Líbia
26 de agosto de 2011O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas defende o início de um processo a ser movido contra o ex-ditador líbio Muammar Kadafi. "Execuções e fuzilamentos são inadmissíveis tanto na guerra quanto em tempos de paz", afirmou o porta-voz da organização, Rupert Colville, nesta sexta-feira (26/08), em Genebra. Segundo ele, encontrar Kadafi vivo, para levá-lo a julgamento no Tribunal Penal Internacional de Haia, é "a melhor opção".
Cenas de violência
A Anistia Internacional (AI) denunciou que os discípulos de Kadafi mataram possivelmente mais de cem prisioneiros em campos militares do país. Testemunhas relataram cenas de extrema violência, ocorridas em dois campos próximos a Trípoli nas últimas terça e quarta-feira. As tropas partidárias de Kadafi jogaram explosivos e usaram armas de fogo para exterminar os prisioneiros, relataram as testemunhas.
Segundo informações fornecidas pela AI, aproximadamente160 prisioneiros tentavam fugir de um dos campos, depois que os seguranças avisaram que os portões estariam abertos. Ao cruzar os mesmos, no entanto, eles foram sendo fuzilados por outros soldados. Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas foram mortas durante o ocorrido. Até gora haviam sido encontrados apenas 23 sobreviventes. Em um segundo campo, cinco homens foram assassinados. A AI descreveu o incidente como "um desprezo abominável pela vida humana e pelos direitos humanos internacionais".
Missão da Otan
O governo alemão elogiou pela primeira vez oficialmente a missão da Otan na Líbia. O vice-premiê e líder do Partido Liberal, Philipp Rösler, declarou "nosso profundo respeito e agradecimento aos aliados, que contribuíram de forma decisiva para vencer as unidades assassinas de Kadafi".
O ministro revidou qualquer possibilidade de uma renúncia do atual ministro do Exterior e seu correligionário, Guido Westerwelle. O ministro creditou há pouco a vitória dos rebeldes líbios principalmente às sanções ao país, apoiadas pela Alemanha, tendo por isso recebido ácidas críticas dentro de seu partido, o que desencadeou sugestões de que ele deveria renunciar ao cargo.
"Africanos preocupados"
Para os chefes de Estado e de governo de países africanos nada há de mais sagrado que a soberania de seus países. A presença de tropas da Otan na Líbia gera, por isso, preocupação na região. Intelectuais africanos veem no fim do regime de Kadafi o "perigo de uma nova colonização".
Um abaixo-assinado de 200 artistas, cientistas e políticos africanos chama a França, os Estados Unidos e o Reino Unido de "países delinquentes". A iniciativa, intitulada "Africanos Preocupados", reúne, entre outros, nomes como o do escritor Wally Serote e de Ronnie Kasrils, ex-ministro sul-africano.
"Volta do imperialismo"
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, acusa a Otan de ter "abusado" da resolução da ONU, cuja meta é a proteção do povo líbio, para viabilizar uma troca de poder no país. O "plano africano" para a Líbia teria evitado a morte de muitos civis, afirma o professor de Ciências Políticas Chris Landsberg, um dos nomes que assina o documento. "O imperialismo está voltando com toda violência e brutalidade", reclamou a Liga Jovem do partido do governo ANC na África do Sul.
O vice-presidente sul-africano, Kgalema Motlanthe, está cogitando apoio à proposta de grupos de esquerda no país de processar a Otan no Tribunal Penal Internacional de Haia, sob a acusação de que a aliança militar teria desrespeitado os direitos humanos na Líbia.
O envolvimento da Otan nas operações dos rebeldes, que não foi confirmada por uma resolução da ONU, vai dificultar a partir de agora qualquer nova resolução da organização, acentuou Motlanthe. A África do Sul é, ao lado da Alemanha, entre outros, atual membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU.
"Vergonha"
Os veementes ataques contra a Otan desencadearam dentro da própria África do Sul uma série de críticas. "O apoio dos intelectuais a Kadafi é uma vergonha", afirmou o jornalista Tim Cohen. E a acusação de "colonização" grotesca, completou.
Para Cohen, os africanos estão, desta forma, se posicionando ao lado de um déspota. O governo sul-africano manteve por muito tempo uma ligação estreita com o regime de Kadafi, inclusive por parte do herói nacional e ex-presidente Nelson Mandela. A União Africana (UA) não reconhece o Conselho Nacional de Transição na Líbia como governo legítimo.
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Revisão: Carlos Albuquerque