joe Biden, se disse preocupado com possíveis entraves às negociações de um cessar-fogo, após quase cinco meses desde o início das hostilidades. Ele disse que os EUA avaliam "duas versões concorrentes sobre o que aconteceu".
A porta-voz da Casa Branca Olivia Dalton descreveu os últimos acontecimentos em Gaza como sendo "terrivelmente alarmantes". "Esse último incidente tem de ser investigado", sublinhou, acrescentando que o ocorrido "destaca a necessidade da ampliação da ajuda humanitária" aos palestinos.
O Hamas divulgou um comunicado nesta quinta-feira ameaçando abandonar as negociações que tratam da troca de reféns com Israel e do cessar-fogo, "às custas do sangue de nossa gente".
O Egito e a Jordânia condenaram o que chamaram de "crime vergonhoso" e "atentado brutal" contra as vidas de civis. Juntamente com a Arábia Saudita, as duas nações da região acusaram Israel de atacarem civis.
O secretário-geral da ONU também condenou o episódio, afirmou seu porta-voz nesta quinta-feira. "Não sabemos exatamente o que aconteceu. Mas, se essas pessoas morreram por fogo israelense, se foram esmagadas por multidões ou atropeladas por caminhões, são atos de violência, de certo modo, vinculados ao conflito”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, António Guterres.
"A vida está se esvaindo de Gaza"
"Consideramos que transformar em alvo os civis pacíficos que correm para coletar suas parcelas de ajuda é um crime vergonhoso e uma flagrante violação das leis internacionais", disse o governo egípcio.
As três nações fizeram uma apelo à comunidade internacional para que ações decisivas sejam tomadas de modo a pressionar Israel a agir dentro das leis internacionais e trabalhar para um cessar-fogo imediato.
O Egito e o Catar negociam uma trégua entre Israel e o Hamas, assim como a libertação dos reféns mantidos pelo grupo palestino. O objetivo é chegar a um acordo antes do Ramadã, o mês sagrado muçulmano, que se inicia em 10 de março.
O diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, considerou terrível o incidente e lamentou as mais de 30 mil mortes ocorridas no enclave desde o início do conflito. "A vida está se esvaindo de Gaza em uma velocidade terrível."
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá a portas fechadas para discutir o incidente.
Israelenses mortos na Cisjordânia
Também nesta quinta-feira, um atirador abriu fogo em um posto de combustíveis em Eli, na Cisjordânia ocupada, matando dois israelenses, segundo informou o Exército de Israel. Os militares disseram que um terrorista chegou até o local e atirou contra os dois homens, sendo eliminado logo em seguida.
O ataque ocorreu no mesmo posto de gasolina onde quatro israelenses foram mortos por três palestinos em junho do ano passado. Há poucos dias, três palestinos mataram um israelense e deixaram vários outros feridos, incluindo uma mulher grávida, próximo ao assentamento judaico Maale Adumim.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, a violência vem aumentando na Cisjordânia, com 403 mortes de palestinos por soldados israelenses ou colonos judaicos. Segundo o governo de Israel, ao menos 17 israelenses morreram no território.
rc (AFP, Reuters, AP)