Maioria dos deputados réus no STF votou por Temer
3 de agosto de 2017Logo após o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar a denúncia criminal por suspeita de corrupção contra o Michel Temer, o presidente fez um pronunciamento afirmando que o Ministério Público havia aberto "um precedente perigosíssimo". Em julho, foi a vez de o advogado do presidente, Antonio Mariz de Oliveira, afirmar em uma sessão da Câmara: "Nós precisamos nos defender de um avanço indevido do Ministério Público."
O recado foi claro: todos podiam se tornar alvos, e a resposta era a união em torno da figura de Temer.
Uma parte dos deputados parece ter concordado. Entre aqueles que estão sendo julgados no STF, 70% disseram "sim" ao relatório que pedia a rejeição da denúncia e consequentemente salvaram Temer. Foram 36 de 51 deputados que respondem a uma centena de ações no tribunal. Outros 12 votaram pela continuidade da denúncia e dois se ausentaram.
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O número pode variar já que vários processos seguem em segredo de Justiça ou em alguns casos a denúncia já caducou, apesar de o sistema do STF ainda apontar que esses deputados ainda estão sendo julgados.
Entre os deputados que votaram a favor de Temer estão velhas figuras conhecidas da Justiça, como Paulo Maluf (PP-SP), condenado em maio a sete anos e nove anos de cadeia por lavagem de dinheiro e que ainda é réu em outra ação penal. Ao declarar seu voto, disse: "Pelo progresso e pelas reformas, voto sim".
O deputado Wladimir Costa (SD-PA), que ganhou notoriedade nos últimos dias ao tatuar o nome "Temer" na altura do ombro, também é réu em duas ações, uma por crime de peculato e outra por ameaça. Quando votou, disse ao microfone: "Temer é um homem decente, preparado, transparente, e nós vamos votar para a oposição chorar hoje aqui com a vitória de Michel Temer!"
O recordista de ações no Supremo, Roberto Góes (PDT-AP), que tem nove processos penais, também votou para salvar o presidente. Há ainda um deputado réu por envolvimento no caso da máfia das sanguessugas, Nilton Capixaba (PTB-RO). O deputado Alberto Fraga (DEM-DF), réu em quatro ações no STF, também votou pelo relatório. "Para que o Brasil não se torne uma Venezuela, que é o que eles querem, voto sim", disse em sua justificativa.
No grupo também estão os dois únicos deputados federais que se tornaram réus por envolvimento nos desvios investigados pela Operação Lava Jato: Nelson Meurer (PP-PR) e Aníbal Gomes (PMDB-CE). Já condenado, o deputado presidiário Celso Jacob (PMDB-RJ), que durante o dia fica na Câmara e à noite dorme em um presídio, também votou contra a denúncia. Durante a votação, Jacob, que foi condenado por falsificação de documento público e dispensa de limitação, se limitou a dizer "voto com o relatório da CCJ, voto sim".
Já entre os que votaram pela continuidade da denúncia estão Jair Bolsonaro (PSC-RJ, de mudança para o PEN), que aparece como réu por incitação ao crime de estupro e por uma queixa-crime por injúria e a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT-CE), que é réu por crime de responsabilidade.
Lava Jato
No grupo de 61 deputados federais alvos de inquéritos no Supremo por envolvimento na Lava Jato, 59% votaram para salvar Temer – um total de 36 pessoas. Outros 24 deputados votaram pelo prosseguimento da denúncia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também é alvo de dois inquéritos, por corrupção e lavagem de dinheiro, não votou. Nesse grupo também estão os deputados Nelson Meurer e Aníbal Gomes, que já são réus.
Ainda entre os apoiadores de Temer que são alvos da Lava Jato estão o sindicalista Paulo Pereira da Silva (SD-SP), Celso Russomano (PRB-SP), o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) e Ônix Lorenzoni (DEM-RS).
Entre os investigados que votaram pelo prosseguimento da denúncia estão 13 deputados do PT e um do PC do B, entre eles Carlos Zaratinni (PT-SP) –um dos adversários mais barulhentos de Temer na votação – , Vicentinho (PT-SP) e Zeca Dirceu (PT-PR). O ex-presidente da Câmara Waldir Maranhão (PP-MA) também votou contra Temer. Outra investigada que votou contra o presidente, a deputada Maria do Rosário (PT-RS), disse em sua justificativa: "Meu voto é contra a corrupção, é contra Temer, é pela decência, é pelas diretas já."