Milhares marcham contra antissemitismo na França
12 de novembro de 2023Milhares de pessoas saíram às ruas neste domingo (12/11) na França para protestar contra o antissemitismo no país, onde os atos hostis aos judeus aumentaram significativamente no último mês, na esteira do conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas. Foram registradas manifestações em diversas cidades da França, mas o epicentro ocorreu em Paris, onde uma marcha reuniu mais de 100 mil pessoas.
A manifestação parisiense reuniu líderes políticos de diferentes matizes, como a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne – filha de um sobrevivente do Holocausto –, representantes de partidos de esquerda, e a líder da ultradireita, Marine Le Pen, além dos ex-presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy, bem como líderes religiosos e personalidades públicas, como as atrizes Natalie Portman e Charlotte Gainsbourg.
Presença de Le Pen, ausência de Mélenchon
Uma notável exceção foi o líder do partido de esquerda radical França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que se distanciou da iniciativa, alegando, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter), que a marcha seria uma reunião de "simpatizantes do apoio incondicional ao massacre" em Gaza.
Ao longo da manifestação, ambientalistas, comunistas e socialistas também evitaram se manterem próximos da ultradireitista Le Pen, do partido Reagrupamento Nacional (RN), cujo fundador, Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, se notabilizou por comentários antissemitas entre os anos 1990 e 2000.
Um grupo de contra-manifestantes da organização judaica de esquerda Golem tentou brevemente impedir, sem sucesso, Marine Le Pen de participar da marcha.
A presença de Le Pen e a ausência de Mélenchon não deixou de ser destacada pela imprensa local e internacional, que destacou um "momento de virada" nos papeis tradicionalmente ocupados pela ultradireita francesa – associada por décadas ao antissemitismo e regularmente marginalizada de manifestações amplas – e da esquerda radical – que tradicionalmente sempre tomou parte em manifestações suprapartidárias.
O presidente, Emmanuel Macron, também não compareceu, mas expressou o seu apoio. "Uma França onde nossos concidadãos judeus tenham medo não é França", disse Macron, em carta publicada no jornal Le Parisien, antes da "grande marcha" convocada pelos líderes do Parlamento.
Familiares de alguns dos 40 cidadãos franceses mortos no ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro, bem como dos desaparecidos ou mantidos como reféns, também participaram na marcha. As autoridades de Paris destacaram 3.000 membros das forças de segurança para o percurso da manifestação convocada pelos líderes do Senado e da Assembleia Nacional, num momento de aumento do número de ataques contra a comunidade judaica na França.
Cânticos antissemitas no metrô de Paris, insultos nas ruas e nas redes sociais, cusparadas, pichações, entre outros exemplos. A França, que abriga a maior comunidade judaica da Europa, registrou mais de mil atos antissemitas desde 7 de outubro, data do início da guerra entre Israel e Hamas.
E, com o recrudescimento do conflito, a França – onde também vivem milhões de muçulmanos – torna-se uma caixa de ressonância para a tensão.
Em resposta, e para "enviar uma mensagem clara de que a França não aceita o antissemitismo", a presidente da Assembleia Nacional (câmara), Yaël Braun-Pivet, e seu homólogo do Senado, Gérard Larcher, convocaram a "grande marcha" deste domingo.
"Os judeus necessitam ouvir um grito de solidariedade e fraternidade sobre a questão do antissemitismo", pediu no sábado o presidente do Conselho Representativo de Instituições Judaicas da França (Crif), Yonathan Arfi, à emissora BFMTV.
A comunidade judaica na Europa segue marcada pelo Holocausto cometido pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Na quinta-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, prometeu proteger os judeus e não tolerar "nunca mais" o antissemitismo.
jps/rk (AFP, Lusa, ots)