Metade das fusões empresariais destrói capital
7 de setembro de 2006Em 2006, o mercado de fusões e incorporações na Alemanha pode se aproximar do recorde registrado na virada do milênio, quando movimentou 426 bilhões de euros, disse recentemente a gerente alemã do banco de investimentos Morgan Stanley, Dagmar Kollmann.
Não só para os funcionários, mas também para os acionistas esta previsão deve ser motivo de preocupação. Segundo um estudo publicado esta semana pela consultoria Ernst & Young, em metade destas transações ocorre uma verdadeira desvalorização das empresas envolvidas.
Os peritos analisaram 189 fusões realizadas nos últimos 14 anos por grupos cotados na Bolsa de Valores, usando como critérios o valor das ações, rentabilidade, capital utilizado, lucro (sem desconto de impostos) e amortizações.
A pesquisa foi completada com entrevistas junto a 147 conglomerados e 53 investidores e analistas. O resultado mostrou que apenas um terço das transações contribuiu para aumentar o valor de mercado dos grupos fusionados.
Como exemplos de fusões que deram errado na indústria automobilística foram citadas as incorporações da Chrysler pela Daimler Benz e da Rower pela BMW. Outros dois fiascos teriam sido a compra da Reebok pela Adidas e da Mobilcom pela France Telecom. Como exemplos negativos do setor financeiro, os peritos apontaram a incorporação do Dresdner Bank pela seguradora Allianz e do Hypovereinsbank pelo Unicredito (italiano).
Problemas de integração
De acordo com os dados da Ernst & Young, pior do que na Alemanha é o balanço nos países anglo-saxões, onde 77% das fusões fracassam. Segundo os peritos, a principal causa da destruição de capital seria o deficiente gerenciamento da integração, mas esta falha foi admitida por apenas 14% das empresas.
"A maioria das empresas superestimam sua capacidade e acreditam que a integração transcorre como um negócio normal, mas a fusão de duas culturas empresariais é um outro tipo de desafio", explica o analista Joachim Spill. No estudo, 69% das empresas consultadas atribuíram o fracasso à falta de preparo da transação e a preços irreais de compra e venda. Não raro, os executivos teriam olhado apenas para o tamanho da concorrente que pretendiam engolir.
Ondas de fusões
O sonho de muitos executivos é deixar sua marca na história da empresa, através de expansões ou fusões de impacto. No ano passado, firmas alemãs investiram 113 bilhões de euros em aquisições de concorrentes. A compra da britânica BOC pela Linde e da Schering pela Bayer também não devem ter sido os únicos grandes deals deste ano.
Dois terços dos entrevistados na pesquisa esperam a continuidade do processo de concentração empresarial. Sobretudo nos setores energético, siderúrgico e químico- farmacêutico ocorrem cada vez mais fusões. Um exemplo em curso: a E.on alemã tenta abocanhar a Endesa – mesmo contra a resistência do governo espanhol.
A primeira onda de fusões na Alemanha, no final da década de 1960, foi interrompida pelo fim do milagre econômico do pós-guerra. Entre 1984 e 1989, houve uma segunda onda provocada pela liberalização do setor financeiro.
Após o final decepcionante da terceira onda, com um crash na bolsa em 2000, o mercado alemão de transações – quarto maior do mundo – voltou a viver um novo boom, envolvendo 1488 empresas em 2005, segundo dados do jornal econômico Financial Times Deutschland.
Apesar do balanço decepcionante, a Ernst & Young descarta a iminência de uma nova maré baixa neste tipo de transação. O analista Joachim Spill também não acredita que os executivos tenham aprendido suas lições com os erros cometidos no passado. Isso, segundo ele, se deve ao fato de que na maioria dos casos a destruição de capital – sem contar a eliminação de milhares de postos de trabalho por conta das fusões – permanece impune.