Lukashenko reeleito em Belarus com 80% dos votos
9 de agosto de 2020Pesquisas de boca de urna indicam que o presidente do Belarus, Alexander Lukashenko, no poder há mais de 25 anos, foi reeleito neste domingo (09/08) com quase 80% dos votos, derrotando a candidata Svetlana Tikhanovskaya, cuja campanha deu novo impulso ao movimento de oposição no país.
Segundo a pesquisa oficial, Lukashenko obteve 79,7% dos votos, enquanto Tikhanovskaya recebeu apenas 6,8%. A votação não pôde ser acompanhada por observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que visa a promoção da democracia e dos direitos humanos no continente. Vários países europeus, incluindo a Alemanha, criticaram o processo eleitoral em Belarus que excluiu dois dos principais candidatos à oposição.
A opositora havia recomendado a seus eleitores que fossem ás urnas no final da votação, para que as autoridades tivesse menos tempo para "falsificar os resultados". A chefe da Comissão Eleitoral do país, Lidia Yermoshina, decunviou a atitude como uma "provocação organizada", mas prometeu manter as seções de voto abertas para garantir que todos pudessem votar
Cerca de 6,8 milhões de pessoas foram convocadas a participar do pleito. A atmosfera na capital Minsk era tensa, com forte presença da polícia e das forças especiais do governo nas ruas. Diversas pessoas relataram problemas para se acessarem a internet no país.
Tkhanovskaya foi escolhida para concorrer depois que as autoridades impuseram forte repressão contra figuras da oposição, incluindo seu marido. O principal rival de Lukashenko, Viktor Babariko, foi preso por acusações de fraude e peculato.
As autoridades bielorrussas detiveram mais de mil manifestantes desde o início da campanha eleitoral em maio, segundo o grupo de direitos humanos Viasna. Jornalistas também foram detidos durante a campanha, incluindo o correspondente da DW Alexander Burakov. Nas semanas anteriores ao pleito, protestos foram interrompidos pela polícia e centenas de manifestantes e ativistas foram presos.
Também a diretora de campanha de Tkhanovskaya, MariaMoros, foi presa neste sábado, juntamente com uma das principais aliadasda candidatadaoposição,MariaKolesnikova.
Ainda antes do fechamento dos locais de votação, a oposição convocou passeatas pacíficas contra fraudes eleitorais para este domingo. Também neste domingo, três funcionários da emissora de televisão russa crítica ao Kremlin Doschd foram presos em Minsk.
"Último ditador da Europa"
Lukashenko, chamado de "o último ditador da Europa", conquistou seu sexto mandato consecutivo– mas analistas dizem que o homem forte pode enfrentar uma nova onda de protestos por causa de sua gestão da pandemia de coronavírus, a crise econômica e os abusos aos direitos humanos.
Belarus, um país de 9,5 milhões de habitantes, tem oficialmente mais de 68 mil casos de covid-19 e cerca de 580 mortes. Críticos afirmam que os números foram manipulados e que a situação real é bem pior. Lukashenko anunciou no mês passado que foi infectado pelo novo coronavírus, mas não apresentou sintomas. Ele defende sua gestão da pandemia e afirma que um lockdown teria piorado ainda mais a situação econômica.
Antes da votação, Lukashenko advertiu que a dissidência não seria tolerada e que ele não desistiria de sua "amada" Belarus. "Não vamos dar o país a vocês", disse Lukashenko, se referindo a seus oponentes, ao falar à nação no início desta semana.
Lukashenko, de 65 anos, é um ex-gerente de fazenda coletiva soviética que governa o país desde 1994.
Svetlana Tikhanovskaya, concorreu no lugar de seu marido preso, o blogueiro Sergei Tikhanovsky, e, apesar da inexperiência política, representou o maior desafio já imposto a Lukashenko. Os comícios dela atraíram algumas das maiores multidões observadas no país desde a queda da União Soviética, em 1991. A candidatura deu origem a um novo movimento informal de protesto.
A ex-professora de inglês de 37 anos, originária de uma pequena cidade do sudoeste de Belarus, disse que não tem interesse em política. Ela fez campanha prometendo tirar Lukashenko do poder, libertar prisioneiros políticos (incluindo seu marido) e reduzir a dependência do país da Rússia. Entretanto, ela mesma já admitia não ter esperanças de que as votações ocorressem sem fraudes.
Tikhanovskaya prometeu que, caso fosse eleita, iria deixar o cargo em seis meses para a realização de uma nova votação presidencial livre, que permitiria que oposicionistas que tiveram direitos políticos cassados concorressem ao posto mais alto de Belarus.
RC/afp/dpa/rtr/ap
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