Metade das crianças sírias não está na escola, diz Unicef
15 de setembro de 2016A guerra civil na Síria já dura mais de cinco anos, e não há um fim à vista. Entre os que mais sofrem com a violência e o caos estão as crianças. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), há cerca de 2,5 milhões de menores sírios registrados como refugiados fora do país.
Muitas das crianças vivem em campos em países como Líbano, Jordânia ou Egito, traumatizadas pela morte e a violência que testemunharam. Organizações internacionais de ajuda humanitária lutam para que essas crianças tenham um futuro e não se tornem uma geração perdida. Uma das ferramentas mais importantes nesse sentido é a educação.
Por ocasião da próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, na semana que vem, Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, apelou aos chefes de governo de todo o mundo para que garantam 12 anos escolares a todas as crianças refugiadas.
"A educação é crucial", afirmou Yousafzai, que se tornou a mais jovem ganhadora do Nobel justamente ao defender o direito à educação. "Eu entendo, você entende, as pessoas entendem, mas quando se trata de os líderes mundiais tomarem uma decisão, eles ignoram isso completamente, como se não tivessem nenhum conhecimento e fossem completamente ignorantes."
Faltam professores, escolas fechadas
Organizações como o Unicef trabalham não apenas com crianças refugiadas em Estados vizinhos à Síria, mas também com meninos e meninas que ainda se encontram dentro do país abalado pela guerra.
Mais de 700 mil crianças refugiadas sírias em países vizinhos não vão à escola. Dentro da Síria, a situação é ainda pior: um quarto de todos os prédios escolares não é mais usado para fins educativos, e 50 mil profissionais da educação não trabalham mais em seus antigos empregos – eles fugiram do país, morreram ou se juntaram aos combates. Isso explica por que 2,1 milhões de crianças sírias não têm a possibilidade de ir à escola.
"Metade das crianças sírias em idade escolar não está na escola", afirmou à DW Juliette Touma, chefe de comunicação do Unicef para o Oriente Médio e Norte da África. "Algumas delas nunca foram a uma escola, outras já perderam até cinco anos."
Sem Geração Perdida
Em 2016, o Unicef planeja garantir o acesso à educação formal para 854 mil crianças sírias refugiadas no Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia. Para isso, o Unicef é um dos órgãos que apoiam a iniciativa Sem Geração Perdida.
Amparada por diferentes agências da ONU, uma série de ONGs locais e internacionais, doadores privados e governamentais, a iniciativa tem como objetivo oferecer a crianças e jovens a oportunidade de se recuperar, aprender e se desenvolver.
"No campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, o segundo maior do mundo, construímos nove escolas a partir do zero", afirmou Touma. "Em outros países, expandimos o espaço de aprendizagem através da reforma de prédios escolares existentes, adicionando mais salas de aula ou instalando calefação."
A iniciativa também introduziu uma metodologia de dois turnos em inúmeras escolas, por exemplo, na Jordânia. Pela manhã, as crianças jordanianas vãos às aulas, enquanto no período da tarde as salas de aula são usadas pelas crianças refugiadas sírias.
Situação difícil para as meninas
Para meninas refugiadas, a situação é especialmente precária. Elas têm menos chances que os meninos de frequentar uma escola.
"Meninas refugiadas se perguntam por quanto tempo elas podem ficar fora da escola até que sejam forçadas a casamentos precoces ou ao trabalho infantil", afirmou Yousafzai em nota de imprensa.
Touma narra a história de uma menina num campo de refugiados jordaniano que convenceu os pais a não casá-la, mas deixá-la ir à escola. A representante do Unicef também disse que o número de meninas se casando é crescente, porque seus pais perderam tudo e são tão pobres que não têm opção.
A iniciativa Sem Geração Perdida luta para combater essa prática e assegurar que meninas e meninos tenham a chance de ir à escola.
"Para o Unicef, a educação é tão importante quanto água e vacinas, porque alimenta a alma de uma criança", afirmou Touma. "A escola é realmente um porto seguro – e também um investimento no futuro. Tenham em mente que um dia a guerra na Síria chegará ao fim. Precisamos dessas crianças para reconstruir o país."