Militares de Israel ordenam nova evacuação em Rafah
11 de maio de 2024O Exército de Israel ordenou neste sábado (11/05) a evacuação da população civil de mais zonas do leste de Rafah, seis dias após ter iniciado uma operação militar nessa cidade do sul de Gaza, na fronteira com o Egito. Ainda neste sábado, a região voltou a ser palco de intensos bombardeios israelenses, segundo testemunhas, e imagens mostraram colunas de fumaça sobre a cidade.
A ordem de evacuação em Rafah afeta os campos de Rafah e Shabura, assim como os bairros de Adari e Geneina, que foram instados a ir para a "zona humanitária" de Al Mawasi, uma zona costeira já saturada de deslocados em tendas improvisadas, sem água corrente ou saneamento.
Os bombardeios também atingiram áreas mais ao norte do território palestino, em um momento em que a ONU alerta que a ajuda humanitária está bloqueada desde que as tropas israelenses entraram no leste de Rafah na segunda-feira e fecharam a passagem com o Egito.
"Para onde quer que você olhe, esta manhã, no oeste de Rafah, as famílias estão fazendo as malas. As ruas estão significativamente mais vazias", disse Louise Wateridge, porta-voz em Gaza da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNRWA), que estima que cerca de 150 mil pessoas já fugiram da cidade, não apenas no leste onde a evacuação foi ordenada, uma vez que as novas ordens afetam bairros mais centrais.
Uma operação militar em Rafah causaria "uma catástrofe humanitária épica e acabaria com nossos esforços para ajudar a população perante a fome iminente", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres na sexta-feira.
No norte, Israel ordenou a saída de residentes e pessoas deslocadas de vários bairros e cidades entre Jabalia e Beit Lahia, que designou como "zona de combate perigosa" e pediu-lhes que se deslocassem para oeste da cidade de Gaza.
"As Forças de Defesa de Israel trabalharão com grande força contra as organizações terroristas na região em que estão localizadas e, portanto, todos nessas áreas se expõem e às suas famílias ao perigo", afirma o comunicado do Exército israelense, divulgado em panfletos aos residentes de Gaza, por mensagens telefônicas, e publicadas em sua conta na rede social X.
O comunicado militar também adverte que é proibido chegar perto da cerca de segurança que circunda o enclave, o que implica "colocar a vida em perigo”, uma vez que os militares têm ordens de disparar sobre quem se aproxime.
Fontes médicas palestinas relataram bombardeios aéreos e de artilharia em Rafah, no sul; como no norte, especificamente em Beit Lahia e no bairro de Zeitun, na cidade de Gaza, onde Israel retomou as operações militares diante do retorno do Hamas.
Israel lançou na última segunda-feira o que chamou de "operação limitada" em Rafah com a ordem de evacuar cerca de 100 mil pessoas em bairros da periferia leste da cidade e no dia seguinte assumiu o controle da parte palestina da passagem de Rafah, que liga ao Egito.
Desde então, o Exército tem relatado o que chamou de "ataques seletivos" para capturar membros do Hamas no leste da cidade, enquanto seus tanques conseguiram avançar ao longo da estrada Salah al Din, que separa a cidade entre leste e oeste, desde a junção com o Egito, e estão prestes a cercar toda a sua metade oriental.
África do Sul solicita à CIJ ordem para deter ofensiva em Rafah
Ainda neste sábado, o governo da África do Sul anunciou que solicitou à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que emita uma "ordem urgente" para obrigar Israel a parar seu ataque militar em Rafah.
"Esta solicitação urgente surge após uma escalada do ataque de Israel a Rafah, que representa um risco para o abastecimento humanitário e os serviços básicos em Gaza, a sobrevivência do sistema de saúde palestino e a própria sobrevivência dos palestinos de Gaza como um grupo", disse a Presidência sul-africana em um comunicado.
A África do Sul, que apresentou o seu pedido ontem, observou que Rafah é "o último refúgio em Gaza para os deslocados pelas ações de Israel e o último centro viável para a administração pública e a prestação de serviços básicos".
Assim, pediu à CIJ que exija a retirada militar de Israel e que aquele país facilite o acesso "sem obstáculos" aos trabalhadores da ONU e de outras organizações, responsáveis tanto pela distribuição da ajuda humanitária como pela investigação dos acontecimentos que ali ocorrem.
A África do Sul também exigiu que os jornalistas fossem autorizados a entrar em Gaza e que Israel apresentasse um relatório à CIJ com as medidas que tomou para prevenir abusos dos direitos humanos no local.
"Fazemos um apelo para a comunidade internacional, incluindo os aliados do Estado de Israel, para não fecharem os olhos ao genocídio em curso em Gaza", acrescentou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, no comunicado.
"O mundo deve fazer mais para acabar com a perseguição aos palestinos", acrescentou.
A África do Sul já havia denunciado Israel na CIJ em dezembro do ano passado por supostos crimes de genocídio durante sua guerra contra o grupo Hamas.
jps (EFE, ots)