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Mais de 400 morreram ao atravessar o Mediterrâneo em 2023

13 de abril de 2023

Chefe de agência da ONU diz que mortes de migrantes que tentam chegar à Europa são "intoleráveis". Número de travessias aumentou mais de 300% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Itália declara estado de emergência.

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Embarcação com migrantes no Mediterrâneo
Embarcação com migrantes no MediterrâneoFoto: Sea Watch/AP/picture alliance

Mais de 400 imigrantes e refugiados morreram afogados no início de 2023 enquanto tentavam cruzar o mar Mediterrâneo do norte da África para a Europa. É o maior número de mortes nos últimos seis anos registrado em um trimestre, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira (12/04).

No total, a OIM relatou 441 mortes entre janeiro e março na rota de imigração mais mortal do mundo, acrescentando que a contagem provavelmente está incompleta. Cerca de metade dessas mortes estão relacionadas a atrasos nos esforços de resgate e, em um caso, à ausência de qualquer missão de resgate, afirmou.

"A persistência da crise humanitária no Mediterrâneo central é intolerável", disse o diretor-geral da OIM, António Vitorino. "Com mais de 20.000 mortes registradas nesta rota desde 2014, temo que essas mortes tenham se normalizado. Os Estados devem responder."

Milhares de imigrantes, em sua maioria africanos, embarcam na perigosa jornada das costas da Líbia e do Egito, muitas vezes em pequenos barcos infláveis. Esta rota "central" é distinta da travessia ocidental de Marrocos para a Espanha.

Frequentemente, os navios afundam, como no caso de um naufrágio mortal na região da Calábria, no sul da Itália, no final de fevereiro, que matou pelo menos 72 pessoas.

Diminuição na segunda principal rota migratória 

Também nesta semana, a agência fronteiriça da União Europeia (UE), Frontex, apontou que o número de travessias ilegais do Mediterrâneo Central aumentou 305%, para quase 27.651, no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2022.

Só em março, o número de migrantes e refugiados que efetuaram a travessia do mar Mediterrâneo aumentou nove vezes em comparação com o do mesmo mês no ano passado, para cerca de 13.000.

No total, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira da UE (Frontex), detectou 54.000 entradas ilegais nas fronteiras comunitárias do bloco no primeiro trimestre de 2023, 26% que no mesmo período do ano passado.

Os Bálcãs ocidentais (zona que atravessa a Macedônia do Norte, a Sérvia e países da UE como a Croácia e a Eslovênia) continuaram sendo a segunda rota migratória mais ativa depois do Mediterrâneo Central, com 14.858 detecções entre janeiro e março. No entanto, este número representou uma queda de 22% em relação ao mesmo período de 2022.

"É crucial que a Europa desperte e intervenha"

A Itália anunciou na terça-feira um estado de emergência na imigração após um "aumento acentuado" nos fluxos no Mediterrâneo, em uma medida que visa uma melhor gestão das chegadas de imigrantes e das instalações de repatriação.

A medida, proposta pelo ministro de Proteção Civil e Políticas Marítimas, Nello Musumeci, e com um financiamento inicial de 5 milhões de euros, será implementada em todo o território nacional devido ao aumento excepcional do fluxo de imigrantes através das rotas do Mediterrâneo. No fim de semana da Páscoa, 3.000 migrantes chegaram à Itália.

O vice-primeiro-ministro da Itália, o ultradireitista Matteo Salvini, havia advertido horas antes que seu país é "absolutamente incapaz" de lidar com "mil chegadas por dia" de imigrantes e que "é crucial que a Europa desperte e intervenha"  "Estão há anos falando, mas nunca moveram um dedo, e é hora de mostrar que existe uma comunidade, uma União, e que a solidariedade não é responsabilidade apenas de Itália, Espanha, Grécia ou Malta. Porque mil chegadas por dia somos absolutamente incapazes de sustentar econômica, cultural e socialmente", declarou Salvini.

Em duas operações complexas e longas, a Guarda Costeira interceptou na segunda-feira duas embarcações com 800 e 400 pessoas em águas próximas à Sicília e à Calábria, no sul do país, que se somaram às quase 2.000 pessoas que as autoridades italianas já haviam resgatado em outras operações desde sexta-feira.

jps (Reuters, AFP, Lusa, EFE)