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Líderes da Alemanha e da França têm um histórico de parcerias e alianças

15 de maio de 2012

Depois de Merkozy é a vez de Merkollande? Uma olhada no passado mostra que presidente francês e chanceler federal alemão costumam trabalhar bem juntos, principalmente quando vêm de campos políticos diferentes.

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Foto: dapd

Passeios pela praia de Deauville, encontros e telefonemas conspiratórios, trocas de olhares significativas durante entrevistas coletivas para a imprensa: quem no futuro se lembrar da parceria franco-alemã conhecida como Merkozy (expressão criada a partir dos sobrenomes da chanceler federal Angela Merkel e do ex-presidente Nicolas Sarkozy) terá essas imagens em mente. Na lembrança ficam também as muitas reuniões noturnas em busca de uma solução para a crise do euro e as tentativas de tirar juntos a carroça europeia do brejo das dívidas.

Merkozy já é história

Mas tudo isso é agora coisa do passado. O conservador Sarkozy não foi reeleito, e em seu lugar ocupa a presidência da França o socialista François Hollande. Nesta terça-feira (15/03), o mesmo dia de sua posse em Paris, Hollande é recebido à noite por Merkel em Berlim. Resta saber se no lugar da antiga parceria Merkozy surgirá uma Merkollande.

Deutsche Staats- und Regierungschefs auf Antrittsreise
Merkel e Sarkozy: melhores amigosFoto: FRANKA BRUNS/AP/dapd

Combinações de nomes como essas não são novidade nas relações entre a França e a Alemanha: quando o socialista François Mitterrand deu apoio ao social-democrata alemão Helmut Schmidt na sua política favorável à chamada "decisão de via dupla da Otan", a imprensa cunhou o termo Schmitterrand para se referir à dupla de políticos. (A "decisão de via dupla da Otan" previa uma maior pressão sobre Moscou, em favor do desarmamento, conjugada com uma modernização do sistema de mísseis de médio alcance da Otan na Europa Central.)

As cooperações mais estreitas entre os líderes dos dois países se deram justamente nos casos em que as ideologias políticas eram distintas. Segundo Claire Demesmay, especialista em relações franco-alemãs do think tank Conselho Alemão de Relações Exteriores, isso acontece porque as diferenças entre a Alemanha e a França favorecem o trabalho conjunto em nível europeu. "Cooperamos bem justamente porque representamos posições distintas e, com isso, refletimos [as diferenças de] toda a União Europeia", opina Demesmay.

A ilusão da proximidade

Importante, afirma, é a capacidade de chegar a um meio termo e selar acordos. Além disso, diz ela, não se pode comparar os conservadores franceses com os alemães, nem os social-democratas alemães com os seus pares franceses, os socialistas.

Dr. Claire Demesmay
Demesmay: "Cooperamos bem justamente porque representamos posições distintas"Foto: DGAP

"Na cooperação entre governos de mesma ideologia política existe o risco de se criar uma ilusão de proximidade, que pode levar então a mal-entendidos", resume Demesmay. Os socialistas franceses, por exemplo, veem o papel do Banco Central Europeu (BCE) de uma forma totalmente diferente do que os social-democratas alemães. Enquanto aqueles exigem que o BCE repasse recursos financeiros aos Estados-membros, estes consideram isso algo impensável.

A amizade franco-alemã é a base para a integração europeia, como já declarou em 1950 o então ministro francês do Exterior e primeiro presidente do Parlamento Europeu, Robert Schuman: "A associação das nações europeias requer que os antagonismos existentes há séculos entre os dois países sejam eliminados. A obra agora iniciada deve, em primeira linha, compreender a Alemanha e a França", disse Schuman na época.

