Migrantes na Bundeswehr
21 de outubro de 2008Os pais de Michael Lee chegaram à Alemanha nos anos 1970 como refugiados em um bote. Alguns anos depois, ele nasceu em Minden, na Renânia do Norte-Vestfália, onde cresceu com educação budista em meio à sociedade alemã. De forma bem superficial, ele ficou sabendo da aventura vivida pelos pais através da irmã mais velha.
Mas, mesmo sem saber os detalhes traumáticos da história dos pais, o sentimento de gratidão pela Alemanha ainda é o principal motivo que o levou a servir na Bundeswehr (Forças Armadas alemãs). "A Alemanha fez algo por mim e por minha família e eu quero retornar isso", explica.
Ele não está sozinho. Pelo contrário: o número de jovens com histórico de migração nas Forças Armadas alemãs cresce cada vez mais. De acordo com o Departamento Federal de Estatísticas, este já é o caso de um em cada sete soldados, o que atesta o enorme trabalho de integração da instituição.
Estabilidade profissional
Para Lee, o fato de as Forças Armadas alemãs possuírem um programa de incentivo à formação profissional vem bem ao seu encontro. Isso possibilita que obtenha sua formação em comunicação empresarial durante e depois do tempo que passar servindo ao Estado. Freqüentemente, o Estado o libera para que disponha do tempo necessário para estudar na caserna onde serve em Mainz.
Também Nagasi Goitum aprecia a segurança e a estabilidade que o emprego de soldado lhe dá. Na verdade, o soldado de 36 anos, cuja mãe se refugiou na Alemanha após fugir da guerra civil na Eritréia, deveria ter retomado sua profissão de técnico de comunicações após cumprir o serviço militar obrigatório. Mas a camaradagem e o salário fixo foram decisivos para o jovem pai de família. "Minha mulher disse: o mercado de trabalho não está fácil e você ama o Exército, por que não fica lá?"
Goitum participou da missão da Otan no Kosovo, onde diz ter apreciado o engajamento civil da Bundeswehr, especialmente como católico. Para ele, a sensação de que alguém contava com ele, não importando se é alemão desde que nasceu ou não, se possui a pele branca ou negra, foi uma experiência positiva. "Estar lá para quem precisa, sempre disposto a ajudar – tudo isso reforçou minha decisão de continuar na profissão de soldado."
Soldados como embaixadores culturais?
Mas a troca de experiências é mútua, principalmente nas missões internacionais. O primeiro-sargento Rabi Boulos, que em território alemão é conselheiro de pessoal do batalhão de artilharia 295 em Immendingen, desempenha a função de sargento porta-voz enquanto participa da missão em Kunduz, no norte do Afeganistão.
Como muçulmano e nascido na Palestina, ele acaba tendo que responder a perguntas dos camaradas sobre a cultura do país. "Durante as patrulhas, sempre me perguntavam quando e por que as mulheres tinham que usar a burca, por que uma é branca e a outra é azul, o que significam as bandeiras nas mesquistas. E eu esclarecia isso a eles", conta.
Por mais que Boulos se sentisse especialmente próximo de sua religião no Afeganistão, ele afirma nunca haver tido conflitos de lealdade, pois para ele a crença nada significa debaixo do capacete. Perguntado sobre más experiências como criança e imigrante na Alemanha, ele responde que "há sempre um ou outro que não aceitam, mas são os mesmos que não aceitam que haja mulheres nas Forças Armadas. Não se deve deixar-se impressionar por eles", conclui.