Mundo árabe
12 de fevereiro de 2011Após a renúncia de Hosni Mubarak, a atenção internacional volta os olhos para os outros países do mundo árabe. Na Argélia, milhares de pessoas saíram em passeata pelas ruas, apesar da proibição de manifestações que impera no país.
Grupos de oposição esperam que a queda do presidente egípcio desencadeie uma série de destituições de governantes tiranos em toda a região, entre outros a de Abdelaziz Bouteflika, que governa a Argélia desde 1999.
Cansados da repressão
A passeata organizada pelos adversários do regime em Argel foi sufocada, sem maiores resistências, por forças de segurança. Somente 10 mil manifestantes, segundo os organizadores, tiveram coragem de enfrentar os 30 mil policiais armados até os dentes nas ruas da cidade.
Diversos intelectuais e personalidades ligadas ao mundo acadêmico declararam apoio à aliança pela mudança e democracia no país. A mídia local relata grande número de greves todos os dias. "As pessoas não querem mais repressão e exigem seus direitos", comentou o ativista dos direitos humanos Khelil Abdelmoumen.
Lembrança da guerra civil
Nas ruas de Argel neste sábado (12/02), contudo, quem demonstrou poder, de fato, foram as forças de segurança, com presença maciça na cidade. A passeata organizada pela oposição não pôde sair da praça 1° de Maio, como previsto. Quem tentava furar o bloqueio era atacado com cassetetes, o que fez com que pouca gente se atrevesse a se opor ao aparato policial.
"Quase ninguém na Argélia quer que haja novamente caos, violência e destruição", comenta Alexander Knipperts, da Fundação Friedrich Naumann no país. As lembranças da guerra civil nos anos 1990 ainda estão vivas na memória daqueles que presenciaram o conflito entre grupos islâmicos e defensores do governo, que custou a vida de mais de 150 mil argelinos.
O papel de Bouteflika no estabelecimento da paz no país é visto com reconhecimento por parte da população. Entre as reivindicações populares estão, contudo, o fim do estado de emergência, em vigor há 19 anos, e mais direitos para a oposição. Nem mesmo especialistas arriscam prognósticos sobre uma possível mudança de governo na Argélia.
"Ontem, manifestar. Hoje, construir"
No Egito, as comemorações pela renúncia de Mubarak perpetuaram-se no decorrer deste sábado (12/02), especialmente na praça Tahrir, no Cairo, que se tornou símbolo dos movimentos de protesto. Parte da população retomou sua rotina, sendo que em camisetas nas ruas podiam ser lidos os dizeres: "Ontem fui um manifestante, hoje reconstruo o Egito".
Os jornais locais, estampando manchetes a respeito da "revolução da juventude, que forçou a renúncia de Mubarak", foram vendidos em grandes quantidades, sendo vistos como verdadeiros suvenires em memória de um fato histórico.
Estado de alerta
Aos poucos, o país tenta recobrar a normalidade do cotidiano, após os tumultos dos últimos dias, que deixaram pelo menos 300 mortos. Os mentores dos protestos aconselham, todavia, um estado geral de alerta, apontando que os militares terão que suspender o estado de emergência com a ajuda do qual Mubarak manipulou a oposição durante décadas.
Além disso, a oposição exige a dissolução do atual Parlamento, escolhido em eleições de critérios duvidosos. O governo do Egito ficará nas mãos das Forças Armadas até a realização de novo pleito.
"Depois de Mubarak, a vez de Ali"
No Iêmen, onde o presidente Ali Abdallah Saleh governa há nada menos que 32 anos, aproximadamente 2 mil pessoas foram às ruas da capital Sana, gritando palavras de ordem como "depois de Mubarak, é a vez de Ali".
Os manifestantes foram atacados com cassetetes e facas por simpatizantes do governo, quando tentaram se aproximar da homônima praça Tahrir (praça da liberdade, em árabe), no centro de Sana. A polícia não conseguiu evitar o duelo entre opositores e defensores do governo. Saleh havia anunciado no início deste mês que não pretende se manter no cargo após o fim deste mandato.
SV/dpa/ap/afp/rtr
Revisão: Carlos Albuquerque