Robert Schuman ehemaliger Außenminister Frankreich
Schuman defendeu aliança franco-alemã como cerne da UEFoto: AP

O ex-chanceler federal alemão Konrad Adenauer tinha como interlocutores do lado francês, de início, dois chefes de governo sem partido: René Coty e Vincent Auriol. Aí veio Charles de Gaulle. "Adenauer e De Gaulle iniciaram a reconciliação entre os dois países, criando assim a base para as relações franco-alemãs e, com isso, também para a união da Europa", analisa Demesmay.

No início de 1963, os dois chefes de governo assinaram o Tratado do Eliseu, considerado a pedra fundamental para a cooperação franco-alemã, especialmente em termos de política externa e de segurança, bem como de política europeia. Outro ponto forte eram políticas cultural e para a juventude comuns.

As relações entre De Gaulle e os chefes de governo alemães posteriores, Kurt Georg Kiesinger e Ludwig Erhardt, não foram especialmente intensas, apesar da mesma orientação conservadora. A seguir, o social-democrata Willy Brandt também não teria muito em comum com o presidente conservador francês Georges Pompidou.

Deutschland Frankreich Konrad Adenauer Charles de Gaulle Elysee Vertrag
Adenauer e De Gaulle simbolizam amizade no passadoFoto: AP

O cerne da Europa e conversas ao pé da lareira

Uma nova era nas relações franco-alemãs começou em 1974, quando Helmut Schmidt, do Partido Social Democrata (SPD), se tornou chanceler federal e do lado francês assumiu a presidência Valéry Giscard d'Estaing, da União pela Democracia Francesa (UDF), partido de centro-direita e liberal.

Os dois políticos foram obrigados a enfrentar a crise do petróleo e suas consequências e defenderam – apesar de orientações políticas diferentes – estratégias político-econômicas semelhantes. Isso ajudou também a consolidar as conversas informais ao pé da lareira, no castelo Rambouillet, dos representantes do então G7. E a dupla estabeleceu também as bases para um sistema monetário comum na Europa, o que mais tarde levaria à criação da moeda comum, o euro.

Uma aliança ainda mais próxima existiu entre o conservador Helmut Kohl e o socialista François Mitterand. Sob a égide de ambos foram criados os organismos e instrumentos que abriram caminho para a União Europeia. Em 1986, a implementação de liberdades econômicas básicas – como a livre circulação de pessoas, mercadorias e capital – estabeleceu os fundamentos do mercado interno europeu. Até hoje, é esta a base econômica da União Europeia.

Reconciliação, cooperação e amizade

A União Europeia foi fundada com o Tratado de Maastricht, em 1992, também na era Kohl-Mitterrand. O Tratado do Eliseu, que regulamenta a cooperação entre os países europeus do ponto de vista da política de segurança, foi por eles ampliado. Desde 1988, reúnem-se anualmente, em encontro do Conselho Franco-Alemão de Defesa e Segurança, os titulares dos ministérios do Exterior e da Defesa, bem como os responsáveis pelas Forças Armadas dos dois países.

Foi criado também o Conselho Econômico e Financeiro Franco-Alemão. E outro fato de grande importância: os dois líderes encontraram-se no local da batalha de Verdun, ocorrida durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de enfrentar o difícil passado dos dois países.

Francois Mitterrand bei Helmut Kohl in Verdun Frankreich
Mitterrand e Kohl em Verdun: encontro históricoFoto: picture-alliance/ dpa

Durante os governos do francês Jacques Chirac e do alemão Gerhard Schröder, a cooperação entre as duas nações institucionalizou-se ainda mais: os chamados Encontros de Blaesheim, na cidade francesa localizada na Alsácia, reúnem desde 2001 os chefes de governo dos dois países. Os dois líderes divergiram, porém, sobre temas como o Tratado de Nice e a reforma das instituições europeias.

Segundo Demesmay, na maioria dos casos os líderes dos dois países acabaram desenvolvendo uma relação de amizade – mesmo que ela não seja imprescindível para uma boa cooperação entre a França e a Alemanha.

Autor: Daphne Grathwohl (sv)
Revisão: Alexandre Schossler