Mesmo após 60 anos, assassinato de Kennedy gera especulações
22 de novembro de 2023Quando o primeiro tiro alvejou a carreata em Dallas em 22 de novembro de 1963, o presidente americano, John F. Kennedy, levou a mão ao pescoço. Segundos depois, sua cabeça se inclinou para trás sob o impacto do segundo e mortal projétil.
O assassinato chocante de Kennedy em via pública foi registrado pelo cinegrafista amador Abraham Zapruder num filme colorido de 8 milímetros. As imagens explícitas, captadas a partir de uma visão quase perfeita da rota do desfile, aparecem em diversos livros, documentários e filmes sobre o atentado.
Lobo solitário?
O registro de Zapruder levou alguns a acreditarem que o assassino, Lee Harvey Oswald, à época um ex-fuzileiro naval de 24 anos, não agiu sozinho. A Comissão Warren, que investigou o assassinato de Kennedy à época, concluiu, porém, que Oswald agiu sozinho, disparando os dois tiros contra o presidente a partir de um edifício próximo dali, um depósito de materiais escolares da empresa Texas School Book Depository.
Mesmo assim, 60 anos depois daquele dia que abalou o mundo e mudou a história, muitos ainda se perguntam de onde saíram os tiros. Esse é o ponto de partida de uma produção recente de Hollywood, Assassination, dirigida por David Mamet e estrelada por Al Pacino, John Travolta, Courtney Love, Viggo Mortensen e Shia LaBeouf. O filme se baseia na tese de que o atentado foi executado a mando da máfia de Chicago em retaliação à ação do presidente contra o crime organizado.
As teorias sobre o assassinato
Fato é que Kennedy tinha, antes de ascender à Casa Branca, laços estreitos com a máfia. Uma vez eleito, porém, o presidente entrou em rota de colisão com o crime organizado, ameaçando seu poder e seus lucros com a abertura de investigações e processos na esfera federal.
Mas essa é apenas uma entre as dezenas de teorias que surgiram desde o atentado.
Provavelmente a obra mais conhecida sobre os bastidores do assassinato é o drama JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar (1991), dirigido por Oliver Stone. No filme, Kevin Costner faz o papel do promotor de Justiça Jim Garrison, de Nova Orleans, que não se satisfaz com as conclusões da Comissão Warren. Garrison e sua equipe suspeitam que Oswald era um agente da CIA que serviu de bode expiatório.
Enigma Lee Harvey Oswald
Oswald passou algum tempo na antiga União Soviética, o que alimentou especulações sobre a influência de Moscou. Outros suspeitam de uma interferência cubana, já que Kennedy tinha interesse em derrubar o revolucionário comunista Fidel Castro.
A lista de suspeitos em teorias da conspiração inclui ainda o serviço secreto FBI e o sucessor de Kennedy na Presidência, Lyndon Baines Johnson (LBJ). O estrategista político Roger Stone, que assessorou o ex-presidente Donald Trump, acusa Johnson na obra O homem que matou Kennedy: O caso contra LBJ de ter agido em conluio com gângsters e serviços secretos americanos para concretizar o atentado. O livro foi lançado em 2013, nos 50 anos do assassinato de JFK – assim como muitos outros filmes e livros que especulam sobre o caso, que também saíram em datas próximas dos aniversários do atentado.
Após décadas, "última testemunha" quebra o silêncio
Em setembro deste ano, o jornal americano The New York Times examinou mais atentamente o relato de Pauls Landis, um ex-agente do serviço secreto que estava a poucos metros de distância de Kennedy quando ele foi baleado. A versão de Landis coloca em xeque a "teoria de uma única bala" da Comissão Warren, segundo a qual um dos três projéteis disparados no atentado atravessou o pescoço de Kennedy e, depois, atingiu o governador do Texas, John B. Connally, que estava no assento à frente, nas costas, no peito, no pulso e na coxa.
Landis nunca foi ouvido pela Comissão Warren – algo surpreendente dada a proximidade dele do evento. O homem de 88 anos permaneceu calado por 60.
Num livro de memórias recém-lançado sob o título The Final Witness (A última testemunha), Landis diz não querer espalhar nenhuma teoria da conspiração sobre a morte de Kennedy. Mas o ex-agente refuta a afirmação de que uma única bala possa ter provocado tanto dano, o que implica dizer que Oswald não era o único atirador.
Cada vez mais documentos vêm a público
O livro Case Closed (Caso Encerrado), publicado por Gerald Posner em 1993, chega a uma conclusão justamente oposta: a de que Oswald agiu sozinho. Dois dias depois do atentado a Kennedy, o atirador acabaria assassinado por Jack Ruby, dono de uma boate, no porão do comando da polícia de Dallas. A Comissão Warren não encontrou provas do envolvimento de Ruby na morte de JFK nem de que o crime de homicídio contra Oswald seria queima de arquivo.
Em dezembro de 2022, o Arquivo Nacional dos Estados Unidos publicou 13.173 documentos associados ao assassinato de JFK, após movimento semelhante do governo Trump em 2017. Com isso, 97% dos documentos relativos ao atentado estão hoje disponíveis ao público.
Uma história que não acaba
Parece que a tragédia persegue a família Kennedy: um irmão mais novo de JFK, Bobby, foi assassinado ao entrar numa campanha para a Presidência em 1968; outro irmão, Edward, teve suas pretensões políticas arruinadas após deixar a cena de um acidente de carro que causou a morte de uma auxiliar, Mary Jo Kopechne; o filho de JFK, John F. Kennedy Jr., morreu num acidente de avião privado em 16 de julho de 1999, na costa de Massachusetts.
Kennedy Jr. tinha 3 anos quando enterrou o pai. Durante a cerimônia, o pequeno cumprimentou o caixão do pai com um gesto inocente, porém poderoso, que se tornaria uma imagem icônica.
Dos seus feitos heróicos durante a Segunda Guerra Mundial aos seus affairs escandalosos com gente como Marilyn Monroe, passando pela sua atuação em prol dos direitos civis e planos visionários de viagens espaciais, Kennedy sempre causou fascínio nas pessoas – e mais ainda após a sua morte.
Mesmo 60 anos após o assassinato do presidente numa limusine aberta, as especulações sobre as motivações do atentado provavelmente continuarão a perdurar por mais outras décadas. Ou, como dizia o diretor Oliver Stone ao comentar a teoria do lobo solitário: a opinião pública americana "nunca aceitou. Eles sabem quando algo está errado."