Ler com os dedos
7 de janeiro de 2009
Todo mundo pode encontrar em casa algum exercício de escrita braille. Na Alemanha, quem tiver uma caixa de remédio em mãos já pode tentar sentir com os dedos os pontos em relevo. Uma dica: com os dedos é mais rápido do que com os olhos.
Isso é para ler?
Encontrar o lugar com o tato não é difícil. Mas reconhecer com a ponta dos dedos a quantidade e a ordem dos pontos elevados – bem, aqui grande parte dos analfabetos em braille tem que capitular. Mas tudo é questão de prática, garante Eskandar Abadi, linguista e redator da Deutsche Welle. Ele considera o braille genial: "Por trás dessa codificação há um sistema muito elaborado".
Seis pontos – 64 possibilidades de combinação
Na escrita braille, cada sinal é representado por um esquema de três pontos na altura e dois na largura, formando um conjunto de seis posições, que podem ser salientes ou não. Isso gera 64 combinações. O braille não é uma língua autônoma. Ela codifica os signos existentes numa língua natural. A versão original foi criada para o alfabeto latino, mas também existem versões para o russo, chinês e persa.
Aprender a ler com os dedos
Persa é a língua materna de Eskandar Abadi: "Venho do Irã, onde pude aprender o braille no asilo de cegos de uma missão alemã". Trata-se da Assistência aos Cegos Christoffel, cujo fundador – pastor Ernst Jakob Christoffel – desenvolveu e introduziu no Irã uma versão persa do braille.
Velocidade não é bruxaria
Eskandar Abadi, deficiente visual de nascença, aprendeu o braille na infância. Para ler, seja em alemão ou em persa, ele passa o dedo indicador rapidamente pela linha de pontos, com a mão direita à frente e a esquerda atrás, como uma espécie de controle. Entre os deficientes visuais também há leitores mais lentos e mais rápidos. E pessoas mais velhas também tendem a ter maior dificuldade de aprender o braille do que os jovens.
Nunca é tarde para aprender
Não há por que se desencorajar, no entanto, observa Renate Reymann, presidente da Federação Alemã de Cegos e Deficientes Visuais (DBSV). Ela começou a perder a visão aos poucos, a partir da metade da vida.
"Aprendi o braille numa associação de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Para mim, foi como ir para a escola aos seis anos." As recordações surgiram de imediato: "Como a gente suava, quando criança, para juntar as letras numa palavra, e no final às vezes nem sabia direito que palavra era."
Chave para uma vida própria
Hoje, Renate Reymann sabe ler o braille fluentemente, e com rapidez. "Os cegos precisam da alfabetização tanto quanto as pessoas com visão. Não posso imaginar uma vida somente através da audição."
Isso vale tanto para a participação na vida profissional como para o acesso à educação e literatura, à informação e entretenimento. E também torna possível levar uma vida própria sem auxílio permanente de terceiros: "Preciso do braille como orientação, seja para etiquetar os temperos na cozinha ou a minha coleção de CDs. Como fazer isso com a língua falada?"
Tour de Braille – 2009, ano Braille
Em comemoração aos 200 anos do nascimento de Louis Braille, Renate Reymann e a DBSV lançaram o "Tour de Braille". Tudo começa com uma festa na Embaixada Francesa em Berlim e culmina em um festival a ser realizado no final de agosto, em Hannover. Até lá estão programados mais de 200 recitais em braille, para grande e pequeno público, em toda a Alemanha.
Braille indispensável – apesar do computador
"Com essa maratona pretendemos atingir duas coisas", ressalta Reymann. "Queremos gerar mais motivação interna, para nós mesmos: aprendam o braille, tirem proveito! E também queremos dar um sinal para fora: olhem, esse é um passo importante! Precisamos do braille apesar de toda a tecnologia digital, apesar dos livros eletrônicos e de tudo o que existe no mercado."
Ler Kant, ouvir Harry Potter
Eskandar Abadi é da mesma opinião, mesmo que ele saiba lidar virtuosamente com a tecnologia moderna no trabalho, com a linha de braille sob o teclado do computador, com um leitor de tela capaz de traduzir sites da internet em som. "Eu, por exemplo, ouço muita coisa que me conta o meu estranho conversor de linguagem, mas quando quero ter certeza mesmo, para coisas mais definitivas, tenho que ler em braille". Quando ele lê Kant, só mesmo com os dedos. Já Harry Potter dá para ouvir como audiolivro ou por meio do conversor, afirma Abadi: "Isso, depois de a minha filha insistir muito."