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PolíticaFrança

Macron perde maioria no Parlamento francês

19 de junho de 2022

Coalizão do presidente francês não elegeu bancada suficiente para aprovar projetos. Nova coalizão de esquerda será a maior força de oposição, e extrema direita teve o melhor resultado da sua história.

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Macron deixa cabina de votação após votar no segundo turno das eleições legislativas
Macron deixa cabina de votação após votar no segundo turno das eleições legislativasFoto: Michel Spingler/AP Photo/picture alliance

A coalizão do presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu a maioria governamental na Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento da França, de acordo com os resultado oficiais do segundo turno das eleições legislativas, realizadas neste domingo (19/06) em todo o país.

A coalizão de Macron, Juntos, seguirá sendo a maior bancada da Assembleia Nacional, mas não terá os 289 assentos necessários para uma maioria governamental. Segundo os resultados finais oficiais, a coalizão do presidente francês terá de 245 cadeiras.

O resultado afeta a governabilidade de Macron e a sua capacidade de implementar as reformas prometidas na eleição presidencial, realizadas em abril, que deu a ele um segundo mandato.

A Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), uma coalizão de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon, do partido A França Insubmissa, que abrange também o Partido Socialista, os comunistas e os verdes, deverá ser a principal força de oposição, com 131 assentos.

A extrema direita, representada pelo partido Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, ganhou 89 assentos – contra oito assentos conquistados nas eleições anteriores – e se tornará a terceira maior força do Parlamento.

A direita tradicional, representada pelo Os Republicanos/União dos Democratas e Independentes, terá 61 assentos. 

Ministro fala em "choque democrático", e Mélenchon ressalta derrota de Macron

O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, afirmou à emissora France 2 que os resultados eram um "choque democrático", mas disse que a coalizão de Macron ainda teria a maior bancada no Parlamento e que seria vital para o país alcançar acordos com outras legendas. "A cultura do compromisso é uma que teremos que adotar, mas precisamos fazer isso em torno de valores, ideias e projetos políticos claros para a França", afirmou.

Mélenchon disse que o resultado da eleição mostrava, sobretudo, a derrota da coalizão de Macron. "[É uma] situação totalmente inesperada. A derrota do partido presidencial é completa e não há uma maioria clara à vista", disse. "A França se expressou e, precisa ser dito, com uma voz insuficiente, pois o nível de abstenção ainda está muito alto, o que significa que uma grande parte da França não sabe em que direção seguir."

Mélenchon discursa
Mélenchon: "A derrota do partido presidencial é completa"Foto: BERTRAND GUAY/AFP

Jordan Bardella, presidente do partido da extrema direita, disse que o resultado de sua legenda havia sido um "tsunami". Le Pen afirmou que os eleitores "haviam se manifestado e enviado um forte grupo do Reagrupamento Nacional para a Assembleia Nacional".

Coabitação exigirá negociações

O forte desempenho da coalizão de esquerda tonará muito mais complexa para Macron a tarefa de implementar seu programa de governo, que inclui cortes de impostos e o aumento da idade mínima de aposentadoria de 62 para 65 anos.

Se as projeções se confirmarem, Macron precisará negociar caso a caso com os parlamentares da centro-esquerda ou da direita tradicional para tentar aprovar os projetos de interesse do seu governo.

O governo francês também poderia usar ocasionalmente uma medida especial prevista pela Constituição do país que permite a edição de uma lei sem uma votação no Parlamento.

Apoiadores de Mélenchon comemoram o resultado da eleição, em Paris
Apoiadores de Mélenchon comemoram o resultado da eleição, em ParisFoto: Michel Euler/AP Photo/picture alliance

A coabitação – como é chamado um governo de minoria na França – ocorreu pela última vez em 2002, entre o presidente conservador Jaques Chirac e seu primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, e geralmente leva a impasse político.

A coalizão de esquerda fez campanha defendendo o congelamento de preços de bens essenciais, a redução da idade mínima de aposentadoria para 60 anos, a limitação de heranças e a proibição de que companhias que paguem dividendos a acionistas demitam trabalhadores. Os aliados de Macron afirmam que Mélenchon seria um "agitador sinistro" que destruiria o país.

As eleições parlamentares deste ano foram marcadas em grande parte pela apatia do eleitorado – mais da metade dos eleitores aptos a votar não compareceram às urnas.

Audrey Paillet, 19 anos, que votou em Boussy-Saint-Antoine, no sudeste de Paris, estava triste por tão poucas pessoas terem comparecido. "Algumas pessoas lutaram para votar. É uma pena que a maioria dos jovens não faça isso", disse.

Agenda doméstica pedirá mais de Macron

Macron havia feito um apelo aos eleitores no início desta semana, antes de uma viagem à Romênia e à Ucrânia, advertindo que uma eleição inconclusiva, ou um Parlamento paralisado, colocaria a nação em perigo.

"Nestes tempos conturbados, a escolha que vocês farão neste domingo é mais crucial do que nunca", disse ele na terça-feira, antes de decolar para visitar militares franceses mobilizados perto da Ucrânia. "Nada seria pior do que acrescentar uma desordem francesa à desordem mundial."  

Alguns eleitores concordaram, e se posicionaram contra a escolha de candidatos dos extremos políticos que vinham ganhando popularidade. Outros argumentaram que o sistema francês, que concede amplo poder ao presidente, deveria dar mais voz a um Parlamento multifacetado e funcionar com mais controles sobre o Executivo.

"Não tenho medo de ter uma Assembleia Nacional mais dividida entre os diferentes partidos. Espero um regime que seja mais parlamentar e menos presidencial, como você pode ter em outros países", disse Simon Nouis, um engenheiro que votou no sul de Paris.

O fracasso da Macron em obter uma maioria pode ter também ramificações pela Europa. Alguns analistas prevêem que o líder francês terá que gastar o resto de seu mandato concentrando-se mais em sua agenda doméstica em vez de sua política externa, reduzindo o espaço para a atuação de Macron como um "estadista do continente".

bl (AP, Reuters)