Mesmo após goleada histórica, brasileiros preferem ver Alemanha campeã
11 de julho de 2014Os brasileiros ainda não se recuperaram do choque da eliminação por 7 a 1, mas já sabem para quem vão torcer na final da Copa do Mundo. Definitivamente, "Somos todos Alemanha", é a afirmação de todos – ou melhor, de quase todos. Há também alguns poucos que vão vestir a camisa da Argentina no próximo domingo (13/07).
Logo após a classificação dos hermanos nesta quarta-feira, a hashtag #SomosTodosAlemanha virou febre nas redes sociais e escancarou a preferência nacional. Até mesmo o diário esportivo Lance! declarou apoio aos alemães e publicou nesta quinta-feira uma capa com a manchete "Alemães desde criancinha – A Alemanha acabou com sonho do hexa brasileiro. Que impeça agora o tri dos argentinos!".
Após a derrota brasileira, demonstrações de solidariedade por parte de jogadores da Alemanha contribuíram para aumentar a torcida pela seleção germânica.
Em sua conta no Twitter, Podolski pediu, em português, respeito à "Amarelinha": "O mundo do futebol deve muito ao futebol brasileiro, que é e sempre será o país do futebol". Em entrevista, Schweinsteiger se solidarizou com os brasileiros e pediu desculpas pela goleada, afirmando sentir-se um pouco triste pelo Brasil.
A Federação Alemã de Futebol (DFB) também publicou, em seu perfil no Facebook, uma mensagem aos brasileiros: "Desde 2006 sabemos como é doloroso perder uma semifinal no próprio país. Desejamos tudo de bom e o melhor para o futuro para vocês."
Postura exemplar
Para Tiago Rios, de 32 anos, os jogadores alemães tiveram uma postura exemplar. "Sempre que se referem ao time brasileiro, usam a palavra 'Seleção', em português. São pequenas coisas que mostram respeito", diz.
Tiago, que teve a Alemanha como segundo time favorito durante todo o campeonato, não sentiu raiva de seus algozes. "O problema foi a incompetência do Brasil. Odiar os alemães seria encobrir os nossos próprios defeitos. Eles ganharam porque jogaram bem e limpo", defende.
Mas ele reconhece que a rivalidade contra a Argentina também pesa na decisão de apoiar a Alemanha. "Vou torcer muito, até porque, se os argentinos ganharem no Maracanã, será o fim do mundo", lamenta.
Carisma alemão
Já para Ellen Rodrigues, de 22 anos, a rixa com os vizinhos não influencia a decisão de torcer pela Alemanha. "Se a final fosse França e Argentina, por exemplo, eu torceria pelos hermanos", garante.
Ellen apoiou a seleção alemã durante todo o Mundial. Foi até ao estádio para assistir a dois jogos, vestindo a camisa reserva da Alemanha – inspirada em seu time, o Flamengo. "Os alemães são uma graça. Impossível não torcer por eles, que estão dando um show de carisma. Cheguei a ir aos hotéis em que ficaram hospedados atrás dos jogadores", conta.
O treinador de futebol infantil, Renato Correia, de 44 anos, também diz que vai torcer pelos alemães por "afinidade", e não com o objetivo de impedir uma vitória argentina. "Claro que a rivalidade contribui, mas, no meu caso, é porque a Alemanha merece. É o melhor time da Copa."
Correia também ressalta a consideração que os jogadores alemães tiveram com os brasileiros durante o confronto. "Se fosse o contrário, iríamos fazer piada, dar toque de calcanhar, esbanjar. Acho até que os alemães diminuíram o ritmo para poupar o Brasil de uma humilhação maior."
Afinidade latino-americana
Se a Alemanha reúne fãs no Brasil, também a seleção de Messi encontra simpatizantes por aqui. Quem torce pela Argentina argumenta que é importante que a taça seja conquistada por um país latino-americano. "[A Copa] é no nosso continente, não quero que um europeu ganhe", afirma o taxista Manuel Messias, de 45 anos.
Messias acredita que os argentinos são culturalmente parecidos com os brasileiros. "Eles são como nós, sofrem muito por futebol", diz. O taxista conta que torce pela Argentina desde o início da Copa. Segundo ele, a taça traria alegria ao povo argentino, que passa por "dificuldades econômicas".
André Rodrigues, de 31 anos, também se identifica com o país vizinho. Quando criança, costumava dizer que tinha nascido com a nacionalidade trocada. "Era mais de birra. Hoje eu me sinto totalmente brasileiro. Mas, no futebol, a seleção azul e branca me empolga muito mais", conta.
André foi uma criança incomum. Tinha pôsteres de Maradona e Batistuta em seu quarto e, desde a Copa do Mundo de 1990, torce pela Argentina. "A única vez que torci pelo Brasil foi em 2002, porque o Marcos, ídolo do meu time, o Palmeiras, era o goleiro da seleção", relembra.
Em 1995, numa partida da Copa América, o Brasil ganhou de virada da Argentina, e André, com pouco mais de 10 anos, chorou copiosamente. "Eu nunca vi a Argentina ser campeã", reclamou, então, aos prantos.
Com a classificação contra a Holanda nesta quarta-feira, o torcedor viu o sonho infantil renascer. No próximo domingo, ele espera não cair em lágrimas novamente.