Energia atômica
30 de março de 2011As usinas nucleares do Leste Europeu são seguras, afirmam os governos dos países da região, e essa posição raramente é questionada pelas populações locais. Em quase todos os países, os argumentos oficiais a favor da energia atômica são parecidos: "A tecnologia nuclear nos torna independentes energeticamente" e "nossas usinas são seguras".
Duas semanas e meia depois do desastre nos reatores nucleares de Fukushima, nações como Hungria, Romênia, Polônia, República Tcheca e Turquia não veem razão para paralisar seus planos de adoção ou expansão da energia nuclear.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, que desde 2007 pressiona pela construção de usinas nucleares, alega que o acidente no Japão não foi causado por uma pane numa central nuclear, mas foi consequência de um terremoto seguido de um tsunami.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, é ainda mais contundente. "Um terremoto também pode danificar outras coisas. Pontes, por exemplo. Devemos agora parar de construir pontes?", argumenta.
Maioria de turcos é contra a energia atômica
A Turquia, assim como a Polônia, deseja entrar na era nuclear. Mas, ao contrário da Polônia, o país é considerado área com fortes possibilidades de acontecer um terremoto. E, enquanto 65% dos poloneses são a favor da energia nuclear, o governo turco não dispõe da mesma aceitação. Pesquisas mostram que 60% dos turcos são contra os planos de Erdogan de construir duas centrais atômicas.
Também a Romênia continua com seus planos nucleares. A usina nuclear de Cernavoda, a cerca de 165 quilômetros de Bucareste, deverá ganhar mais dois reatores. Até agora não foram registrados incidentes na central, mas a Romênia é considerada área de risco de terremotos.
Poucos dias depois do desastre no Japão, a Comissão Europeia anunciou que os novos reatores em planejamento em Cernavoda devem ser construídos com uma maior resistência a terremotos do que os antigos.
"A central nuclear de Cernavoda deve resistir, conforme o projeto, a um terremoto de 8 graus na escala Richter. De acordo com alguns novos testes, resiste mesmo a um terremoto de amplitude de 8,5 graus", garante Lucian Biro, presidente da agência romena responsável pela energia atômica. "Isso quer dizer que estamos até melhor preparados do que o previsto inicialmente", diz.
O apelo da Comissão Europeia por padrões mais elevados de segurança nas usinas nucleares, após o desastre no Japão, é compreensível, diz Biro. De acordo com a agência nuclear romena, Cernavoda está entre as 50 centrais nucleares mais seguras do mundo.
Hungria esbarra em falta de investidores
A energia nuclear é a energia do futuro, afirma o governo húngaro, e descarta o abandono dessa alternativa. Já há algum tempo Budapeste considera até mesmo uma expansão da atual usina nuclear na pequena cidade de Paks, mas esbarra no problema da falta de investidores. Conforme informações do governo, a unidade foi modernizada nos anos 90, se tornando resistente a terremotos, já que a Hungria enfrenta pequenos tremores de tempos em tempos.
Os reatores tchecos de Temelin são também à prova de terremotos, afirmam os responsáveis pela central. O primeiro-ministro tcheco, Petr Necas, afirma que seria uma "manobra barata" tirar a tranquilidade da população depois do acidente em Fukushima. "A República Tcheca não sofre a ameaça de ser atingida por um tsunami", ironiza o político. O país planeja ampliar as centrais já existentes, assim como a Eslováquia.
Já os planos do governo búlgaro para a construção de uma segunda usina nuclear em Belene, região sujeita a terremotos e localizada nas margens do Rio Danúbio, foram abalados pela tragédia no Japão. Uma semana atrás, o ministro da Energia, Traicho Traikov, anunciou que exigiu da fabricante russa Atomstroyexport garantias adicionais para os dois reatores encomendados. O projeto Belene deve ser paralisado por três meses, afirmou pouco depois o primeiro-ministro, Boiko Borisov.
"Estamos conversando com o lado russo. Espero que possamos assinar nesta quinta-feira (31/3) um memorando sobre a moratória de três meses. Até o final desse prazo, todas as questões técnicas sobre riscos sísmicos e custos devem ser resolvidas", disse Borisov.
Planos continuam, apesar de panes
O governo búlgaro também está considerando um plano B. A usina nuclear de Kozloduy, já existente, pode ser ampliada, recebendo os dois reatores encomendados da Rússia.
O projeto Belene é criticado por ambientalistas há algum tempo. A maioria dos búlgaros, no entanto, apoia a energia nuclear. Mesmo após o desastre no Japão, 51% da população continuam a favor da expansão dos projetos nucleares, enquanto 45% são contra.
Apesar de a Croácia não ter usinas próprias, a empresa croata Hrvatska Elektroprivreda (HEP) possui uma parcela de 50% da propriedade da controversa central de Krsko, na vizinha Eslovênia. A instalação, a cerca de 40 quilômetros de Zagreb, é considerada especialmente sujeita a terremotos. Os operadores de Krsko repetidamente tem enfatizado que a unidade é equipada para resistir a terremotos de magnitude 7,2 na escala Richter.
Mas, mesmo sem catástrofes naturais, a usina não é totalmente protegida contra acidentes. Quarta-feira passada, a central de Krsko se desligou automaticamente. A pane se deveu a uma interrupção na linha de alimentação de Zagreb, segundo uma porta-voz. Dois dias depois, uma tentativa para reiniciar as operações fracassou. Uma segunda tentativa para ligar a central será feita ainda nesta semana.
Autora: Blagorodna Grigorova (md)
Revisão: Alexandre Schossler