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Libertação de sargento e negociação com o Talibã geram polêmica nos EUA

5 de junho de 2014

Ex-companheiros acusam Bergdahl de deserção, e cidade natal suspende festa de boas-vindas temendo tumultos. Secretário de Defesa diz não ter havido tempo de informar Congresso.

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Vídeo de 17 minutos divulgado por talibãs mostra libertação de BergdahlFoto: REUTERS/Al-Emara

A cidade onde vivia o sargento americano Bowe Bergdahl anunciou, nesta quarta-feira (05/06), o cancelamento da festa de acolhida que estava programada para o militar, alegando razões de segurança. A administração da localidade de Hailey, de 8 mil habitantes, no estado de Idaho, argumentou não ter estrutura suficiente para atender o público que vai aguardar a chegada do soldado.

Há temor de tumultos provocados por multidões tanto contra como a favor do militar. A cidade tem sido abalada por e-mails e ligações de protesto de pessoas que acusam Bergdahl de deserção. "Se você tem 10 mil pessoas, 5 mil de um lado e 5 mil do outro, devido à atenção nacional não sabemos o que podemos esperar", afirmou o chefe de polícia local, Jeff Gunter. Hailey havia programado um evento de boas-vindas a Bergdahl para o dia 28 de junho.

A presidente da câmara de comércio da cidade, Jane Drussel, afirmou que ela e sua entidade receberam mensagens ofendendo a cidade e chamando o sargento de traidor e antiamericano. "De repente, a alegria se tornou não tão alegre assim", desabafou.

Bowe Bergdahl US Soldat Austausch in Afghanistan
Soldados americanos apertam mão de talibãs antes de levarem sargento a helicópteroFoto: REUTERS/Al-Emara

Operação levantou controvérsia

A libertação de Bergdahl no sábado, após cinco anos no poder de combatentes talibãs no Afeganistão, provoca controvérsias nos EUA. Ela foi fruto de uma troca envolvendo a transferência de cinco presos de Guantánamo para o Catar.

Políticos da oposição acusam o presidente Barack Obama de violar uma lei, assinada pelo próprio presidente, que define que o Congresso deve ser informado sobre tais medidas com 30 dias de antecedência. Além disso, há acusações de ex-companheiros de Bergdahl, afirmando que ele teria desertado, tendo deixado uma base americana no Afeganistão desarmado e sem permissão, antes de ser capturado pelos talibãs.

Republicanos também afirmam temer que a troca sirva de incentivo ao Talibã para futuros raptos de soldados americanos. "Os Estados Unidos mantiveram por boas razões uma política de proibição de negociação com terroristas", afirmaram o deputado Buck McKeon e o senador James Inhofe, dos comitês para as Forças Armadas nas duas câmaras do Parlamento. A negociação poderá ter consequências para os soldados que ainda estão no Afeganistão, acrescentam.

Em entrevista divulgada nesta quinta-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, afirmou que não houve tempo para informar o Congresso sobre a negociação de libertação, porque havia risco de vida para o suboficial.

O especialista William C. Banks, diretor do Instituto para Segurança Nacional e Contraterrorismo, argumenta que o presidente tem a obrigação constitucional de conduzir a política externa americana, e que essa obrigação se sobrepõe à necessidade de informar o Congresso. "O presidente deu uma explicação justa sobre a sensibilidade das negociações. Deveríamos estar satisfeitos com isso."

Antes de assinar a lei, o presidente divulgou um dispositivo, conhecido como Signing Statement na legislação americana, no qual reserva-se o direito de ignorar o prazo de 30 dias em caso de circunstâncias extremas.

Sobre as acusações contra o sargento, Hagel destacou ser necessário esperar os resultados das investigações. "O Exército realizará uma extensa investigação sobre todas as circunstâncias ligadas ao desaparecimento do suboficial Bergdahl", garantiu Hagel em entrevista à BBC, transmitida nesta quinta-feira.

O especialista em segurança interna Stephen Biddle, da Universidade George Washington, considera a crítica de que a negociação incentivará futuros raptos sem fundamento, afirmando que os talibãs não precisam de incentivo para raptar soldados americanos. "O limite de quantos eles vão pegar é quantos eles conseguirem pegar."

"Decisão unânime"

Hagel afirmou que a administração Obama teve que agir rapidamente e sem consultar o Congresso, argumentando que havia perigo de vida para Bergdahl. Ele disse também que a decisão de negociar com os talibãs foi unânime na Casa Branca, tendo o apoio dele, do secretário de Estado e do chefe do serviço de inteligência dos EUA.

Bergdahl foi o único prisioneiro de guerra americano no Afeganistão. Os talibãs divulgaram nesta quarta-feira um vídeo de 17 minutos mostrando o momento em que um tenso e abatido Bergdahl é entregue no deserto afegão a integrantes das forças especiais americanas, embarcando a seguir num helicóptero militar. Antes de ele ser entregue, um dos guerrilheiros talibãs avisa, em inglês, "não volte mais ao Afeganistão, você não vai sair vivo da próxima vez". O sargento ainda se encontra num hospital militar na Alemanha, e não foram divulgadas informações de quando ele viaja de volta ao seu país.

USA Verteidigungsminister Hagel in Saudi Arabien 14. Mai 2014
Hagel disse que vida de Bergdahl estava em perigoFoto: Reuters

Prisioneiros soltos deverão voltar ao Talibã

Em Washington, Rob Williams, oficial da inteligência americana para Ásia, afirmou diante do comissão de inteligência do Senado que quatro dos cinco prisioneiros transferidos ao Catar devem reassumir funções entre os talibãs, de acordo com dois membros do Congresso que falaram em condição de anonimato, pois a sessão era confidencial.

Os cinco incluem o ex-ministro do Interior talibã, descrito em documentos revelados pelo WikiLeaks como alguém que mantinha relações estreitas com Osama Bin Laden; o ex-vice-chefe de inteligência talibã; além de um ex-membro de uma célula de cooperação entre o Talibã e a Al Qaeda.

Mas o especialista Biddle afirma ser improvável que a soltura dessas cinco pessoas eleve o perigo representado pelo Talibã, justamente por elas estarem inativas há mais de uma década por causa da detenção.

MD/rtr/ap/dpa/dw