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Livro gera discussão sobre "nova feminilidade"

Carlos Albuquerque12 de setembro de 2006

Novo livro da apresentadora Eva Herman vem provocando acirradas discussões na Alemanha devido a suas teses antifeministas. Segundo a mídia, Herman não somente enerva, mas também atinge o "nervo do tempo".

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Intencionalmente ou não, Eva Herman polemizaFoto: picture-alliance/dpa

Após a polêmica em torno do novo livro de Günter Grass, agora é a vez de Eva Herman, apresentadora do mais importante noticiário da televisão alemã, lançar a sua com o livro Das Eva-Prinzip. Für eine neue Weiblichkeit (O princípio Eva. Por uma nova feminilidade, Pendo, 2006).

Assim como no caso de Grass, a iniciativa de Herman, intencional ou não, funcionou mercadologicamente. Os primeiros 50 mil exemplares já foram vendidos na sexta-feira (08/09), dia de lançamento do livro. Os 50 mil da segunda edição deverão chegar às livrarias ainda nesta semana e o papel para outros 50 mil já foi encomendado, informou o editor ao Spiegel Online.

Segundo o crítico de literatura Holger Noltze, da emissora de televisão WDR, a fórmula é fácil: uma pessoa conhecida nacionalmente retrata de forma provocadora um tema que sempre chama atenção – a temática homem-mulher. As teses de Herman, que a mídia alemã vem chamando de "de volta ao fogão", provocam reações e, conforme recentes pesquisas, dividem a nação.

Licenciada para trabalhar

Para promover seu novo livro, a apresentadora de 47 anos, casada pela quarta vez e mãe de um filho, licenciou-se do Tagesschau, o "Jornal Nacional" da televisão alemã, para o qual já trabalha há 18 anos. Em O princípio Eva, Herman faz uma abordagem mais abrangente de seu artigo A Emancipação – um erro?, publicado na revista Cicero, em maio último.

Jungunternehmerin mit Kind (Anja)
Para Herman, carreira profissional não combina com a tarefa de genitoraFoto: Bilderbox

"Na Alemanha, praticamente não nascem mais crianças. [...] Façamos um levantamento de quase meio século de feminismo e emancipação. Nunca houve tantas separações como hoje. [...] Na luta profissional com o homem, as mulheres estão no final de suas forças. [...] É a mulher que através da compreensão de sua tarefa de genitora deve cuidar da união familiar. [...] Ninguém defende o direito por um papel tradicional de mulher e mãe. Ninguém quebra o tabu", explica Herman em seu artigo.

Para Holger Noltze, a leitura do artigo já é suficiente para conhecer as teses publicadas no novo livro de Herman, que não passou despercebido na mídia alemã. Como afirma o Hamburger Abendblatt, revistas como a Stern e jornais como Süddeutsche Zeitung, FAZ e até mesmo o Die Zeit, com seu especial "Nós precisamos de um novo feminismo", se propuseram a tratar do assunto.

Para Henryk Broder, jornalista da Spiegel, a atenção prestada a Herman "não se deve à originalidade de suas teses, mas ao fato de que é cada vez maior o número de mulheres que assumem ter escolhido uma direção errada para suas vidas."

Eva Herman se sente incompreendida

Segundo uma recente pesquisa do Instituto Emnid, cerca de 50% dos alemães concordam com a posição de Herman e acham que cuidar da harmonia do lar, das crianças e da família são tarefas da mulher. Uma cifra que aumenta para 76% entre as pessoas de baixa escolaridade. A maioria dos alemães que discordam disso (64%) tem nível escolar médio ou universitário.

Na apresentação de seu livro, Herman se declarou incompreendida por aqueles que reduzem suas teses ao slogan "de volta ao fogão". Na ocasião, ela afirmou ser contra qualquer forma de discriminação contra a mulher.

Uma simples questão promocional, afirma Alice Schwarzer

Alice Schwarzer, a mais famosa defensora dos direitos femininos na Alemanha, classifica como "uma tremenda bobagem" as afirmações de Herman. Tal "lero-lero de voltar ao lar – por falar nisso, vindo principalmente de mulheres que fizeram carreira" seria pura provocação e uma simples questão promocional.

Alice Schwarzer
Schwarzer :a opinião de Herman é 'uma grande bobagem'Foto: dpa

"Por que temos que reinventar o feminismo a cada 20 anos? O que precisamos é de um novo elã para finalmente colocarmos o feminismo em prática", explicou a editora da revista Emma em seu site de internet.

Schwarzer acrescenta que as mulheres de hoje pretendiam fazer melhor do que suas mães, muitas vezes divididas entre o trabalho e a família, na visão de suas filhas.

Carreira, criança e manequim 38

"Só que elas talvez tenham se iludido e não reconheceram que tudo é fruto de muito trabalho. Alguém lhes disse que elas eram capazes de ter 'tudo' e de uma vez só: carreira, crianças e um eterno manequim 38." Na opinião de Schwarzer, a mulher hodierna tem que aceitar meios-termos: "As feministas acham, entretanto, que não devem chegar a esses meios-termos sozinhas – mas sim juntamente com os homens".

Uma opinião também compartilhada por autores como Simone Schmollack, presentes na mesa-redonda na emissora de tevê RBB, na última quinta-feira (07/09). Para Schmollack, debates como o provocado por Eva Herman podem vir a acirrar ainda mais as frentes entre homens e mulheres.

"O princípio Eva é sobretudo autopromoção. Em vez de ler o livro, homens e mulheres deveriam aproveitar o tempo para conversar um com o outro sobre como formar sua vida conjugal, de modo que seja prazenteira para ambos", resumiu a RBB seu debate.