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Lula demite número 2 da Abin citado em investigação da PF

31 de janeiro de 2024

Alessandro Moretti, diretor-adjunto da agência, foi acusado pela Polícia Federal de tentar interferir em apuração sobre monitoramento ilegal de celulares durante o governo Bolsonaro.

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Logo da Abin
Segundo a PF, Abin teria sido usada para espionar adversários de BolsonaroFoto: JoŽdson Alves/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou nesta terça-feira (30/01) o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti. A decisão é um desdobramento de uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre um suposto esquema de monitoramento ilegal de celulares baseado em uma ferramenta da Abin durante o governo Jair Bolsonaro.

Segundo a PF, Moretti teria se reunido com investigados da Abin e dito que a apuração da PF sobre o caso tinha "fundo político" e "iria passar". Um relatório da PF afirma também que a direção da agência teria participado da construção de uma "estratégia em conjunto" com os investigados.

Moretti havia sido diretor de inteligência da PF no último ano do governo Bolsonaro e secretário-executivo de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, na Secretaria de Segurança do Distrito Federal de 2019 a 2021.

Mais cedo, Lula havia dito que, se fosse provado que Moretti mantinha contato com Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin no governo Bolsonaro e também no alvo da PF, "não há clima" para que ele seguisse como diretor-adjunto da agência.

O novo diretor-adjunto da Abin será Marco Cepik, atual diretor da Escola da Inteligência da Abin, segundo relatos da imprensa brasileira.

Suposto esquema de espionagem

A PF vem investigando um suposto esquema de monitoramento de celulares operado pela Abin durante a gestão Bolsonaro.

Em 25 de janeiro, Ramagem, hoje deputado federal pelo PL e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, foi alvo de mandados de busca e apreensão em seu apartamento e gabinete na Câmara. Segundo o jornal O Globo, os policiais apreenderam seis celulares e quatro notebooks em seu apartamento, além de 20 pen-drives e documentos.

No âmbito da mesma investigação, nesta segunda-feira Carlos Bolsonaro, vereador carioca e filho do ex-presidente, também teve a sua casa e seu gabinete na Câmara Municipal do Rio de Janeiro vasculhados. Assessores de Carlos e de Ramagem também foram alvos de busca e apreensão.

A PF acredita que os investigados pediriam informações para Ramagem durante o período que ele comandou a Abin no governo Bolsonaro. 

De acordo com a investigação, o monitoramento de celulares era feito com o software israelense FirstMile, adquirido pela Abin em dezembro de 2018, no final do governo Michel Temer, por R$ 5,7 milhões. Segundo a Abin, o software não está mais em uso desde maio de 2021.

A ferramenta obtém a geolocalização de dispositivos móveis sem autorização judicial, apenas informando o número do celular. O sistema permite rastrear o paradeiro de pessoas, acessar o histórico de deslocamento, criar alertas personalizados e identificar se duas ou mais pessoas rastreadas se reuniram.

A apuração da PF concluiu que esse sistema foi usado durante o governo Bolsonaro para espionar adversários do ex-presidente, jornalistas, autoridades públicas e ministros do STF.

Integrantes da PF afirmaram ao portal G1 que, entre as pessoas monitoradas, estavam os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o ex-governador do Ceará Camilo Santana, atual ministro da Educação.

"Estrutura paralela"

Segundo a PF, o monitoramento era feito por uma "estrutura paralela na Abin", que usava ferramentas da agência para ações ilícitas, "produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".

O FirstMile permite a consulta de até 10 mil aparelhos de celular a cada 12 meses. Em outubro, a PF afirmou que o sistema havia sido usado mais de 30 mil vezes, incluindo 2,2 mil usos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Bolsonaro.

bl (ots)