Maduro bane partidos de oposição de eleição presidencial
11 de dezembro de 2017Os partidos que não participaram e que apelaram à abstenção nas eleições municipais de domingo (11/12), na Venezuela, estão impedidos de participar na próxima eleição presidencial, anunciou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Os partidos de oposição Ação Democrática, Primeiro Justiça e Vontade Popular – três das quatro principais legendas da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) – se recusaram a participar das eleições municipais em protesto contra o que classificaram de sistema eleitoral fraudulento e justificaram a ação alegando falta de confiança no Conselho Nacional Eleitoral.
"Um partido que não participou hoje não pode mais participar", disse Maduro, em coletiva onde também ressaltou como "extraordinária" a presença nas urnas. Em seguida, ele questionou o que a oposição pretende. "Se eles não querem eleições, o que eles estão fazendo? Qual é a alternativa? Guerra civil?"
"Eles [os partidos] vão desaparecer do mapa político", afirmou o presidente venezuelano. As principais figuras da oposição que lideraram protestos nas ruas do país contra Maduro, como Henrique Capriles e Leopoldo López, estariam incluídas no banimento. Capriles, ex-governador do estado de Miranda, foi banido por 15 anos de atividades políticas e López, coordenador nacional do Vontade Popular, está detido sob prisão domiciliar.
No domingo, foram realizadas eleições em todos os 335 municípios da Venezuela e para governador do estado de Zulia. O conselho eleitoral relatou uma participação de 47%, em meio ao boicote parcial da oposição. Maduro afirmou que sua legenda, o Partido Socialista Unido (PSUV) venceu em "mais de 300" dos 335 municípios. "Estou muito feliz pela nossa grande vitória", disse, em Caracas. "Agora vamos nos preparar para 2018."
O governo de Maduro e seu partido PSUV controlam a presidência, a nova Assembleia Constituinte criada por Maduro em agosto e quase todos os governos estaduais da Venezuela.
Oposição denuncia "voto de cabresto"
A coalizão opositora venezuelana MUD qualificou de fraudulentas as eleições municipais de domingo. "Novamente vimos todo o aparelho do Estado abusando do seu poder, incluindo o uso perverso da carteira 'da pátria', para submeter à vontade de um povo em situação de extrema necessidade", segundo comunicado da MUD.
A Carteira da Pátria é um censo paralelo estabelecido pelo governo, com 16 milhões de venezuelanos inscritos (a metade da população). Com ela, a administração chavista distribui ajudas sociais e alimentos subsidiados dos quais vários venezuelanos dependem.
Maduro e a cúpula chavista haviam pedido insistentemente aos eleitores para comparecer às urnas com a Carteira da Pátria, de maneira que pudessem se registrar nos postos habilitados pelo Partido Socialista Unido em frente aos colégios eleitorais. Esta prática, qualificada por alguns de ilegal, permite ao governo saber quem vai votar. Além disso, alguns opositores tacharam de falsa a informação de 47% de participação nas urnas.
No estado de Zulia, um candidato da oposição venceu a eleição de outubro. No entanto, ele se recusou a ser juramentado pela nova Assembleia Constituinte. O pleito deste domingo foi vencido por um candidato chavista pró-Maduro.
Hiperinflação e default
A votação de domingo ocorreu em meio a um contexto de hiperinflação, falta de bens e serviços e um incumprimento na quitação de dívidas. Estatísticas publicadas pela Assembleia Nacional – controlada pela oposição – na semana passada mostraram que a inflação em novembro foi de quase 57%. Ao mesmo tempo, a Venezuela deixou de quitar dois títulos – não pagou um cupom de 183 milhões de dólares, segundo relato da agência de rating S&P na sexta-feira.
A frágil situação econômica e a pressão internacional levaram o governo a conversar com membros dos partidos oposicionistas como o objetivo de reduzir as sanções dos EUA. Os delegados da oposição pediram por garantias de uma eleição presidencial livre e justa em 2018. As negociações devem se retomadas nesta semana.
PV/efe/dpa/afp/ap