Paladino de Mendelssohn
5 de fevereiro de 2009Felix Mendelssohn-Bartholdy é um dos grandes compositores do século 19, cuja obra é tocada nas salas de concerto de todo o mundo. Entretanto seu significado é especial para a cidade de Leipzig, no Leste alemão. Lá ele foi regente importante da Orquestra da Gewandhaus; fundador do Conservatório, atual Escola Superior de Música e Teatro e, por último, mas não menos importante, redescobridor da obra de Johann Sebastian Bach.
Todos estes méritos parecem suficientemente óbvios. Entretanto, o fato de serem reconhecidos hoje deve-se, sobretudo, ao trabalho de Kurt Masur, lenda musical viva e há longos anos maestro titular da Gewandhaus.
A sedução do proibido
Alemanha, no final da década de 1930. Enquanto o governo nazista arrastava o país à guerra mundial, Kurt Masur passava uma infância despreocupada em Brieg, Silésia (atualmente Brzeg). Seus pais gozavam de modesto bem-estar, graças ao negócio familiar de eletrodomésticos, e ofereceram um sólida formação musical ao menino. Foi durante esta que ele entrou em contato com a música mendelssohniana, de forma bastante emocionante.
Aos dez anos, quando Kurt começava a dominar melhor o instrumento, sua professora de piano lhe disse, certo dia: "Vou lhe dar as Canções sem palavras de Mendelssohn, mas você vai ter que fechar as janelas, para que ninguém o ouça, pois é música proibida". Atraído por um argumento como este, é claro que o interesse do garoto foi imediato.
No início da década de 50, Masur iniciou o estudo de regência na Escola Superior de Música de Leipzig, que a partir do final da guerra retomara o nome de seu fundador, Felix Mendelssohn. Juntamente com quatro outros estudantes de regência, o jovem fundou um grupo de música de dança, a fim de ganhar uns marcos-extra.
"Nós nos intitulávamos 'Mendelssohn-Rhythmiker'. Mas aí a coisa ficou séria, quando começamos, é claro, a estudar as sinfonias de Mendelssohn e outras coisas, canções que nos fascinavam. E aí dizíamos: 'Caramba, por que isso foi proibido?'"
À altura de Beethoven
Depois de formado, Kurt Masur passou a reger em Halle, Erfurt, Schwerin e na Komische Oper de Berlim. Em 1970, foi convocado como titular da ilustre Orquestra da Gewandhaus, em Leipzig – e, por assim dizer, sucessor de Mendelssohn. A partir daí, ocupou-se intensamente da vida e obra do compositor, percebendo que o banimento e desprezo durante a época nazista ainda se faziam sentir.
Acima de tudo, Masur não entendia que o músico de origem judia fosse apenas "meio" celebrado, e não, por exemplo, à altura de um Beethoven. "Eu queria mudar isso, desde o início! Não havia turnê com a Gewandhaus em que eu não incluísse Mendelssohn no programa."
Através do maestro, a Gewandhaus se transformou, nas décadas de 1970 e 1980, na mais importante instância de preservação da música mendelssohniana na Europa. Começava uma renascença de suas obras, a qual, contudo, de início se limitou apenas à RDA; no oeste da Alemanha e na Europa Ocidental, os interesses eram bem outros.
Religiosidade para além das confissões
Com a colaboração de musicólogos, Masur descobriu e apresentou uma série de obras até então desconhecidas do músico hamburguês, como, por exemplo, as sinfonias de juventude. Sua constatação: "Caramba, este compositor tinha que ocupar o mesmo posto que Beethoven. Por exemplo, só posso comparar o [oratório de Mendelssohn] Elias com a Missa solene [de Beethoven]. Ele tem a mesma força, a mesma moral, a mesma postura em relação a Deus".
O maestro dá grande importância ao fato de Felix Mendelssohn-Bartholdy não ter sido cristão "no sentido rotineiro", mas sim por convicção, acreditando que "a fé em si, independente da confissão, transforma as pessoas em pessoas melhores". Tudo o que escreveu seria no sentido de unir as diferentes religiões do mundo.
Masur vê questionamentos religiosos, por exemplo, também na cantata Primeira noite de Valpúrgis, baseada em Goethe. "O que ele realmente queria dizer era: por que vocês se batem uns contra os outros? Por que se matam?"
Artista responsável
Após a queda do regime comunista no Leste do país, no outono de 1989, e a reunificação da Alemanha no ano seguinte, Masur ampliou ainda mais seu engajamento por Mendelssohn, logo coletando doações para erigir-lhe uma estátua diante da Gewandhaus.
Também graças a contribuições de todo o mundo, o monumento original, destruído pelos nazistas em 1933, pôde ser reconstruído em 2009, e se encontra diante da Igreja de São Tomás, frente a frente com a estátua de J.S. Bach, cofinanciada por Mendelssohn.
"Esta é uma prova de como esse homem tentava penetrar na ordem das coisas, de quão bem ele avaliava o poder da música. E como se sentia responsável – ao ocupar um posto como o de mestre-de-capela da Gewandhaus – por influenciar o desenvolvimento e a formação das pessoas."
Conquistas palpáveis
Especialmente por este motivo, Kurt Masur insiste que o compositor esteja mais presente na consciência dos alemães. No início dos anos 90 ele se empenhou, em parte com seus fundos pessoais, pela restauração da antiga casa de Mendelssohn em Leipzig, então apenas uma ruína, condenada à demolição. Uma grande descoberta e menina dos olhos de Masur são as pinturas nas paredes, do punho do próprio Mendelssohn.
Hoje, as dependências fielmente reconstruídas contam entre as principais atrações turísticas da cidade, constando do "Livro Azul" do patrimônio cultural do Leste alemão. Um sucesso palpável do empenho de Masur pelo compositor.
"Um presente deste ano Mendelssohn será que todos poderão dizer: agora temos em Leipzig suficientes 'mendelssohnianos', como um monumento. Não se pode mais passar e dizer: 'Quem é esse aí?' E sim se reconhecerá logo: 'Caramba, Leipzig é uma cidade-Mendelssohn, e não só uma cidade bachiana'."