Heróis Silenciosos
31 de outubro de 2008Mais de 60 anos depois da capitulação nazista, que marcou o final da Segunda Guerra Mundial, foi aberto na última segunda-feira (27/10) em Berlim o Memorial aos Heróis Silenciosos, em homenagem aos civis alemães que arriscaram a vida ao conceder refúgio a judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Mais de 10 mil judeus tentaram fugir da deportação para os campos de concentração. Estima-se que 5 mil pessoas tenham conseguido escapar, 1.700 das quais em Berlim, disse o diretor do Memorial da Resistência Alemã, Johannes Tuchel. O Memorial aos Heróis Silenciosos é resultado de um trabalho conjunto entre a instituição de Tuchel e o Centro de Pesquisas sobre Anti-Semitismo da Universidade Técnica de Berlim.
Muitos além de Schindler
Os dois memoriais, da resistência Alemã e dos Heróis Silenciosos, ficam no mesmo local. Trata-se de um prédio adquirido em 2004, localizado na rua onde ficava a fábrica de vassouras de Otto Weidt, um industrial que empregou e protegeu judeus cegos durante o nazismo.
O centro apresenta alemães que arriscaram a vida ao esconder judeus perseguidos pelo regime nazista. Oskar Schindler é apenas um entre muitos corajosos que desobedeceram aos ditames do Terceiro Reich. Um filme, fotografias e documentos originais documentam os feitos do famoso industrial que salvou da morte 1.100 judeus.
Pelo menos 5 mil judeus sobreviveram na clandestinidade graças à ajuda de parentes, amigos e colegas. "Não podemos avaliar isso pensando nos padrões atuais", explica o diretor do Memorial da Resistência Alemã. "Hoje em dia, a resistência contra o nazismo é avaliada totalmente de forma positiva."
Logo após a guerra, no entanto, não teria sido assim, por isso os nomes dos que ajudaram muitas vezes só se tornaram conhecidos através dos sobreviventes. Nem todas as histórias apresentadas no memorial tiveram final feliz. Os organizadores da mostra calculam que mais de 10 mil judeus entraram para a clandestinidade naquela época na Alemanha. Apenas a metade sobreviveu.
Esconderijo no sótão
Em dois andares, estão documentadas quase 300 histórias. Como a de Eugen Kahl. Seu pai, médico, se opôs ao ditame nazista de não prestar atendimento a judeus. Aos 16 anos de idade, Kahl descobriu que seus pais estavam protegendo no sótão de sua casa o noivo de uma paciente. "Eu não podia falar com ninguém sobre isso", recorda-se Kahl. Também seus pais mantiveram-se calados. Como tantos outros, foram "heróis silenciosos".
A população alemã no Terceiro Reich era de 80 milhões de pessoas. Do meio milhão de habitantes com ascendência judaica, um terço foi vítima do Holocausto.
Os pesquisadores reuniram no memorial 3 mil nomes de pessoas que ajudaram e que foram salvas. Calcula-se, no entanto, em 20 mil o número de alemães que arriscaram a vida para ajudar seus semelhantes perseguidos durante o nazismo. Por isso, referindo-se aos nomes que ainda faltam na lista, Tuchel diz que o memorial Heróis Silenciosos é uma exposição permanente que nunca ficará pronta.