Saindo da crise
11 de dezembro de 2009Manter os juros baixos durante anos foi um dos principais fatores que desencadearam a crise imobiliária. Primeiro tremeram os mercados imobiliários, depois os bancos e, no final, a economia mundial. O colapso final da economia e dos bancos só pôde ser evitado através de operações de emergência com programas conjunturais bilionários.
Os bancos centrais injetaram quantias gigantescas de dinheiro como remédio. E com sucesso. O paciente, chamado sistema econômico, foi poupado do pior. As consequências das medidas são, por outro lado, juros baixos e demasiada liquidez no mercado – ou seja, justamente aquilo que causou a crise.
Medicamentos na dose certa ajudam. Mas quem toma demais pode voltar a adoecer no final. Por isso há quem esteja buscando estratégias de saída e ponderando a hora certa de suspender as medidas de apoio. A resposta significa, de qualquer forma, uma espécie de malabarismo.
Se o medicamento for retirado cedo demais – ou seja, se a quantidade de dinheiro for reduzida antes da hora e os programas conjunturais forem suspensos prematuramente –, então a conjuntura, que estava em vias de recuperação, volta para a cama. Caso o paciente tome remédio demais, corre o risco de adoecer por causa dos efeitos colaterais. Ou seja, se os juros continuarem baixos demais por muito tempo, novas bolhas podem se formar no mercado financeiro, aumentando o risco de inflação e de recessão.
Conjuntura dá o ritmo
“A situação conjuntural é que deverá definir a hora e o ritmo certos de se suspenderem as medidas de apoio”, afirma Michael Heise, economista-chefe da maior seguradora do mundo, a Allianz SE. Para ele, já está na hora de começar a suspender as medidas de apoio. “Vemos que a recuperação econômica na Europa e também no mundo vem ocorrendo de forma relativamente sincrônica e tem ganhado força”, afirma.
As tendências no mercado financeiro parecem confirmar a tese de Heise. Desde maio, a taxa básica de juros na zona do euro é de 1%. E ela nunca esteve tão baixa. A taxa de juros efetiva de mercado está até mesmo abaixo disso, porque o Banco Central Europeu proporciona liquidez quase ilimitada ao sistema financeiro.
De um lado, há muito dinheiro em circulação, de outro, são concedidos poucos créditos, porque muitas empresas decidem investir menos em tempos de crise. A tendência é de investir o dinheiro excessivo, o que desperta o apetite dos investidores em especular com dinheiro barato e aplicar, inclusive, em investimentos de risco.
Por isso, o Banco Central Europeu volta a alertar para o perigo de se gerarem novas bolhas nos mercados financeiros.
"Mesmo que o clima esteja melhorando nos mercados financeiros, o paciente não deve ser tolhido imediatamente das medidas de auxílio para sua recuperação", diz Heise. “É necessário haver cuidado, para que os impulsos não sejam retirados de forma muito abrupta e rápida”, afirma o economista.
Os programas conjunturais do governo devem, primeiramente, ser mantidos, porque ainda serão necessários no próximo ano. “Se esses programas forem retirados, rapidamente sentiremos efeitos sobre a conjuntura.”
Já na política monetária, entretanto, é possível começar agora a “conter o grau de expansão”. Sobretudo porque mudanças na política monetária só começam a fazer efeito depois de um bom tempo, lembra o analista. Se os juros aumentarem hoje, mal teremos um efeito de desaquecimento no ano que vem, acredita Heise.
Sintonia internacional
De qualquer forma, é importante que haja uma sintonia dentro da comunidade internacional quanto à política monetária. Se a Europa corrigir sua política econômica, reduzindo a quantidade de dinheiro no mercado e elevando os juros, o euro pode se valorizar sensivelmente em relação ao dólar e também em relação a muitas moedas asiáticas vinculadas ao dólar.
No entanto, para a recuperação da conjuntura europeia, isso seria um grande risco. Por isso, é especialmente importante, não só para o Banco Central Europeu, mas também para outros bancos centrais, que se chegue a um consenso internacional. E a reversão da enxurrada de dinheiro deve ser preparada passo a passo e com toda cautela.
Mesmo que muitos grandes bancos centrais já estejam começando a insinuar que o volume de dinheiro deveria ser reduzido, até agora não há indícios de uma ação concertada nesse sentido.
No momento, a tendência é mais de proteger a própria moeda contra uma valorização em relação ao dólar. Por isso, muitos bancos centrais em todo o mundo continuam comprando dólar, o que faz com que mais dinheiro seja injetado no sistema.
Heise acredita, entretanto, que a prudência vai imperar. “Acredito que a disposição para se sair dessa política monetária expansiva deverá vir ao longo do tempo, quando as pessoas estiverem certas de que essa recuperação conjuntural se firmou de alguma forma e de que não corremos mais o risco de cair novamente numa recessão.”
Autora: Insa Wrede
Revisão: Simone Lopes