Manobras russas causam transtornos à população de Belarus
16 de fevereiro de 2022As manobras conjuntas de militares russos e belarussos em Belarus estão programadas para durar até a próxima segunda-feira (21/02). O nome dos exercícios, "Determinação da União 2022", se refere à entidade supranacional "União entre Rússia e Belarus". Em 2021, ambas as ex-repúblicas soviéticas concordaram com uma integração mais estreita, incluindo a cooperação militar.
Trens transportando equipamentos militares da Rússia chegaram a Belarus muito antes do início das manobras. Os observadores agora duvidam que todo o equipamento seja retirado novamente após os exercícios. Há temores no Ocidente de que a manobra possa ser usada como cobertura para uma invasão da vizinha Ucrânia, mas Moscou e Minsk negam que seja o caso.
Onde e como ocorrem as manobras
Segundo informações oficiais, o presidente belarusso, Alexander Lukashenko, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, concordaram no segundo semestre de 2021 em realizar exercícios extraordinários. No fim de novembro, Minsk os anunciou pela primeira vez.
Os ministérios da Defesa de ambos os Estados disseram mais tarde que as manobras tinham como objetivo, entre outras coisas, fortalecer a fronteira belarussa em área onde a "penetração de grupos rebeldes com armas e equipamentos" não pode ser descartada.
Além disso, as unidades militares envolvidas devem praticar “busca e eliminação de sabotadores e grupos armados ilegais”. Quanto às áreas para as manobras, foram originalmente mencionados campos de treinamento e aeroportos militares, principalmente no oeste de Belarus.
Passeios na floresta proibidos
Um desses campos é a área de treinamento militar Brestskiy, normalmente usada pela brigada aerotransportada local. De acordo com os planos, os paraquedistas teriam feito exercícios para descobrir e destruir uma "força armada ilegal" na área, usando morteiros, lançadores de granadas e veículos blindados.
Yevgeny, que mora na cidade de Brest, tem uma casa de campo muito perto da área de treinamento militar. Os militares não incomodavam os moradores e donos de casas da região até alguns anos atrás. "Perto do campo de treinamento há uma grande área de floresta, onde sempre havia muitos cogumelos, que atraiam muita gente." Mas nos últimos anos a área militar foi significativamente expandida. As manobras são realizadas com frequência, e os passeios na floresta foram proibidos.
Segundo Yevgeny, os moradores ficam incomodados com a situação. Eles apelaram repetidamente às autoridades e pediram para que as caminhadas na floresta fossem novamente permitidas, mas sem sucesso. Além disso, o tráfego de automóveis é frequentemente controlado nas estradas próximas à área de treinamento militar. “Os próprios militares param os carros e justificam dizendo que precisam garantir a segurança, devido à situação atual.”
Perigo de vida
Medidas especialmente rigorosas estão sendo tomadas devido às manobras nas regiões belarussas que fazem fronteira com a Ucrânia. As autoridades do distrito de Stolin, na região de Brest, alertaram os moradores de cerca de 20 povoados que o antigo aeroporto próximo se torna zona restrita entre 14 e 16 de fevereiro e que a presença nas proximidades representa perigo de vida. A área de treinamento foi usada nos tempos soviéticos, mas fechada após a independência de Belarus em 1991 e parcialmente anexada à reserva natural Pântanos Olmansky.
"Agora os policiais vão de porta em porta e alertam para não se ir, de forma nenhuma, catar lenha ou colher sucata de metal, porque podem ser munições não detonadas", diz um morador do vilarejo de Chotomel.
Na verdade, o antigo campo de treinamento no distrito de Stolin não está na lista oficial de locais dessas manobras conjuntas russo-belarussas, mas há muitos desses lugares em Belarus, no momento.
Por exemplo, soldados do exército russo com equipamento militar foram alojados perto da cidade de Rechitsa, na região de Gomel, a algumas dezenas de quilômetros da fronteira com a Ucrânia. De acordo com moradores locais, os militares russos descarregaram armas em plataformas de trem e apreenderam pelo menos duas fábricas abandonadas.
Pouco antes do início das manobras, ninguém fazia segredo do fato de que as tropas russas estavam nas proximidades de Rechitsa. As autoridades locais até organizaram um "evento patriótico" intitulado "Dois Estados – Um Povo e Uma História", para o qual foram convidadas crianças em idade escolar e moradores dos arredores.
Permanência russa
A presença dos militares russos é agora sentida em muitas cidades belarussas. No entanto, o número total de militares não é conhecido. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, estima cerca de 30 mil, o serviço secreto da Estônia, 20 mil. Um comunicado do Ministério da Defesa russo afirma que "o número de participantes nas manobras, bem como a quantidade dos principais sistemas de armas abrangidos pelo Documento de Viena de 2011, não excedem os parâmetros nele especificados". Isso seria menos de 9 mil soldados.
No entanto, há dúvidas entre os cidadãos belarussos de que todo o contingente militar russo será retirado de seu país após o término dos exercícios. Dada a situação relativa à Ucrânia, esse pode se tornar mais um fator de tensão na região.
Um major de uma unidade militar belarussa envolvida em manobras anteriores comentou à DW que atualmente não vê razão para que os militares russos permaneçam em Belarus. "Eles provavelmente precisarão de mais tempo para retornar às suas bases. Algumas unidades da Rússia devem estar no nosso país até fins de fevereiro, mas é improvável que fiquem em Belarus permanentemente", disse, em condição de anonimato.
Antes, foi relatado que as tropas do Distrito Militar Oriental da Rússia haviam sido transferidas para Belarus a fim de participar dos exercícios. Pela primeira vez, foram vistos no campo de treinamento de Brestsky os sistemas de mísseis terra-ar de longo alcance S-400 Triumf, importados pela Rússia do Extremo Oriente.