UE em crise
17 de novembro de 2011O novo chefe de governo da Itália, Mario Monti, anunciou um severo, porém "justo" curso de contenção para o país, ao apresentar seu programa de governo no Senado em Roma nesta quinta-feira (17/11). Nas próximas semanas, ele avaliará a necessidade de novos pacotes de redução de gastos, de modo cumprir a meta de sanear o orçamento até 2013.
Segundo Monti, a "ausência de crescimento" anulou os esforços realizados no contexto dos anteriores pacotes de cortes. Agora, no entanto, os "sacrifícios" devem ser divididos com justiça: "Quanto mais justa for sua distribuição, mais eles serão aceitos", observou.
O premiê prometeu ainda engajar-se para reaquecer a economia de seu país, reconquistando assim a confiança dos investidores. Monti acrescentou que os três pilares de sua política serão: disciplina orçamentária, crescimento e justiça.
"Precisamos de medidas para que a economia seja menos emperrada, para possibilitar a fundação de novas empresas, tornar a administração mais eficiente e criar mais empregos para os jovens e as mulheres", disse. Monti pretende reduzir o imposto de renda, e em contrapartida elevar as taxações sobre consumo. As abrangentes reformas pretendidas abarcam também as áreas da aposentadoria e do mercado de trabalho.
O ex-comissário da União Europeia (UE) afirmou que a Itália se encontra numa situação de emergência, e que a Europa atravessa os tempos mais duros desde a Segunda Guerra Mundial. Ele disse não poder imaginar que a UE sobreviva um fracasso da moeda comum. "O futuro do euro depende do que a Itália fará nas próximas semanas", declarou.
Após apresentar seu programa de governo, Monti submete-se ao voto de confiança do Senado, e em seguida ao da Câmara dos Deputados. Estima-se que o economista de 68 anos passará por ambas as votações, sem problemas. Seu gabinete prestou juramento nesta quarta-feira, após Silvio Berlusconi haver renunciado no fim de semana, sob a pressão da crise italiana de endividamento.
Protestos na Itália e na Grécia
Em diversas partes da Itália houve protestos contra o novo governo, os quais culminaram em tumultos. Em Milão, Turim, Roma, Palermo e Bari milhares de pessoas foram às ruas.
Na metrópole financeira Milão, estudantes lançaram fogos de artifício contra a polícia, que os impedia de entrar na Universidade Bocconi. Dirigida por Mario Monti, a instituição se tornou símbolo do governo formado por tecnocratas. Também em outras cidades, foram alvo de protestos as universidades onde membros do novo gabinete italiano lecionam.
Os manifestantes de Milão atiraram ainda ovos e cédulas falsas de dólar contra a sede da associação bancária da Itália, bradando: "Não queremos um governo de bancos" e "O governo de Monti não é solução". Policiais arremeteram contra os manifestantes a golpes de cassetete.
Também em Atenas ocorreram nesta quinta-feira protestos contra os planos de cortes da nova liderança nacional. Na véspera, o governo sob o premiê Lucas Papademos fora aprovado pelo Parlamento grego. A ampla coalizão inclui nacionalistas de direita. Os cartazes dos manifestantes traziam dizeres como "abaixo o governo de socialistas, conservadores e fascistas" e "vamos botar todos eles para fora". Cerca de 7 mil policiais estiveram em alerta, para evitar arruaças durante as primeiras manifestações desde a posse de Papademos.
Pressão sobre Espanha e França
Em contraste, a nova situação política na Itália trouxe certo relaxamento aos mercados financeiros. Os rendimentos sobre os títulos públicos italianos com prazo de dez anos caíram para 6,961%, após terem atingido a taxa recorde de 7,5%, na segunda semana de novembro. Segundo corretores, o Banco Central Europeu (BCE) apoiou a recuperação, através da compra de títulos da dívida pública italiana.
A marca de 7% de rendimentos é considerada o limite máximo para o refinanciamento sustentável nos mercados de capital. E nesta quinta-feira os títulos espanhóis com prazo até 2022 chegaram a 6,9%, na última oferta antes das eleições do próximo domingo. Tanto a Espanha como a França encontram-se sob pressão financeira crescente, em meio à crise europeia de endividamento.
O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, advertiu sobre o perigo do alastramento da crise de endividamento economia adentro. "Temos que nos concentrar em coibir a ameaça dos efeitos de contágio sobre o setor bancário. Estes se dão devido ao grande peso dos créditos estatais da Eurozona junto aos bancos europeus. E, acima de tudo, precisamos evitar uma contaminação da economia real. Infelizmente já há indícios de que isso tenha ocorrido."
Por sua vez, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, acentuou que as inseguranças do mercado só poderão "ser suplantadas através de soluções políticas sólidas", e não a partir das ações do Banco Central Europeu. A chefe de governo aludia, assim, ao governo francês, que insiste numa ampliação do papel do BCE. Através de compras de títulos e outras interferências sobre os mercados financeiros, este se tornaria numa espécie de financiador estatal.
AV/rtr/afp/dpa
Revisão: Alexandre Schossler