Ministério Público da Bolívia ordena prisão de Evo Morales
18 de dezembro de 2019O Ministério Público da Bolívia emitiu nesta quarta-feira (18/12) ordem de prisão contra o ex-presidente Evo Morales, que renunciou ao cargo em novembro. Um documento divulgado no Twitter pelo ministro do Interior do governo interino do país, Arturo Murillo, aponta que o político foi acusado de "sedição, terrorismo e financiamento ao terrorismo".
A determinação foi assinada pelos procuradores de La Paz Jhimmy Almanza e Richard Villaca, do grupo anticorrupção do Ministério Público boliviano, e prevê que policiais "prendam e conduzam o senhor Juan Evo Morales Ayma aos escritórios da Procuradoria".
No fim de novembro, o governo interino de Jeanine Áñez apresentou uma denúncia contra Evo por sedição e terrorismo. Como "prova" da acusação, o governo apresentou um vídeo em que suspostamente se ouve a voz do ex-líder pedindo para apoiadores realizarem bloqueios e "não deixarem passar comida" para cidades do país. Desde a queda de Evo, em novembro, a Bolívia vem sendo sacudida por protestos de partidários do ex-presidente, especialmente os cocaleiros do país.
O governo interino afirmou que o vídeo foi retirado do celular do filho de, Faustino Yucra, um dos líderes dos bloqueios por cocaleiros em várias rodovias do país, especialmente em Cochabamba. No vídeo, Yucra fala em seu celular, e a voz que sai do telefone é supostamente a de Evo Morales.
Este pede então para que o líder organize de forma cuidadosa o bloqueio de estradas para evitar que "as pessoas se cansem", e seja rigoroso em combater melhor "a ditadura golpista e racista", uma alusão ao governo da presidente interina Jeanine Áñez. Evo classificou o material como uma "montagem". A autenticidade do vídeo e do áudio não foi verificada por fontes independentes.
As penas por terrorismo na Bolívia variam de 15 a 20 anos de prisão, e sedição (rebelião contra o Estado) é punível com um a três anos de detenção. O ex-presidente se encontra na Argentina desde 12 de dezembro, após inicialmente se asilar no México.
A Bolívia passa por um grave conflito desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro, quando surgiram acusações de que o pleito foi fraudado em favor de Evo Morales, mais tarde proclamado vencedor para um quarto mandato consecutivo.
Em 10 de novembro, a Organização dos Estados Americanos (OEA) advertiu em um relatório sobre graves irregularidades nas eleições e Morales anunciou sua renúncia, pressionado pelas Forças Armadas, para no dia seguinte seguir em asilo para o México.
A renúncia de Morales foi descrita como "golpe de Estado" por vários governos e políticos latino-americanos, enquanto outros países reconheceram o governo interino de Áñez. Parte da comunidade internacional insistiu no diálogo sem se pronunciar sobre a crise política na Bolívia.
Contudo a repressão violenta aos protestos de partidários de Morales foi criticada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que denunciou o "uso desproporcional da força policial e militar". A Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, igualmente denunciou "o uso inútil e desproporcional da força pela Polícia e o Exército" na Bolívia.
JPS/ots
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