Mangás e animês: a invasão japonesa
6 de janeiro de 2003O colorido mundo das histórias em quadrinhos fica cada vez mais preto-e-branco. Há cinco anos os mangás vêm conquistando o mercado alemão: as estantes dedicadas aos gibis japoneses nas lojas são cada vez mais numerosas. Um exemplo: só na versão de bolso, a revista Dragonball vendeu 5,7 milhões de exemplares em 2002. Diga-se de passagem, esta série já se concluiu há dois anos, após um total de 42 volumes lançados.
É possível que esses números também reflitam um interesse crescente no gênero HQ em geral. Wolfgang Strzyz, organizador da mostra especial Faszination Comic, da Feira do Livro de Frankfurt, gaba-se: "Em todos os outros setores, caiu o número de visitantes, só no nosso, não". Setenta expositores participaram da mostra em 2002; no início, há três anos, eram apenas 35, e a meta de Strzyz é chegar a 100. Para ele não há dúvida: todo o setor se beneficia do boom dos mangás.
De trás para a frente
O termo man-ga tem várias acepções possíveis, dentre as quais "imagens incorretas", "imagens rápidas" e "milhões de imagens". Mesmo contrariando os usos ocidentais, a forma adotada no Japão manteve-se na Europa: impressão em preto e branco e leitura da direita para a esquerda.
Há quem diga que os heróis de olhos desmesurados e expressões exacerbadas sejam até os salvadores do mercado alemão de quadrinhos. Stephanie Schrader, da Editora Carlsen, revela: os mangás perfazem dois terços do programa da casa, responsável por Dragonball na Alemanha. Apesar dos traços estilizados, tipicamente infantis, seu protagonista defende o bem, literalmente sem cansar. Sim, pois, caso morra, tem a faculdade de ressuscitar.
Experiências do cotidiano infanto-juvenil
Segundo a Carlsen, as meninas são fãs tão ardorosas dos mangás quanto os meninos, porém dando preferência às protagonistas de seu sexo.
Um exemplo típico dessa modalidade é Wedding Peach, desenhada por Nao Yazawa e com textos de Sukehiro Tomita. Ela tem 13 anos e foi transformada num anjo de amor, com a missão de defender a Terra dos demônios. Porém, como motivos omnipresentes, estão naturalmente as paixonites de adolescente, "gamação" e ciúme. E o problema vital: como chegar até o garoto mais bonito da escola?
A explicação para este sucesso sem fronteiras é aparentemente simples: as histórias se referem direta ou indiretamente a vivências do dia-a-dia das crianças, como eventos da escola ou o primeiro amor.
Burkhard Ihme, presidente da Associação Comic Cartoon Illustration Trickfilm (ICOM) vê positivamente a invasão japonesa: os mangás conquistam novas faixas de público para a HQ, voltando a atrair os mais jovens para as lojas de revistas. E desde que diversos canais de TV passaram a transmitir os animês – a versão animada dos mangás – o faturamento das editoras aumentou bastante.
Um único senão: mesmo embolsando agradecidos o lucro dessa onda que vem do Oriente, alguns editores já temem pelo futuro dos HQs clássicos. Afinal, enquanto os mangás saem todo mês e em tiragem gigantesca, um Asterix ou Lucky Luke só chega ao mercado uma vez por ano.