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"Malaysia Airlines não deve sobreviver como é hoje"

Gabriel Dominguez (rpr)18 de julho de 2014

Especialista em setor aéreo lembra que nunca na aviação uma companhia teve que lidar com duas tragédias em menos de cinco meses. Segundo ele, falta de confiança pode significar o fim da empresa em seu formato atual.

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Foto: picture alliance / dpa

A queda do Boeing 777 no leste da Ucrânia impôs um novo baque à companhia aérea Malaysia Airlines, que menos de cinco meses antes teve que lidar com o desaparecimento, até hoje não esclarecido, do voo MH370, e ainda enfrenta prejuízos financeiros por conta disso.

Em entrevista à DW, o analista financeiro Mohshin Aziz, especialista em setor aéreo, diz que jamais na história da aviação uma companhia teve que lidar com dois desastres num espaço tão curto de tempo.

A falta de confiança na Malaysia Airlines, afirma, já é uma realidade. E, aliada aos problemas financeiros, pode tornar impossível a sobrevivência da empresa em seu formato atual.

DW: Como será o futuro da Malaysia Airlines após esse novo desastre?

Mohshin Aziz: O futuro da companhia parece desastroso, e o recente incidente na Ucrânia vai tornar as coisas ainda piores. Eu não sei como a Malaysia Airlines poderá sobreviver num futuro próximo. Mesmo antes do incidente, nós já estávamos céticos de que a empresa poderia sobreviver mais que um ano com tanto prejuízo – de até 1,56 milhão de dólares por dia. Acreditamos que a companhia, em seu formato atual de negócios, provavelmente estará falida até o fim do primeiro semestre do ano que vem.

Que impacto o desaparecimento do voo MH370 teve para a companhia?

Da perspectiva financeira, o impacto não parece tão grande – cerca de 12,5 milhões de dólares. Esse foi o gasto para lidar com o acidente. Vale lembrar, porém, que grande parte das despesas é coberta por seguradoras. Talvez o mais importante seja o fato de que houve uma queda significativa nos preços das passagens, já que muitos não querem mais viajar com a Malaysia.

Houve uma redução no número de passageiros?

Uma redução pequena, mais na China e na Austrália. Nos outros países parece que as vendas de passagens continuam estáveis. Isso com base em números de abril e maio.

MH 17 Flugzeugabsturz Ukraine 18.7.2014
Balcão fechado: empresa já enfrenta prejuízos financeiros e pode não sobreviver à falta de confiançaFoto: Getty Images

Já havia acontecido antes uma combinação assim de tragédias?

Não há precedentes em cem anos de história da aviação. Nenhuma companhia aérea teve que enfrentar o que a Malaysia Airlines está enfrentando agora: dois grandes desastres no intervalo de cinco meses.

Por que você acha que as pessoas vão parar de viajar com a Malaysia?

Muitas companhias passsaram por tragédias. E o que observamos é que as coisas costumam voltar ao normal quatro ou cinco meses depois. Mas estamos há apenas cinco meses de um grande desastre e agora temos outro.

A impressão das pessoas sobre a companhia é negativa. Muitos asiáticos são supersticiosos e provavelmente vão evitar a Malaysia por acreditar que ela está amaldiçoada. Pode parecer exagero, mas, infelizmente, a percepção é baseada em coisas irreais. Vai demorar muito até que isso seja revertido.

Qual é a importância da confiança no setor aéreo?

É essencial. Sob circunstâncias normais, preço é tudo. Mas, se a percepção de segurança não estiver presente, você pode reduzir o preço o quanto quiser que a demanda continuará fraca.

O que a Malaysia Airlines pode fazer para sobreviver?

Primeiramente, acredito que os voos domésticos têm futuro. Os malaios ainda são apegados à companhia, independentemente do que aconteça. É provável que a empresa passe apenas a operar voos na Malásia. Ela vai precisar de dinheiro, mas vai sobreviver provavelmente.

Internacionalmente, não vejo solução. A empresa está enfrentando prejuízos significativos com seu setor internacional e, após essas duas tragédias, os passageiros podem estar começando a buscar alternativas. Há grande concorrência no mercado, com pelo menos três ou cinco companhias fazendo a mesma rota.