Mianmar usa caças feitos na Rússia contra civis, diz ONG
30 de julho de 2022A junta militar que governa Mianmar usou caças de fabricação russa para atacar alvos civis, afirmou na sexta-feira (29/07) a organização de direitos humanos Myanmar Witness.
Em um novo relatório, elaborado a partir de fontes disponíveis ao público, a organização baseada em Londres concluiu haver provas de "militares de Mianmar usando jatos Yak-130 para disparar foguetes não guiados e tiros de canhão 23 mm para dentro de áreas de população civil e em torno delas".
Os militares tomaram o poder com um golpe de Estado em fevereiro de 2021, que mergulhou Mianmar em tumulto e vem provocando protestos generalizados e resistência armada.
"O emprego indiscriminado de aeronaves de ataque sofisticadas, particularmente quando empregadas em coordenação com outras aeronaves militares, contrasta fortemente com os meios e métodos empregados pelos grupos considerados insurgentes pelos militares de Mianmar", afirma o relatório.
A Myanmar Witness analisou fotos e filmes enviados a partir do país desde o golpe, e confirmou vários incidentes nos quais os aviões de ataque de fabricação russa foram utilizados.
Disparos indiscriminados
Vídeos publicados online no início deste mês mostram caças Yak-130 lançando vários foguetes não guiados em direção ao solo durante um ataque em uma área ao sul de Myawaddy, ocorrido em junho.
A Myanmar Witness conseguiu fazer a geolocalização de dois vídeos filmados a apenas algumas centenas de metros da fronteira de Mianmar com a Tailândia.
Em outro incidente também verificado pelo grupo, a junta militar usou vários tipos de aeronaves, incluindo o Yak-130, para atacar uma área próxima a Thay Baw Boe.
O relatório também contém fotografias do Yak-130 voando em várias outras missões de combate.
A Myanmar Witness avalia ser provável que as Forças Armadas do país tenham 20 caças Yak-130 em seu inventário.
Apelo a embargo de armas contra Mianmar
Desde o golpe militar, a Rússia já entregou pelo menos seis desses caças a Mianmar. Isso apesar de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, aprovada em junho de 2021, ter conclamado os países a impedirem o fluxo de armas para o país.
"Enquanto a violência segue e as relações entre Mianmar e a Rússia continuam a se fortalecer, (...) o uso do Yak-130 de fabricação russa em áreas civis de Mianmar deve continuar a ser investigado", afirmou a Myanmar Witness em seu relatório.
A organização também encontrou provas de que pelo menos um lote de foguetes que pode ser usado no Yak-130 foi transportado da Sérvia para Mianmar em fevereiro de 2022. E disse que munições de 23 mm, também usadas pelo Yak-130, podem ter sido fabricadas na Sérvia em 1989, mas disse que precisava investigar melhor esse ponto.
Em março, o relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews, afirmou que a junta militar que governa o país matou pelo menos 1.600 civis e forçou o deslocamento de mais de 500 mil pessoas desde o golpe.
Andrews pediu que o Conselho de Segurança imponha um embargo global de armas aos militares do país, que "especificamente proíba a venda dessas armas e munições que estão matando civis de Mianmar, incluindo os aviões a jato".
O líder militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, esteve na Rússia em visita particular há duas semanas. Após a visita, o Ministério da Defesa da Rússia disse que os dois países estavam aprofundando a cooperação. "A reunião (...) confirmou a disposição mútua de construir consistentemente uma cooperação multifacetada entre os departamentos militares dos dois países", afirmou a pasta.