Merkel chega a 2018 sob pressão
31 de dezembro de 2017Muitos alemães parecem já estar se acostumando com a ideia de ter um governo sem Angela Merkel, como mostrou uma pesquisa recente do instituto YouGov: 47% disseram que prefeririam que a chanceler federal não fosse para um quarto mandato, contra apenas 36% que pensavam o contrário.
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No momento, porém, sua permanência depende mais de habilidade e consenso político do que de apoio popular. Em 7 de janeiro, mais de três meses após a eleição, começam as conversas preliminares dos conservadores de Merkel com os social-democratas para a formação de uma coalizão. O resultado pode sair só depois da Páscoa.
No poder há 12 anos, Merkel e seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estão enfraquecidos, após perderem terreno para os populistas na eleição de setembro e depois do fracasso na negociação de uma tríplice aliança, com verdes e liberais, em novembro. Na ocasião, os liberais foram acusados de minar o diálogo ao mudar de postura durante as conversas.
O partido FDP várias vezes retaliou essa narrativa, mas recentemente com Christian Lindner, seu líder, e Wolfgang Kubicki, seu vice-líder. Ambos sugeriram que os liberais não entrariam numa coalizão com Merkel em caso de nova eleição e questionaram a capacidade da CDU de ir adiante sem a atual chanceler à frente.
"É claro que, após 12 anos no poder, Merkel não quer entrar em contradição com suas próprias ações", disse Lindner à edição dominical do jornal FAZ. "Mas queremos ser parte de um projeto novo."
Em outras palavras: uma nova negociação entre verdes, conservadores e liberais só será possível se novas pessoas tiveram envolvidas. Seu discurso encontrou eco no veterano político Kubicki, que culpou Merkel pela falha nas negociações.
"Depende da própria CDU decidir como sair do vale de lágrimas dos 30%", afirmou o político liberal – as intenções de voto para o partido de Merkel em uma eventual nova eleição estão em 33%, mesma porcentagem obtida em setembro, o pior resultado da legenda desde o pós-guerra.
Kubicki pode ter razão em atribuir parte da culpa a ela: seu estilo de governo - e a razão para sua longevidade política - demanda calma e um consenso quase passivo numa coalizão centrista, com maioria confortável no Parlamento.
Um governo de minoria, a única outra opção atualmente sobre a mesa para evitar nova eleição, teria que deixar a ela a complicada tarefa de barganhar perante outras bancadas para aprovar leis.
Nova geração
Mas mesmo que muitos – inclusive a própria chanceler – percebam que o auge de Merkel tenha passado, ninguém pode apontar com precisão quem poderia substituí-la à frente do governo alemão e do maior e mais importante partido do país.
Kubicki, por exemplo, deu algumas sugestões de quem poderia representar a próxima geração de democrata-cristãos: Jens Spahn, secretário de Estado no Ministério das Finanças, atraiu atenção nos últimos meses – não apenas pelas ocasionais declarações em tom provocativo – e pode figurar em futuras batalhas pela liderança política da CDU.
Há também Daniel Günther, de 44 anos, governador de Schleswig-Holstein à frente de uma coalizão entre conservadores, verdes e liberais que deveria ter servido de modelo a nível federal.
Ambos chegaram a trazer o assunto sucessão na CDU, durante uma entrevista conjunta ao jornal Rheinische Post no verão passado, quando especularam abertamente sobre o futuro do partido.
"Nós estamos vendo – o que é historicamente incomum – que, durante um governo CDU, está sendo construída uma nova ala de governadores , que, junto muitos outros jovens com funções governamentais, estão garantindo um potencial para a era pós-Merkel", disse Günther.
Outro nome que circula na CDU é o de Annegret Kramp-Karrenbauer, uma política de 55 anos que liderou o partido à vitória no pequeno estado do Sarre. Sua posição, porém, mais à esquerda, poderia fazer que com ela fosse vista mais como uma continuação de Merkel do que algo novo.
Merkel, por sua vez, está de férias com o marido, Joachim Sauer, professor de física e química que se aposentou em outubro. A chanceler hesitou várias vezes sobre tentar um quarto mandato ou se untar ao esposo na aposentadoria. E no final, apesar de demonstrar desgaste, ficou claro que ela ainda tem bastante força para sobreviver na política.
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