Mais um ex-diretor da Siemens vai a julgamento na Alemanha
6 de setembro de 2013Começou na manhã desta sexta-feira (06/09), em Munique, o processo contra o ex-diretor da Siemens Uriel Sharef, acusado de envolvimento no pagamento de subornos realizado pela empresa alemã a funcionários públicos argentinos em troca de um contrato de fabricação de documentos de identidade. A primeira audiência foi suspensa após uma hora de sessão, por causa de um recurso da defesa. O processo está marcado para prosseguir no dia 17 de setembro.
Sete anos depois de a revelação dos subornos da Siemens causar o maior escândalo de corrupção da história corporativa da Alemanha, o ex-membro do conselho executivo do conglomerado responde ante a Justiça alemã por tripla fraude em relação a um contrato para a produção de carteiras de identidade com tecnologia digital.
A promotoria acusa o ex-executivo de acobertar um sistema de caixa dois e de pagamento de propinas pela Siemens a membros do governo argentino em 2003, em troca de um grande contrato de produção de cédulas de identidade mais seguras contra falsificação. Segundo a acusação, a Siemens teria pago pelo contrato cerca de 9,5 milhões de dólares de suborno.
Problemas em série
O processo começa no momento em que o grupo alemão é centro de um escândalo no Brasil. No mês passado, a Siemens relatou às autoridades brasileiras ter participado de um cartel em licitações para a compra de equipamento ferroviário e para a construção e manutenção de linhas de trens e metrô no Distrito Federal e em São Paulo.
A empresa está sendo investigada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pelo Ministério Público Estadual de São Paulo e pela Polícia Federal. Também está sendo processada pelo governo de São Paulo, que pede na Justiça ressarcimento pelos danos causados ao patrimônio público por um suposto cartel.
O escândalo argentino atinge uma série de antigas autoridades do país. Entre as pessoas que receberam propina estariam ministros e secretários de Estado. Até mesmo o ex-presidente Carlos Menem teria embolsado dinheiro da Siemens. Na época, corrupção não era punida tão severamente como hoje na Alemanha.
"Com certeza, a Siemens teve durante muitos anos um sistema de caixa dois", reconhece Hans Leyendecker, um dos jornalistas investigativos mais proeminentes da Alemanha e que cobre o escândalo da Siemens para o jornal Süddeutsche Zeitung.
Uma série de executivos da Siemens teria conseguido conquistar contratos importantes através de suborno. A própria empresa não se preocupava com os casos de corrupção. "Funcionários descobertos nesses casos eram, em parte, transferidos ou promovidos", salienta Leyendecker.
Processo arquivado
O julgamento de Uriel Sharef não é o primeiro envolvendo um alto executivos da Siemens. Dois anos atrás, o ex-diretor Thomas Ganswindt foi processado por envolvimento num esquema de caixa dois na Siemens. Os juízes consideraram a culpa pessoal do acusado tão pequena, que arquivaram o processo em maio de 2011. Ganswindt teve, entretanto, que pagar multa de 175 mil euros.
Ao todo, o escândalo, revelado no fim de 2006, custou ao grupo cerca de 2,9 bilhões de euros, incluindo multas, custos judiciais e pagamentos adicionais de impostos. Segundo estimativas, a Siemens teria investido ao longo dos anos cerca de 1,3 bilhão de euros ilegalmente para ter acesso a lucrativos contratos.
A ONG Transparência Internacional observa o processo com grande interesse. "Só no tribunal, quando as testemunhas são chamadas, é que os detalhes do caso vêm à tona", afirma Christian Humborg, diretor da seção alemã da ONG.
Ele acha importante, por isso, que o processo seja levado até o final e que não acabe como no caso de Ganswindt, quando houve arquivamento em troca de multa. "Quando o processo é arquivado, a investigação também não prossegue", lamenta.
O jornalista Hans Leyendecker acredita que o grupo sediado em Munique aprendeu a lição. "Temos a impressão de que ocorre uma grande faxina na Siemens e que algo mudou na companhia", avalia. "Embora a reputação da Siemens não seja das melhores, ela não é mais tida como um exemplo de corrupção na Alemanha", afirma, observando que a empresa hoje tem uma estratégia de tolerância zero no que diz respeito a corrupção: "Quem aceitar propina, tem que sair."