Medidas públicas ajudaram mobilidade social no Brasil
5 de junho de 2013A Conferência Anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) começa nesta quarta-feira (05/06) em Genebra e, até 20/06, deverá se concentrar em questões relacionadas à previdência, ao desenvolvimento sustentável e também a uma maior aproximação entre as diferentes camadas sociais, num momento em que a economia mundial se recupera da crise financeira internacional.
Mas, de acordo com a OIT, a retomada do emprego é desigual e representa um problema para a maior parte dos países do planeta. A conclusão consta do relatório 2013 da organização, publicado esta semana no âmbito da reunião anual.
Porém, o documento diz que a maioria dos países emergentes – como o Brasil – e em desenvolvimento registram uma alta do emprego e uma redução das desigualdades de renda, ao contrário dos países de renda mais alta.
O texto da OIT cita ainda o Brasil pela expansão de sua classe média e das taxas de emprego.
Entre 1999 e 2010, houve um crescimento de aproximadamente 16 pontos percentuais da classe média brasileira – ou do grupo de pessoas que recebe uma renda de nível médio. O aumento é considerado elevado para a OIT. Essa evolução foi também observada em outros países em desenvolvimento e emergentes. Em 1999, aproximadamente 260 milhões de pessoas no mundo pertenciam à classe média. Em 2010, a categoria se expandiu para 700 milhões.
A OIT reforça que o aumento da classe média brasileira aconteceu de forma estável. "Em outros países emergentes a classe média está crescendo, mas continua frágil, pois a maioria dela ainda continua bem próxima a linha da pobreza", diz Marva Corley, economista da OIT. A estabilidade da classe média brasileira teria contribuído para a redução das desigualdades sociais no país e para o crescimento econômico.
A organização relacionou esse fato principalmente às políticas públicas dos governos desde 1999 e a programas de redistribuição de renda. Segundo o economista Newton Marques, da Universidade de Brasília (UnB), essas medidas foram fundamentais para a redução da pobreza absoluta, que possibilitou a inclusão social de uma grande parte da população.
"As políticas públicas, o programa Bolsa Família e o aumento real do salário mínimo contribuíram para a mobilidade social", afirma Marques. Segundo o economista, houve um aumento do número de empregos e renda principalmente nas localidades onde as desigualdades eram maiores.
Taxas de emprego
O Brasil também ficou entre os países, onde a taxa de emprego continuou a crescer depois da crise de 2008. Além desse crescimento, o país conseguiu melhorar a qualidade do trabalho. "Esse é um fenômeno interessante. Comparando com os países desenvolvidos, muitos deles conseguiram aumentar o número de vagas, mas com a redução da qualidade delas, por exemplo, aumentando os empregos temporários", relata Corley.
A economista afirma que esses indicativos apontando mudanças no mercado de trabalho, apesar de o Brasil não conseguir reduzir a informalidade que ainda atinge uma grande parte da força trabalhista no país.
O mundo do trabalho
O relatório divulgado no início desta semana analisou a situação global cinco anos após o início da crise financeira mundial. O relatório mostrou que um crescimento no número de desempregados e um aumento da desigualdade social na maioria dos países desenvolvidos, principalmente na França, na Dinamarca, na Espanha e nos Estados Unidos.
Houve também uma redução da classe média nesse grupo de países, devido ao desemprego e à deterioração da qualidade das vagas. A Alemanha, país com a menor taxa de desemprego da União Europeia, também não registrou desempenho excelente de acordo com a OIT: a qualidade dos postos de trabalho de baixa renda pode estimular a desigualdade social na maior economia da UE. "É mais difícil para os países desenvolvidos saírem da crise. As economias em desenvolvimento e emergentes estão em uma situação melhor", avalia Corley.
A OIT acredita que, da estimativa de 200 milhões em 2013, o número de desempregados deverá subir para 208 milhões até 2015. Segundo o diretor geral da OIT, Guy Rider, os governos precisam concentrar suas políticas na criação de novos empregos e proteger as camadas mais pobres e frágeis para evitar o declínio social. Rider pede que políticos combatam melhor o desemprego massivo de jovens nos países do sul da Europa.