Morre Jörg Immendorff
28 de maio de 2007O pintor alemão Jörg Immendorff faleceu aos 61 anos nesta segunda-feira (28/05), vítima de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença que leva à degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal.
O artista sofreu uma parada cardíaca na noite de domingo para segunda-feira em sua casa em Düsseldorf. Desde 2005, Immendorff dependia de respiração artificial para sobreviver e, nos últimos meses, não podia mais movimentar nem pernas nem braços, embora falasse normalmente e assim coordenasse seus assistentes a continuar pintando.
Sob a aura de Beuys
Nascido em 1945 em Bleckede, na Baixa Saxônia, Immendorff foi aluno de Joseph Beuys na Academia de Arte de Düsseldorf durante os anos 60. Mas o forte engajamento político do jovem de orientação maoísta e seus vários gestos dadaístas – como quando intitulou uma obra Hör auf zu malen! (Pára de pintar!) – levaram à sua expulsão. De 1996 até sua morte, ele próprio passou a lecionar na instituição, embora estivesse afastado no último ano.
Até o fim, Immendorff lidou abertamente com a doença. Além de financiar a pesquisa sobre a ELA no Hospital Universitário Charité, da Universidade Humboldt em Berlim, falou abertamente dos "surtos de medo" que a previsão médica de uma morte sofrida causara. Visivelmente abatido, levou até ao palco os sofrimentos causados pela degeneração nervosa ao lado do provocador diretor teatral Christoph Schlingensief.
Café Deutschland
Sua obra mais significativa e reproduzida é o ciclo Café Deutschland, dominado por grandes figuras humanas, a que deu início em 1978. Um dos temas centrais de sua obra era a divisão da Alemanha, da qual pintou diversas visões pessoais, expressas em cores fortes e figuras avantajadas.
Em 1997, foi consagrado com o mais bem-remunerado prêmio artístico do mundo, com um dote de 250 mil dólares, concedido pelo Museu de Arte Contemporânea (Marco) de Monterey, no México.
Em 2003, foi flagrado pela polícia com quantidade considerável de cocaína e diversas prostitutas num quarto de hotel de luxo em Düsseldorf, sendo obrigado a pagar uma alta multa e a cumprir pena de 11 meses em liberdade condicional. Durante o processo, admitiu ter consumido cocaína durante anos para aliviar o medo da morte.
Sua popularidade, no entanto, não diminuiu com o escândalo. Immendorff já era um dos queridos das revistas de celebridades muito antes da "encenação erótica", como seu advogado de defesa definiu a orgia.
Para esses jornais, Immendorff personificava – sem objeção de sua parte – todos os clichês do artista excêntrico: um boêmio exaltado, entre a genialidade presumida e a verdadeira instintividade, entre a sociedade de diversão e o trágico e previsível fim. Ao lado da mulher, a artista búlgara Oda Jaune-Immendorff, 34 anos mais jovem que ele, compareceu a inúmeras festas.
O ex-chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, cultivava uma amizade pessoal com o pintor, que várias vezes o acompanhou em viagens internacionais. Schröder definiu sua morte como uma grande perda para o mundo artístico. "Perdemos um dos maiores pintores da Alemanha."
Ainda em março, Immendorff entregara um retrato em ouro de Schröder para a galeria da Chancelaria Federal em sua última aparição em público. As inspirações para a obra, segundo ele, foram "respeito e amizade: para o premiê que impediu a intervenção da Alemanha no Iraque" e que, em sua opinião, muito fez pela arte no país.
Em seus trabalhos mais recentes, Immendorff tendia à estética surrealista. Figuras de pequeno porte dominavam pinturas enigmáticas: o motivo do macaco pintor, um chimpanzé empunhando um pincel, ironizava a própria atividade artística. (rr)