Marcha antiterrorismo reúne líderes islâmicos da Europa
9 de julho de 2017Na segunda estação de sua "Marcha dos muçulmanos contra o terrorismo", cerca de 60 imames de diversos países europeus visitaram Berlim neste domingo (09/07).
A "marcha" – na verdade, um giro de ônibus – nasceu de uma ideia do imame do subúrbio parisiense de Drancy, Hassen Chalghoumi, e do autor judeu francês Marek Halter.
Em uma semana, os participantes passaram por França, Alemanha e Bélgica – três países recentemente atingidos por atentados de fundo fundamentalista – para transmitir a mensagem de que o islã é uma religião de paz.
Na véspera, os religiosos moderados haviam emitido sua "mensagem de humanidade e fraternidade contra o terrorismo" no local do bulevar Champs-Elysées, em Paris, onde um policial foi assassinado por um militante islamista em abril.
Palco do atentado de Berlim
Para sua apresentação na capital alemã, os sacerdotes, entre os quais seis da Alemanha, não poderiam ter escolhido um lugar mais simbolicamente carregado: a praça Breitscheidplatz, no coração da antiga Berlim Ocidental.
A praça abriga a Igreja Memorial do Imperador Guilherme, ou Gedächtniskirche – destruída ao fim da Segunda Guerra Mundial por bombardeiros aliados e mantida como ruínas, numa advertência antibélica. Além disso, o local foi palco do ataque com um caminhão contra uma feira natalina em 19 de dezembro de 2016, em que morreram 12 pessoas.
Diante de uma plateia bastante reduzida, os imames, vindos principalmente de países francófonos, depositaram flores no memorial improvisado diante da antiga igreja. Em seguida celebraram uma cerimônia de meia hora em francês, árabe, alemão e hebraico, para abençoar a viagem dos sacerdotes e prestar homenagem às vítimas.
O imame de Berlim, Taha Sabir, pediu a Deus "por paz e misericórdia para todas as almas inocentes que foram injustamente mortas pelas mãos daqueles que perderam sua humanidade e consciência". Representantes da comunidade islâmica berlinense também se pronunciaram.
"Esses monstros que se explodem e matam outras pessoas não fazem isso em nome do cristianismo ou de qualquer outra religião", disse a encarregada estadual de Berlim para Engajamento Cidadão, Sawsan Chebli. "Eles o fazem em nome daquilo que chamamos nosso. Eu também sou muçulmana, portanto este é um sinal bem eloquente de que os muçulmanos são a favor da paz e da coexistência."
"Maioria dos muçulmanos não aceita o nosso discurso"
As congregações muçulmanas da Alemanha têm sido criticadas por não se juntarem em grande número para condenar o terrorismo. Numa entrevista coletiva antes da cerimônia, o vice-presidente dos imames da França, Hocine Drouiche, esclareceu o que está em jogo para os que participam desse giro antiterrorismo.
Contendo as lágrimas, contou que ele e sua família têm sido ameaçados de dentro da comunidade islâmica, devido a seu posicionamento liberal. Ele disse ainda que alguns dos imames participantes da marcha certamente perderão os empregos por expressarem seus pontos de vista.
De certo modo contradizendo a própria premissa do projeto, Drouiche queixou-se que "a maioria dos muçulmanos não aceita o nosso discurso". "Temos medo por nossas esposas e filhos. É um problema muito difícil. Essas pessoas têm necessidade de ser inimigos do Ocidente."
Seu relato foi um pungente lembrete de que, embora os religiosos participantes da iniciativa insistam que o islã, corretamente praticado, é uma fé pacífica e humanista, existe uma significativa subcultura que recorre à confrontação e violência contra qualquer um que não partilhe suas crenças.
Após a capital alemã, os imames seguem para a Bélgica. A "Marcha dos muçulmanos contra o terrorismo" chega ao fim em Paris no dia 14 de julho, quando é comemorado o Dia da Bastilha.
AV/rtr/dpa/dw