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#MoreThanMean e as ofensas a mulheres nas redes sociais

Astrid Prange1 de maio de 2016

Num vídeo, homens leem em voz alta para duas jornalistas alguns dos comentários que são postados para elas nas redes sociais. A campanha contra ofensas a mulheres logo viralizou.

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Foto: Just Not Sports podcast

Eles olham para o celular, ficam calados, respiram fundo. Passam a mão na testa, ficam em silêncio. Balançam a cabeça e olham para o lado. Estes homens sentem vergonha. Eles ficam vermelhos quando confrontados com os xingamentos que duas conhecidas repórteres esportivas recebem todos os dias.

Mas eles encaram a tarefa que lhes foi dada. Na cara delas, eles leem os comentários que elas recebem e não conseguem acreditar que haja pessoas que postem expressões tão sexistas, racistas e misóginas. Eles pedem desculpas pelos autores.

Esse vídeo, que encena uma espécie de apedrejamento verbal e virtual de duas mulheres, logo viralizou. Desde 25 de abril, ele foi visto mais de 3 milhões de vezes no Youtube e tornou conhecida a hashtag que o acompanha, #MoreThanMean (#MaisDoQueCruel).

O caso das duas jornalistas esportivas Julie Dicaro e Sarah Spain é só um exemplo dos comentários difamatórios que mulheres jornalistas recebem todos os dias na internet – uma tendência crescente em todo o mundo.

"Espero que seu cachorro seja atropelado", "tomara que o teu namorado te encha de porrada" e "tomara que você seja estuprada" estão entre os comentários mais leves que elas recebem. Os outros não são publicáveis.

"Trata-se de humilhar as mulheres, tanto no nível sexual como profissional", diz Rebecca Beerheide, presidente da Journalistinnenbund, uma associação alemã que fomenta o apoio mútuo entre as profissionais da imprensa alemã.

Segundo ela, reportagens, artigos e comentários assinados por mulheres costumam gerar reações mais virulentas do que os assinados por homens.

Para ela, há duas explicações para o fenômeno. "Por um lado, hoje é mais fácil espalhar preconceitos e difamações por causa das redes sociais. Antigamente era necessário escrever uma carta para o jornal ou a revista. Hoje é possível postar algo a qualquer hora do dia."

Além disso, ela afirma que a sociedade está regredindo em temas sociais que há muito eram considerados superados. "Há um enorme retrocesso, por exemplo em temas como aborto ou religião. Todas as pessoas são esclarecidas, mas a sociedade anda para trás", comenta.

Recentemente, o jornal britânico The Guardian mandou analisar cerca de 70 mil comentários que foram bloqueados no seu site. O resultado: entre os dez jornalistas mais xingados estavam oito mulheres e dois homens. Os homens eram negros.

A pesquisa foi a primeira a pôr em números uma impressão que jornalistas de todo o mundo já têm há muito tempo: textos de mulheres geram mais comentários cheios de ódio do que textos escritos por homens. E não importa o tema.

Veja como surgiu a #FirstTimeIWasCatcalled