Quando se escuta a propaganda do PT e de seus candidatos em todos os níveis políticos, tem-se a seguinte impressão: o Brasil vive a sua pior crise econômica dos últimos anos. Dez milhões de desempregados, a mais alta inflação do mundo durante a pandemia e renda em queda atestariam isso. Somente sob um novo mandato de Lula esses problemas teriam fim, e os tempos dourados, como nos anos 2000, quando o petista era presidente, retornariam.
É claro que a propaganda política destaca dois lados opostos, o certo e o errado. No entanto, a minha impressão é de que a estratégia do PT está totalmente equivocada – e pode prejudicar tanto o próprio partido quanto seus candidatos.
Pois agora o que acontece é o seguinte: a economia brasileira tem experimentado uma recuperação surpreendente nas últimas semanas. A inflação retrocedeu para cerca de 10% no acumulado de 12 meses – e continua caindo. Não está tão distante assim da inflação da Alemanha (7,9%), e igual à do Reino Unido. É possível dizer que o Banco Central do Brasil tem obtido sucesso na sua política de combate à inflação.
Além disso, projeta-se um crescimento de 2,5% a 3% para o Brasil neste ano, algo que não ocorria desde 2014. Na América Latina, apenas a economia da Colômbia tem crescido mais rapidamente.
A taxa de desemprego caiu para 9,1% – menos de 10 milhões de brasileiros estão sem emprego. Esses números foram observados pela última vez na virada de 2015 para 2016. Em 2022, foram criados mais de 1,5 milhão de novos empregos.
A taxa de investimentos está em 18,7% da força econômica, tão alta quanto há oito anos. As receitas fiscais cresceram 10% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2021, e a dívida pública caiu.
Os salários reais, já corrigidos pela inflação, aumentaram 6% neste ano. Até o final de 2022, a renda per capita pode retornar aos níveis pré-pandemia, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas.
Em resumo: a situação econômica da maioria dos brasileiros ainda é muito ruim, com mais de 30 milhões de pessoas passando fome. No entanto, mesmo assim, há uma grande quantidade de notícias boas em relação à economia – e essa é a novidade. Quando o PT invoca uma tragédia econômica em sua propaganda, corre o risco de ser visto como um profeta do apocalipse e, assim, não ser mais levado a sério.
Ao mesmo tempo, repete um erro histórico.
Nas eleições de 1994, a vitória de Lula parecia certa. Ninguém tinha dúvidas de que ele conseguiria ser eleito presidente em sua segunda tentativa. Até cinco meses antes do pleito, Lula liderava com folga, bem à frente de Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Mas, na época, o PT subestimou o impacto da reforma econômica do Plano Real, iniciado no ano anterior. O Partido dos Trabalhadores zombou da reforma, com a certeza de que esse plano econômico, tal qual tantos outros, também fracassaria.
Com as taxas de inflação em queda, porém, FHC subitamente encostou em Lula na preferência dos eleitores a partir de junho. O resto é história: em outubro, o tucano ganhou a eleição no primeiro turno. O PT havia subestimado completamente o efeito que as notícias positivas vindas da economia poderia ter sobre o eleitorado.
Ainda faltam pouco menos de dois meses para o provável segundo turno. É bem possível que o clima possa mudar. Lula e o sua campanha não deveriam subestimar novamente a importância da economia.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.