Ministro alemão propõe nova ordem européia
9 de março de 2004O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, apresentou à imprensa nacional uma lição que diz ter tirado dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, na forma de proposta para uma nova ordem política européia. A União Européia teria se tornado um "projeto estratégico" e, para poder dominar os conflitos assimétricos, a ameaça mundial do terrorismo, a comunidade tem de agir em dimensões continentais, como fazem os Estados Unidos, Rússia ou China.
Na visão do político do Partido Verde, o projeto estratégico europeu deve implicar também uma integração da Turquia na União Européia. Isto teria importância tão grande numa nova ordem européia quanto a política externa e de segurança da UE, segundo o político mais popular da Alemanha. A Turquia é um Estado laico, embora mais de 97% de sua população seja muçulmana. A União Européia pretende decidir, no final de 2004, sobre um início das negociações para a integração de Ancara.
Idéia ultrapassada
- Com sua proposta de reordenamento da política européia, Fischer renega o antigo modelo de um núcleo europeu formado por um pequeno grupo de países em volta do eixo Alemanha-França, que ele próprio defendera numa palestra na Universidade Humboldt de Berlim, em maio de 2000. Naquela ocasião, o ministro sugeriu que alguns Estados deveriam, sob determinadas condições, preceder a integração política, que seria seguida progressivamente por outros países membros.Fischer havia chamado tal núcleo de "centro de gravidade" da UE e sugerido que este permanecesse aberto para os demais interessados. Agora ele acha que o projeto da Constituição comum européia já viabilizou esta idéia, na medida em que abre possibilidades para uma cooperação estruturada. O texto prevê uma cooperação estreita entre vários países em determinados campos de ação.
O ministro modificou o seu conceito, depois de se convencer de que uma cooperação forte não daria lugar a um núcleo de poucos países, até porque a maioria dos Estados membros com certeza iria querer cooperar num determinado momento. De forma que, na sua opinião, está superada a sua antiga idéia de um pequeno grupo de países membros como um cerne da União Européia.
Ilusão e forças contrárias
- Fischer não vê espaço para a sua idéia de um núcleo europeu fora da Carta Magna comum européia, cujo projeto considera "excelente". Sem a Constituição haveria diferentes velocidades no processo de integração e, segundo advertiu, a UE enfrentaria dificuldades graves. Sepultando de vez a idéia, o ministro escreveu em artigos publicados na imprensa alemã que seria ilusória a maior capacidade de decisão de um pequeno núcleo europeu, formado pela Alemanha, França e outros países, "porque isso poderia mobilizar forças contrárias."Nos progressos da política externa e de segurança da UE ele vê a nova importância estratégica de uma unidade européia, a qual qualificou como "reconstrução do Ocidente". Os indícios disso seriam uma afinidade e uma cooperação estreita, para as quais teriam contribuído os piores atos terroristas da história dos Estados Unidos. Segundo o chefe da diplomacia alemã, o 11 de setembro evidenciou a falta de diálogo estratégico dos europeus.
Tática a favor da Turquia?
- A oposição conservadora criticou a mudança de idéia do ministro sobre um núcleo europeu. Contrariando o novo argumento de Fischer, o perito de política externa da União Democrata Cristã (CDU), Wolfgang Schäuble, disse que a Europa precisa de uma liderança dinâmica por longo tempo e que isto será praticado por uma parte dos países membros. Somente assim poderia ser superado o processo de aprofundamento e ampliação da UE, disse ele se referindo ao ingresso de dez países na comunidade, em primeiro de maio.Numa alusão indireta à Turquia, cuja integração na UE é rejeitada por seu partido, Schäuble declarou-se contra uma "ampliação ilimitada" da comunidade, por razões estratégicas. O porta-voz da bancada conjunta da CDU e CSU (União Social Cristã) no Parlamento em Berlim, Peter Hintze, seguiu a mesma linha. Ele disse que a conduta do ministro Fischer teria razões táticas para defender melhor uma aceitação da Turquia na União Européia.