Morre um dos mais importantes editores da Alemanha
28 de outubro de 2002Considerado o mais importante editor da Alemanha no pós-guerra, Siegfried Unseld faleceu no sábado (26), aos 78 anos, após meses gravemente enfermo. "A cultura em nosso país perde assim um de seus grandes representantes e mecenas", escreveu o chanceler federal Gerhard Schröder em telegrama de condolências à viúva, a escritora Ulla Berkéwicz. Para o presidente da Alemanha, Johannes Rau, Unseld determinou, de uma forma obstinada e muitas vezes polêmica, os caminhos da literatura do país.
Nascido em 1924, Unseld estudou filologia, filosofia e economia e doutorou-se, em 1951, com uma tese sobre Hermann Hesse. Foi o próprio Hesse que o recomendou ao editor Peter Suhrkamp, com quem ele começou a trabalhar em 1952. Quando o editor morreu, em 1959, Unseld assumiu a editora e manteve-se a sua frente durante mais de 50 anos.
Só parou de trabalhar alguns meses atrás, ao adoecer, tendo criado então uma fundação que levará adiante o trabalho editorial. Presidente é sua esposa, e o conselho editorial conta com nomes de peso como Hans Magnus Enzensberger e Jürgen Habermas.
Patriarca e mecenas
— Foi Unseld que cunhou a linha editorial da Suhrkamp, que se desenvolveu para um pequeno império, composto ainda das editoras Insel, Theaterverlag, Editora Judaica e a edition suhrkamp, uma linha especializada em livros científicos.Sem se curvar às modas literárias, Unseld era o editor que descobria talentos e os fomentava. Além das obras de Hesse, um dos pilares da editora, a Suhrkamp lançou e tornou conhecidos autores do porte de Peter Handke, Martin Walser e Uwe Johnson. Uma das últimas decisões tomadas ainda por Unseld, antes de se afastar dos negócios, foi a publicação do controvertido romance de Martin Walser, Der Tod eines Kritikers (A morte de um crítico), pelo qual o autor foi acusado de anti-semitismo. Dieter Schormann, presidente da Associação do Comércio Livreiro Alemão, refere-se a Unseld como "uma figura paterna" para muitos dos autores que ele editava.
O crítico Marcel Reich-Ranicki atribui a importância do editor ao fato de ter "percebido e reconhecido com precisão a atmosfera e a base da vida cultural na Alemanha e de logo ter exercido influência sobre ela".