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Meio século após crise Cuba-EUA, atenções se voltam ao Oriente Médio

14 de outubro de 2012

Segundo especialistas, crise dos mísseis em 1962 foi o momento em que o mundo esteve mais próximo de seu fim. Nos dias de hoje, novas potências nucleares são motivo de preocupação.

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Foto: AFP/Getty Images

Em 14 de outubro de 1962 confirmava-se o maior temor dos Estados Unidos: a União Soviética havia instalado seis mísseis de médio alcance com ogivas nucleares em Cuba, a aproximadamente 200 quilômetros da Florida, trazendo uma ameaça real não apenas à base militar de Guantánamo, localizada em território cubano, mas também a toda a costa leste do país, densamente povoada.

No momento em que o presidente John Kennedy exigiu a retirada dos mísseis, em um discurso em rede nacional no dia 22 de outubro, a força aérea norte-americana já havia sido colocada em "Defense Condition 2", um grau abaixo do nível que significaria o início de confrontos diretos com o inimigo. O mundo nunca estivera tão próximo de uma guerra nuclear como naquele momento.

Finalmente, no dia 28 do mesmo mês, o então primeiro-ministro soviético Nikita Khrushchev acabou cedendo e evitou assim um desastre nuclear de grandes proporções. Para os especialistas, esse impasse entre as duas superpotências acabou por estabelecer os parâmetros da ordem mundial na época. Nenhuma das duas partes poderia ter certeza se o inimigo seria ou não capaz realizar um segundo ataque em retaliação. A crise acabou tendo um efeito estabilizador após décadas de corrida armamentista.

Novas potências nucleares

Esse equilíbrio de forças deixou de existir com o fim da Guerra Fria, afirma Reinhard Meier-Walser, professor honorário de Política Internacional da Universidade de Regensburg. "Hoje, a preocupação é a proliferação nuclear horizontal. Enquanto as grandes potências nucleares tendem a se desarmar, novas potências nucleares surgem, e nós não sabemos com segurança se seríamos ou não capaz de detê-los", afirmou Meier-Walser em entrevista à DW.

Além das potências nucleares tradicionais, como os EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França e China, entraram na corrida armamentista países como Israel e Índia, e também outros mais instáveis politicamente, como o Paquistão e a Coreia do Norte. O vice-ministro norte-coreano, Pak Ki Yon, chegou a utilizar um tom de ameaça em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro último, ao afirmar que uma simples faísca bastaria para desencadear uma guerra nuclear na península da Coreia do Norte.

O Irã, ao contrário das outras "novas potências atômicas", já havia assinado em 1968 o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, mas, no entanto, não demonstra nenhuma intenção de desacelerar o desenvolvimento de seu programa nuclear. Por essa razão, sua retórica agressiva contra Israel é motivo de grande preocupação.

Corrida armamentista pelo controle do Oriente Médio

As armas nucleares representam um risco incalculável e é impossível saber se as novas potências nucleares irão se portar de maneira racional ou não, afirma Annette Schaper, especialista em Política de Administração de Segurança dos Estados, do Instituto de Pesquisa de Paz e Conflitos de Frankfurt. Ainda assim, é considerada improvável a hipótese de que a Coreia do Norte ou o Irã possam vir a fazer uso de seu arsenal nuclear, uma vez que certamente sofreriam retaliações.

Khrushchev e Kennedy, um ano antes da crise
Khrushchev e Kennedy, um ano antes da criseFoto: Getty Images

Ambos os países se colocam em isolamento internacional e adotam políticas não democráticas, e o sistema econômico da Coreia do Norte passa por dificuldades. "Em casos como esses, países isolados tendem a reagir de modo agressivo para se aproveitar politicamente de possíveis ameaças externas", afirma Schaper. Os objetivos dessa estratégia são impor seus interesses a outras nações e utilizar internamente a ameaça de um inimigo externo como forma de trazer estabilidade ao regime.

Especialmente no caso do Irã e seu programa nuclear, a questão também envolve poder, prestígio e, principalmente, seu domínio na região do Oriente Médio: Annette Schaper vê um grande risco de que os países ameaçados, como a Arábia Saudita, comecem uma corrida armamentista em uma região já bastante instável.

O Irã já está cercado por cinco novas potências atômicas, o que resulta em grande parte da ambição de sua política nuclear, como explica Reinhard Meier-Walser, da Universidade de Regensburg. Ele se refere ao medo que muitos países têm de que o Irã possa algum dia repassar seu conhecimento ou até mesmo equipamento para organizações como o Hisbolá e o Hamas, a quem o país apoia abertamente

Paquistão e Índia em patamares diferentes

O panorama mais aterrorizante seriam as armas nucleares chegarem às mãos de terroristas, um assunto no qual as atenções se voltam ao Paquistão. O engenheiro paquistanês Abdul Qadeer Khan já vem notoriamente há anos repassando conhecimento e tecnologia nuclear. "O comportamento do Paquistão tem sido verdadeiramente catastrófico. Todas as instalações de enriquecimento no Irã, anteriormente no Iraque e até mesmo na Líbia, têm como origem conexões com grupos paquistaneses", afirma Annette Schaper.

Além disso, o país vem se armando cada vez mais desde o conflito de 1947 com a Índia Britânica. A corrida armamentista entre os dois países possui algumas semelhanças com a Guerra Fria entre os blocos ocidental e do Leste Europeu. O diferencial, segundo Schaper, é o fato de os dois países serem vizinhos e estarem em constante disputa pelo território da Caxemira. Além disso, há uma relação bastante assimétrica entre o desenvolvimento econômico da Índia e a instabilidade do Paquistão.

Reinhard Meier-Walser ressalta que há o risco de países como Irã ou Paquistão se verem em uma situação de conflito, na qual as únicas saídas seriam fazer concessões ou lançar mão do arsenal nuclear. "Armas convencionais poderiam não ser suficientes para derrotar o inimigo", diz. Para Meier-Walser, a solução seria o desarmamento em médio prazo de todos os países.

Annette Schaper sustenta que "durante a crise dos mísseis de Cuba, o mundo foi salvo pelo bom senso, mas nós não sabemos como outra pessoa que estivesse com o dedo no gatilho iria reagir em uma situação como aquela", afirma a especialista.

Autora: Christina Ruta (rc)
Revisão: Roselaine Wandscheer