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Lula diz que houve conivência de militares em atos golpistas

12 de janeiro de 2023

"Estou convencido que a porta do Planalto foi aberta para essa gente entrar", afirma presidente. A jornalistas, ele reforça ainda que Forças Armadas não são poder moderador e têm papel definido na Constituição.

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Lula durante café da manhã com jornalistas no Planalto
Lula participou nesta quinta-feira de seu primeiro café da manhã com jornalistas no PlanaltoFoto: Sergio Lima/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (12/01) que alguns policiais e militares foram coniventes com os atos golpistas em Brasília no último domingo, dizendo estar convencido de que "a porta do Palácio do Planalto foi aberta" para os criminosos que invadiram e vandalizaram os palácios dos Três Poderes.

A declaração foi feita durante um café da manhã com jornalistas na capital federal. Aos repórteres, o petista afirmou ainda que vai solicitar acesso às imagens gravadas pelas câmeras de segurança dos palácios no dia da invasão.

"Eu ainda não conversei com as pessoas a respeito disso. Eu estou esperando a poeira baixar. Quero ver todas as fitas gravadas dentro da Suprema Corte, dentro do palácio", disse Lula.

"Teve muita gente conivente. Teve muita gente da PM conivente. Muita gente das Forças Armadas conivente. Estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar, porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui. Vamos com muita calma investigar e ver o que aconteceu de verdade", completou.

O presidente falou ainda sobre o papel das Forças Armadas, destacando que elas "não são o poder moderador que pensam que são".

"Esta é a imagem que eu tenho das Forças Armadas: umas Forças Armadas que sabem como seu papel está definido na Constituição. As Forças Armadas não são o poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. [...] É isso que quero que seja bem feito."

Múcio fica

O presidente também expressou confiança em seu ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que vem sofrendo desgastes desde os atos golpistas de 8 de janeiro, e disse que ele permanecerá à frente da pasta.

Ao tomar posse no início de janeiro, Múcio chegou a dizer que os acampamentos bolsonaristas em frente a quartéis pelo país – que reivindicavam uma intervenção militar ilegal contra o governo de Lula – eram uma "demonstração da democracia" e deveriam perder apoio em breve, não havendo necessidade de repressão. Menos de uma semana depois, as sedes dos três poderes em Brasília foram invadidas e depredadas por bolsonaristas radicais, que deixaram um rastro de caos e destruição no local.

Extremistas depredam sede do STF em Brasília
Em 8 de janeiro, bolsonaristas radicais invadiram e vandalizaram as sede do governo federal, do STF e do CongressoFoto: Ton Molina/AFP/Getty Images

Desde então, Múcio vem sendo alvo de críticas de aliados. "Quem coloca ministro e tira ministro é o presidente da República. O Zé Múcio fui eu quem trouxe para cá, ele vai continuar sendo meu ministro, porque eu confio nele", disse Lula.

"Se eu tiver que tirar cada ministro a hora que ele comete um erro, sabe, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil. Todos nós cometemos erros. Zé Múcio vai continuar."

Nenhum "suspeito de ser bolsonarista raiz"

Durante o café da manhã, o presidente disse ainda que "uma triagem profunda" está sendo realizada dentro do Palácio do Planalto para substituir bolsonaristas e militares por funcionários de carreira, com o objetivo de instituir novamente um gabinete civil após o governo de Jair Bolsonaro.

"Nós estamos no momento de fazer uma triagem profunda. Porque a verdade é que o palácio estava repleto de bolsonaristas, de militares, e estamos vendo se a gente consegue corrigir para colocar funcionários de carreira, de preferência funcionários civis que estavam aqui e foram afastados, transferidos de departamento. Para que isso se transforme num gabinete civil", declarou.

Embora tenha dito que nenhum suspeito de ser "bolsonarista raiz" pode permanecer lotado no Planalto, ele negou que vá perseguir antigos apoiadores da Operação Lava Jato ou que tenha a intenção de se rodear somente de petistas em seu governo.

"Eu acho que no palácio é preciso que cada ministro saiba o seguinte: não pode ficar ninguém que seja suspeito de ser bolsonarista raiz aqui dentro. Eu também não quero fazer um processo de perseguição porque um dia o cara foi lavajatista", afirmou.

"Se o cara é um funcionário de carreira e ele presta o serviço dele com retidão, por que ele não pode ficar? Eu não quero fazer um palácio de petistas, quero fazer um palácio de pessoas sérias, que trabalham, que tenham compromisso com o país, com o povo e que cumpram com as funções. É assim que vai funcionar", prometeu o presidente.

ek (ots)