Merkel pode quebrar tendência ao definir nova coalizão
30 de setembro de 2013Na manhã após a eleição, a chanceler federal Angela Merkel deve ter feito uma curta pausa diante do guarda-roupa. Seu já tradicional blazer existe em todas as cores, mas nenhuma parecia ser apropriada. Ela deve ter pensado: "Vermelho não dá, verde também não, então o que fazer?" E no fim decidiu-se por um azul petróleo – neutro o suficiente para não dar margem a qualquer tipo de especulação sobre as iminentes negociações para formar uma coalizão de governo.
Merkel e seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estão procurando o parceiro de coalizão que melhor "combine" com eles. Seus aliados no atual governo, os liberais (FDP), estão descartados – não conseguiram a margem mínima de 5% dos votos para entrar no Parlamento.
Os democrata-cristãos terão, assim, que se aventurar fora do bloco liberal-conservador. Após as eleições de 2005, a aliança de partidos conservadores já o havia feito ao entrar numa coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD), o segundo maior da Alemanha. As conversas que podem levar a uma eventual repetição dessa aliança devem começar na sexta-feira (04/10).
Dois grandes blocos
Foi o antigo secretário-geral da CDU Heiner Geissler que, há cerca de 30 anos, introduziu um conceito que passou a dividir a política alemã em dois grandes blocos. Na época, os verdes haviam se tornado de fato uma força, elevando de três para quatro o número de partidos na cena política alemã – com ideias e valores diversos. Geissler descrevia o "bloco burguês" como o composto por conservadores e liberais; e do lado outro colocava, no "bloco esquerdista", social-democratas e verdes.
Geissler defendia que o mais importante era conseguir uma maioria sempre dentro do próprio "bloco". Ganhos eleitorais à custa do parceiro de coalizão, dizia, não implicariam lucro. De fato, desde a teoria pensada por ele, a maioria dos governos na Alemanha foi formada, sobretudo, dentro desses blocos políticos. A campanha eleitoral de 2013, por sinal, teve como objetivo a formação de um governo entre conservadores e liberais ou social-democratas e verdes.
Os eleitores, porém, decidiram o contrário. Agora são cogitadas opções de coalizão entre conservadores e social-democratas ou conservadores e verdes. "A CDU está interessada em formar uma coalizão. Portanto, é claro que agora ela esteja pedindo a seus eventuais parceiros que deixem de lado antigas maneiras de pensar", diz o cientista político Uwe Jun, da Universidade de Trier.
No entanto, SPD e Partido Verde ainda estão hesitantes. "Pode ser que considerações de estratégica de poder também estejam em jogo, mas para uma parcela ativa da base partidária, no geral, é difícil imaginar uma coalizão com um parceiro de outra ala", completa Jun.
Segundo ele, durante a campanha, não havia amplas tendências nos partidos que viessem a forçar o fim do pensamento vinculado a correntes políticas. No entanto, tais tendências existem: as vozes pragmáticas.
Omid Nouripour, deputado pelo Partido Verde, defende, por exemplo, que futuramente os verdes estejam mais abertos. Para ele, a decisão de apostar numa coalizão entre social-democratas e verdes foi uma das causas para o mau desempenho de seu partido nas legislativas. Tendo em vista os baixos índices de aprovação, segundo Nouripour, ficou claro para os eleitores que desde início os verdes não tinham a opção de poder.
Poucas alternativas
De forma mais intensa que no caso do SPD, a questão em torno de uma coalizão com democrata-cristãos toca na identidade dos verdes. Em seus primórdios, ele foi o partido dos pacifistas, ecologistas e de todos que eram contra o establishment. Para muitos verdes, mesmo hoje, uma coalizão com a CDU seria uma traição à causa do partido.
Apesar disso, Werner Patzelt, cientista político da Universidade Técnica de Dresden, considera positiva uma coalizão entre conservadores e verdes: "Então a política fixada em blocos políticos chegaria a um fim na Alemanha. As possibilidades de coalizão aumentariam, e isso aperfeiçoaria o funcionamento do nosso sistema parlamentar de governo."
No entanto, existem também posições contrárias, segundo as quais uma democracia é promovida principalmente por meio de alternativas claras. Os defensores dessa posição são céticos quanto à dissolução da teoria dos dois grandes blocos políticos cunhada por Geissler. A maioria dos especialistas prevê uma coalizão para além da parceria natural – provavelmente entre CDU e SPD.
"No passado, o SPD foi muito pragmático. Em nível estadual, o partido já faz coligações com a CDU, sem grandes problemas. Mas os verdes ainda não têm uma experiência positiva com democrata-cristãos. A única coalizão entre conservadores e verdes fracassou em Hamburgo", diz Uwe Jun.
No entanto, o SPD também não teve na última grande coalizão de governo em nível federal uma experiência positiva. Na eleição seguinte, teve uma perda significante de votos.
Se, no final, nenhum acordo for alcançado em torno de uma nova coalizão de governo, a Lei Fundamental alemã permite que os correligionários de Merkel formem um governo de minoria. Isso, no entanto, já foi descartado pela chanceler. Sem maioria própria, ela não teria quase margem de manobra, levando em conta que o Bundesrat (câmara alta do Parlamento alemão), que desempenha um papel importante no processo legislativo, é dominado atualmente pelo bloco esquerdista, do SPD e dos verdes.
Então caso ninguém consiga obter uma maioria própria e não consiga ser eleito como chanceler federal, resta somente uma saída: novas eleições. Mas é improvável que, num momento de instabilidade na Europa, os partidos alemães deixem que a situação chegue a esse ponto.