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MigraçãoAmérica Latina

Migração climática mais sentida em países de renda média

15 de setembro de 2020

Estudo publicado na "Nature" afirma que países nem muito ricos nem muito pobres e com grande setor agrícola serão os principais afetados pelas ondas migratórias provocadas pela crise climática. Brasil é um deles.

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Criança sentada em área afetada pela seca em Honduras
Impacto será bastante sentido em países da América Latina, principalmente Brasil, Argentina, Uruguai e MéxicoFoto: AFP/Getty Images/O. Sierra

Países de renda média e com grande setor agrícola serão os principais afetados pelas migrações provocadas pela crise climática, afirmou um estudo de uma equipe internacional de pesquisadores publicado nesta segunda-feira (14/09) na revista científica Nature Climate Change.

O impacto, segundo os cientistas, será bastante sentido em países da América Latina, principalmente Brasil, Argentina, Uruguai e México. Algumas regiões da África e da Ásia também serão afetadas. O estudo analisou 30 pesquisas científicas já publicadas sobre o tema e quantifica pela primeira vez a relação entre aquecimento global e migração.

"Suas conclusões permitem identificar regiões geográficas que podem ser especialmente suscetíveis a movimentos migratórios no futuro", explicou o Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (Iiasa), com sede na Áustria, que assinou o estudo em parceria com o Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK, na Alemanha) e a Universidade de Viena

"Prevemos níveis mais elevados de migração ambiental para os países da América Latina e Caribe, para determinados países da África Subsaariana, particularmente na região do Sahel e da África Oriental, bem como para oeste, sul e sudeste da Ásia", disseram os especialistas. 

O alto risco foi atribuído "à maior exposição a múltiplos perigos ambientais nessas áreas, bem como a um nível de renda suficientemente alto para financiar a migração". Entre os principais fatores por trás das migrações climáticas estariam as mudanças de temperatura e no ritmo das chuvas, bem como desastres repentinos.

Roman Hoffman, economista do Instituto de Demografia de Viena (VID), aponta que os deslocamentos desencadeados por impactos ambientais são menores tanto nas regiões de renda mais baixa quanto nas de renda mais alta. No primeiro caso, "porque as pessoas provavelmente são pobres demais para [conseguir] partir", e no segundo, "porque têm recursos suficientes para lidar com as consequências" do aumento das temperaturas.      

Por outro lado, nos países de renda média e com grande dependência da agricultura, os deslocamentos forçados pela crise migratória são mais observados.

No continente americano, portanto, os pesquisadores preveem que as populações dos países de menor renda (como Bolívia e Paraguai) e das nações mais ricas (Estados Unidos e Canadá) serão as que menos deverão emigrar.

Pouca migração para países ricos

Os cientistas também desconstruíram a ideia de que os migrantes buscam sobretudo os lugares mais ricos do mundo. "A narrativa de que os refugiados do clima estão indo para a Europa ou para os Estados Unidos pode ser muito simplista", alertam. 

Pelo contrário, o estudo afirma ter encontrado "evidências convincentes de que as mudanças ambientais em países vulneráveis levam predominantemente à migração interna ou para outros países de baixa e média renda", e apenas em menor grau à "migração para países de alta renda".

O estudo indica que, em geral, as populações afetadas tendem a se deslocar para destinos próximos para poder retornar às suas terras, quando a situação assim permitir.

"A migração pode ser uma estratégia de adaptação eficaz, mas também pode ser involuntária e ter consequências importantes tanto para os migrantes quanto para as pessoas dos países de destino", destaca Jesús Crespo Cuaresma, pesquisador do Iiasa, na Áustria, e professor de economia na Universidade de Viena.

Para ele, deter o aquecimento global é uma prioridade. "A melhor maneira de proteger os afetados é estabilizar o clima global reduzindo rapidamente as emissões de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis, bem como aumentando simultaneamente a capacidade adaptativa, por exemplo, melhorando o capital humano."

IP/efe/afp