Mais de um milhão saem às ruas no Brasil em noite tensa
21 de junho de 2013A mobilização mais maciça desde o início, há dez dias, dos protestos contra o alto custo de vida, falhas nos sistemas estruturais do país e os gastos excessivos com eventos esportivos internacionais no Brasil levou mais de um milhão de pessoas às ruas de dezenas de cidades brasileiras nesta quinta-feira (20/06).
As manifestações já estavam previstas e foram mantidas depois do anúncio, um dia antes, de algumas cidades – incluindo Rio de Janeiro e São Paulo – de que revogariam os aumentos das tarifas de transporte público. Os reajustes foram o estopim de protestos na cidade de São Paulo na semana passada e se alastraram pelo país, com manifestantes ampliando a lista de exigências para mais investimentos em saúde, educação, combate à corrupção e outras reivindicações.
Numa noite marcada pela tensão, uma primeira morte foi registrada em Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo. Um jovem foi atropelado por um carro que avançou sobre um grupo de pessoas durante a passeata na cidade.
Com a massificação dos protestos, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião ministerial para a manhã desta sexta-feira (21/06), cancelando viagem que tinha planejado para o Japão. A reunião, que deverá discutir medidas emergenciais para conter as manifestações no Brasil, deverá incluir ministros próximos da presidente, como José Eduardo Cardozo (Justiça).
Confrontos em Brasília
Brasília foi palco de tensão durante os protestos desta quinta. Entre 35 e 40 mil pessoas ocuparam a região central da capital federal, segundo dados oficiais. Mais de 120 pessoas teriam ficado feridas, incluindo dez policiais. Houve pelo menos três prisões, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (DF).
A concentração em Brasília começou pacífica, por volta das cinco da tarde, no Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Os cartazes dos manifestantes expressavam as reivindicações mais comuns: combate à corrupção, investimentos em saúde e educação, gastos excessivos com Copas e direitos das mulheres e dos homossexuais.
Os amigos Aryel Nascimento, de 21 anos, e Brenda Diniz, de 17, levavam cartaz que pedia, em inglês, educação, saúde e segurança. "Quero que os estrangeiros vejam", disse Aryel. Já Brenda considera que os protestos são a prova de que os jovens abriram os olhos para a política. "O que eles [os mais velhos] não dão conta de correr atrás, a gente corre atrás."
Por volta das cinco horas da tarde, a marcha seguiu pela Esplanada dos Ministérios em direção à Praça dos Três Poderes. Lá, centenas de policiais cercavam a Câmara e o Senado, estratégia adotada pelas autoridades para evitar a ocupação registrada na última segunda-feira (17), quando cinco mil pessoas subiram no Congresso. Cerca de 3.500 policiais foram deslocados para o local.
Já diante do Congresso, algumas pessoas que estavam mais próximas da barreira provocavam atirando fogos de artifício em direção aos policiais, que acabaram revidando com bombas de gás. Frustrado, o grupo mais exaltado seguiu em direção ao Palácio do Planalto – sede do Executivo Federal. Sem conseguir avançar, eles voltaram ao Congresso.
Foco de incêndio no Itamaraty
Após ameaçarem invadir o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, parte dos manifestantes se dirigiu ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério de Relações Exteriores. Apesar dos apelos à não-violência vindos de grande parte dos manifestantes, um grupo que se mantinha à frente entrou em confronto com a polícia. Alguns jogaram pedras e garrafas com coquetel molotov contra a fachada do prédio. Vidros foram quebrados e alguns manifestantes conseguiram acessar a rampa principal do edifício. A tropa de choque impediu o avanço dos invasores.
Em entrevista à rede de rádios CBN, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que os danos foram consideráveis. "Este é um patrimônio da nação, que representa a busca do entendimento pelo diálogo. Vandalismo como este não pode se repetir."
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF, duas pessoas que invadiram o Itamaraty foram detidas. Manifestantes também acenderam várias fogueiras no gramado na frente do Congresso, além de quebrarem pontos de ônibus e placas de trânsito.
Protestos pelo país
No Rio de Janeiro, a Polícia Militar estimou em 300 mil o número de participantes na manifestação desta quinta-feira. Depois de um início pacífico, houve confronto com a polícia em alguns pontos da cidade, incluindo a frente do palácio da prefeitura. Manifestantes teriam quebrado vitrines, houve saques em pelo menos uma loja e tumultos. Pelo menos 60 pessoas teriam ficado feridas, incluindo um jornalista da TV Globo, que teria sido atingido por uma bala de borracha. A polícia também usou gás lacrimogêneo para conter os protestos.
Em São Paulo, o sétimo ato co-organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) reuniu 100 mil pessoas, segundo as autoridades. A passeata foi pacífica durante a maior parte do tempo, mas houve registro de alguns confrontos entre os próprios manifestantes, que rejeitaram manifestações ligadas a partidos políticos.
Em Salvador, palco da primeira manifestação da tarde, confrontos aconteceram entre parte dos cerca de 20 mil manifestantes e os policiais. Os manifestantes incendiaram um ônibus e atiraram pedras num microônibus da Fifa, organizadora da Copa das Confederações que acontece atualmente no país e um dos principais alvos das mobilizações.